“Todo mundo é um gênio. Mas se você julgar
um peixe por sua capacidade de subir em árvores ele vai gastar toda a sua vida acreditando
que ele é estúpido.” (frase atribuída a Albert Einstein)
Não queremos uma vida curta.
Logo, ansiamos uma vida longa. Mas seja curta ou seja longa, a vida é vivida um
dia de cada vez. E se ela é vivida um dia de cada vez, todo dia é dia de optar,
de fazer, de escolher, refletir e refazer. Principalmente de fazer e refazer.
Digo isso porque quero falar do
que tem me parecido uma das causas de angústia de muitas pessoas: o caminho do
sucesso. Mas aqui eu quero ser um pouco mais específico e falar do que muitos
consideram um exemplo de ter sucesso: a aprovação em um concurso público.
Num país economicamente instável
como o Brasil, é natural que a maioria das pessoas anseiem a aprovação que lhes
garanta a ocupação de um cargo que se não tem os maiores salários (comparados a
certos ganhos na iniciativa privada) ao menos dão a segurança de que sempre
haverá salário.
Contudo, especialmente no mundo
do Direito – mundo em que me vejo inserido de forma mais objetiva – percebo uma
grande inversão de valores no que diz respeito às aprovações em concursos
públicos: muitos que são aprovados passam a ser tratados – e, consequentemente,
passam a se considerar – como gênios da espécie humana, como se essa aprovação
tivesse alguma relação com um talento inato da arte do saber. Podemos dizer,
inclusive, que a partir do momento em que alguns passam a ser tratados por
Excelência, também passam a ser sentir excelentes.
Acontece que nesse mister, eu
prefiro me fiar mais (ou apenas) nos profissionais do assunto do que nos
protagonistas dessa autoestima “(in)justificadamente” alta em relação aos seus
mecenas intelectuais. Não por um acaso, é palestra comum a todos os professores
dos cursos preparatórios, a analogia do concurso a uma competição de
resistência, segundo a qual aquele que não desistir antes do fim será premiado
(ou seja, o concurso é quase uma prova do líder do BBB). Assim, o concurso não
tem a ver com o que eu sei, mas com a condição que eu tenho de aprender e
apreender o que eu não sei, de modo que o concurso, de ordinário, não tem
qualquer relação com a genialidade, mas sim, com as muitas horas de estudo e a
boa capacidade de memória para reter o que foi estudado.
Genialidade, por sua vez, está
presente naquele que sabe sem que lhe tenham ensinado. É gênio aquele que antes dos 9
anos já compôs uma sinfonia ou aquele que pintou um quadro com cores próprias
de sua aquarela. É gênio aquele que viveu até quase 80 anos sem nunca ter saído
de sua cidadezinha no interior da Alemanha e, mesmo assim, escreveu tratados
sobre ética que mais de 200 anos após a sua morte ainda são referências de uma
obra incomparável. É gênio aquele que muda uma vida quando o contato não é
consigo, mas com a sua obra.
Então é bom se perceber que o
concurso público não faz de ninguém uma excelência, muito embora lhe empreste
certos títulos de excelentíssimo. E tampouco o concurso público é a única forma
de sucesso, muito embora seja, sim, um exemplo de vitória. Os que o alcançam
não são mais bem providos de intelectualidade do que os que se encerram em
gabinetes em busca do que evolua a sociedade a que pertencem, tanto ou mais do
que aqueles que querem evoluir o patrimônio que detém. E vai-se além: muitas
vezes o concurso público é o único recurso que alguém tem e a exceção talvez
esteja naqueles que, de boa família, querem ser parte do minsancene ou mesmo gozar o status
e prestígio que o cargo – mais que dinheiro – dá. Sem contar alguns poucos a quem aprova servir. Mas mesmo esses precisam de
esforço e não de gênio. E gênio não se esforça, faz. Sabe que sabe, mas muitas
vezes não sabe como soube.
Ademais, chamar um aprovado de gênio, ofende e minimiza o seu esforço e de certa forma lhe diminui o mérito pela conquista.
Ademais, chamar um aprovado de gênio, ofende e minimiza o seu esforço e de certa forma lhe diminui o mérito pela conquista.
É certo que bons salários trazem
conforto e possibilidades. Também é certo que sonhos só são possibilidades quando
mais que desejo, são projetos de execução viabilizada por escolhas condizentes.
E se a vida vai ser longa, é sempre possível aprender mais que memorizar e aprender para além da questiúncula que separa o esforço do talento. Os grandes
nomes da história sabiam de tudo e não se limitavam a nada. Mas se é sintoma da
nossa sociedade, cada vez é mais evidente que o destino de muitos é se comparar
com outros e, a cada comparação, tender a se julgar e, ainda pior, se limitar.
E isso é triste. E não tem nada de inevitável ou obrigatório.
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