Vivemos uma era de acentuação de carências
já tão acentuadas. É cada vez maior o medo de nos descobrirmos (ou nos entendermos)
sós. E é quando as redes sociais mostram-se instrumentos aptos tanto para nos
sentirmos cercado de muitos, quanto para alimentar essa carência de precisarmos
desses tantos.
Sim, porque é fato que estamos
hiperconectados e, com isso, na possibilidade de sabermos de tanta gente, ao
mesmo tempo em que tanta gente tem essa mesma possibilidade de “ser sabida” por
essas e outras várias. É tanta-gente-ao-mesmo-tempo-junta que acaba se
sucumbindo à necessidade de requerer atenção a tal ponto de se temer a falta
dela.
Ou também não é fato que estamos
sempre postando o mesmo que outros postam, cada um ao seu jeito? As mesmas poses,
mesmas campanhas, mesmas hashtags,
tudo o que nos dá a sensação de pertencimento ao que parece ser maior e mais
forte do que nós.
Só que é tanta gente fazendo
isso, tantas postagens, tantos stories,
tanta satisfação sobre onde está, o que faz, o que come, tantos atestados do
quanto se é feliz, que acabamos na impressão de que não se existe fora desse
mundo em que todo mundo existe.
Por isso que postamos e, não
raro, ficamos ansiosos pelas curtidas, pelos comentários, por todo feedback (positivo) que nos dê a
impressão de que não passamos por esse mundo em vão, mas sim, que a nossa
presença é reconhecida e que alguém sabe que nós existimos.
Nos mostrarmos, como se faz nas
redes e mídias sociais, é uma garantia de sabermos desses olhos postos sobre
nós, de nos pensarmos relevantes de alguma forma. É um jeito de garantir uma
vitrine capaz de chamar a atenção de quem não passará por onde a gente esteja
sem se dar conta de que ali há alguém para se ver.
E é quando nos mostramos mais
bonitos e procurando mostrar os nossos melhores talentos, sorrindo nossos
melhores sorrisos, dando testemunho de vivermos as melhores vidas, quase como
um atestado de que essa vida só aconteceu porque soubemos escolher as melhores
escolhas. Garantindo que quem nos veja, veja como queremos ser vistos e pelo
quê queremos ser vistos, não importa se somos realmente entendidos ou apenas imaginados.
Mas não seria melhor a certeza da
vida real à hipótese da vida ideal? Será
que somos justos conosco? Fazemos bem em aderir a essa nova forma de vida cuja
existência mais relevante é a do nosso avatar
a do nosso dia-a-dia? Nessa forma de existir em que mais vale ser visto por uma
tela do que sentido enquanto presença? Que nos faz duvidar, inclusive, se haverá
quem nos queira, nos aceite? Não é cruel nos mostrarmos tanto, muitas vezes porque
temos dúvida de que alguém nos veria se não lhes obrigássemos a nos ver? Temos
que ser mais do que isso. Nós somos mais do que isso. A vida é, certamente, mais
do que isso.
Quando a gente realmente acha que
precisa se mostrar para que alguém possa nos ver, nos notar ou nos saber,
apenas atestamos vivermos de modo desinteressante. Mas a responsabilidade é
toda nossa. Cabe à gente cuidar de viver de tal forma que os olhos nos procurem
e nos encontrem e até se sintam atraídos por quem existe sem que precise pedir
que lhe percebam.
Então te pergunto: você precisa mesmo se
mostrar para que alguém tenha motivos pra te ver?
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