Seria o caso de a vida ensinar a
não ter? Porque não devo estar sozinho quando me penso dentre aqueles que já
desejaram aquilo que não tiveram, mais porque me negaram do que porque não
assumi que quis.
Então querer não basta? Ou será
que erramos ao nos deixarmos abater pela frustração de não termos alcançado o
sonho – ou o desejo – que dependia de mais do que do nosso talento para fazer
acontecer? Porque querer não é exatamente poder.
A vida é essa série de circunstâncias
vindas de uma série de variáveis (e que trazem outra séria de tantas variáveis,
como oportunidade, sagacidade, coragem, ousadia, medo) que podem fazer toda a
diferença. É preciso estar pronto, preparado e disposto. Mas nem sempre basta
estar pronto, preparado e disposto. Muitas vezes diremos, confessaremos mesmo,
pediremos, insistiremos, mas não seremos ouvidos. E a culpa não é nossa. A vida
encontra diferentes planos, diferentes quereres em cada pessoa que cruza a
história da outra sem que saibamos quem vem para ficar.
Cada uma dessas pessoas traz
consigo novas possibilidades de vida, de aprendizado de nós sobre nós mesmos e
sobre o mundo que nos cerca. A cada encontro com a vida e com as pessoas que a
vida traz (apenas por assim dizer), nos renovamos em quem somos, ainda que
muitas vezes sintamos como se desde sempre fôramos aquele que estamos. E são
essas chegadas e as sucessivas partidas que fazem com que tenhamos que entender
que a vida vive porque ela não tem outra escolha que não seja viver.
Na medida em que a vida nos surge
e vive – e nos aflige! – vamos descobrindo sobre nós, que muitas vezes somos
tomados de rompantes e logo nos sabemos desejosos de sermos mais. Algumas vezes
mais do que o um que nos cansa, outras mais do que a personagem que desencanta.
E então nos abrimos para essas
possibilidades de outras vidas que modificarão a nossa forma de vida. E é o que
nos cabe. É o que nos resta. Porque daí, devemos, sim, sair do deserto de nós
mesmos para nos expormos à vida que queremos. Não sendo assim, jamais haverá
outra vida, mas, a eterna repetição do enfado e da tristeza e de uma melancolia
dolorosa. É quando criamos a coragem de nos mostrarmos pra vida – e, se for o
caso, pra quem seja o outro que nos comoverá (que “moverá nosso coração”) no
sentido cujo destino, mesmo querido, ainda surpreenderá.
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