Uma das escolhas que temos que fazer
todos os dias de nossa vida diz respeito ao papel que queremos desempenhar na
nossa história e, nesse caso, temos duas escolhas possíveis: ou seremos protagonistas
ou meros coadjuvantes da nossa existência.
Viver dói. Viver exige. Viver
impõe um agir constante em direção a um destino querido, mas incerto. Só que as
duas outras opções estão longe de parecerem melhores. Isso porque se não
vivemos só nos resta ou morrer ou sobreviver.
Ora, após a morte não resta vida
e se não há vida, não há mais nada e, portanto, o pós-morte é o insondável e
impalpável que não interessa. Agora, sobreviver é muito mais do que se faz e,
se viver dói, lutar para se fazer vivo pode ser muito pior.
Quem sobrevive não vive as
próprias circunstâncias. Luta contra as forças que lhe açoitam, lhe machucam.
Quem sobrevive faz o que resta ser feito e não pode escolher aquilo que fará na
sequência. Quem sobrevive não dá as cartas, só recebe e é com elas que tem que
jogar, com a certeza única de que a maior chance que tem é de perder. Quem
sobrevive não vive, só se mantém vivo.
E aqui entram e se separaram
protagonistas e coadjuvantes. Ambos com papeis importantes em toda produção.
O coadjuvante é aquele que
escolhe ser adjutor. É aquele que goza a felicidade alheia. Não faz grandes
planos para si, mas folga em que os que estão a sua volta sejam completos e
contemplados nas aspirações deles. O coadjuvante não se destaca, não marca, não
ganha. No máximo empata. O coadjuvante não tem a sensação de ser grande e o
prazer de ser o primeiro. Geralmente o coadjuvante não tem, sequer, a vocação
para ser o primeiro. A guisa de se mostrar bem resolvido, tende a esconder uma
autoestima afligida por tempos de descuido de outrem, uma autoestima flagelada
que lhe impede a altivez da cabeça e dos ombros erguidos, em troca de uma
postura de quem ri para o chão porque geralmente olha para os pés. O coadjuvante
é o que sobrevive. O que rema no sentido da maré e a favor da correnteza, mesmo
que o final seja ser engolido por águas bravas que jamais lhe deixarão emergir
e que lhe riscarão de uma história que nunca teve.
Diferente do protagonista. O
protagonista vive. O protagonista não se basta no que lhe é dado, mas toma para
si o que se tem imaginado. O protagonista não vive um relacionamento de
conveniência e nem se nega desejos em nome de alguma pseudomoral. O
protagonista não deixa de fazer porque deixar de fazer lhe custa a vida que
sempre lhe urge. Ele não tem medo do erro e nem da dor. E nem da morte. A morte
lhe dá pena porque a morte de alguém como ele soa desperdício. O protagonista
enfrenta, rebela-se, insurge-se, cerra os punhos e os dentes, não para, não
cansa, não desiste porque sabe que tudo o que quer depende de tudo o que faz. O
protagonista não tem medo do preço, ele paga o preço. Não tem medo do futuro: ele encara o presente sabendo onde quer chegar e por isso vai. O protagonista
chega ao topo porque pra ele, o topo é só mais um degrau onde ele tem que
chegar e, pra isso, ele faz o que tem que fazer. O protagonista não se basta em
ter que ser. O protagonista é.
Em tudo isso, o ser ou não ser da
existência é a escolha primeira de quem anseia viver.
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