A nossa noção de tempo está
diretamente ligada à separação que fazemos dele em anos, meses, dias, horas,
minutos e segundos. E a partir disso, muitos de nós temos por hábito medirmos o
valor das nossas histórias pelo tempo de sua duração, bem como, consideramos a
intensidade de sentimentos dentro do que parece ser “temporalmente” razoável
para parecer verdade, para “poder ser” verdade.
E daí, entendemos que o que é de
verdade é o que dura, é aquilo que enfrenta a resistência desse tempo tão
cruel, desse tempo que parece querer por à prova a vontade, a resistência mesmo,
a intenção e a intensidade dos que estão juntos enquanto se querem.
Não por acaso, é comum as pessoas
falarem que não deu certo o relacionamento que durou muitos anos e alcançou seu
fim, ou mesmo, desmerecerem envolvimentos porque são recentes: “mas vocês mal
se conhecem, não podem estar se gostando tanto”, “ficaram juntos sete anos, que
pena que não deu certo”. Essa são frases comuns de se ouvir em certas situações.
Mas muitas vezes o tempo conta
errado. O tempo conta errado na medida em que tudo se faz e se sente no
instante em que acontece, e daí não importa se em três horas, três dias, três
semanas, três anos que sejam, tudo parece uma coisa só, três horas são como
três anos que a gente nem sentiu passar.
Chega-se a um ponto em que impressão
que se tem é que tudo existe desde antes, desde sempre. Todo o envolvimento faz
sentido desde quando sempre é. E parece que não foi quando começou, ao ponto de
você mal conseguir dizer qual foi o começo. O que você sente é que simplesmente
tem sido e que bom que tem sido.
Nesse ponto, o leitor ou a
leitora mais cética (ou racional) poderia dizer: “é porque no começo tudo são
flores, tudo fica mais fácil”. E se você pensa assim, eu te pergunto: quantas
relações você começou e você terminou? Em quantas você até se sentia bem
durante o momento de estar junto, mas não enxergava razão nem no antes e no depois.
Em algumas? E quantas foram aquelas que simplesmente faziam sentido mesmo
quando não era pra fazer?
Há um ponto na vida da gente que
separa o que já tivemos daquilo que nós temos certeza que queremos ter. Experimentamos
uma novidade, uma sensação, um êxtase que é diferente de todos os outros:
parece mais puro, mais compromissado, mais tudo o que nenhum outro – por melhor
que fosse – jamais foi. E quando é assim, é porque é diferente.
E não importa que seja só o
começo se a nossa vontade é que não tenha fim. Se o nosso desejo é que todo dia
seja o primeiro dia, todo ele acumulado de um sentimento que não se conta com o
tempo, mas apesar do tempo. Porque o tempo conta errado, quando ele diz que é
pouco pra um sentimento que é tanto.
E a gente sente. E a gente gosta.
E a gente é feliz por todo tempo, seja o tempo que for (mas que seja como está
sendo. E será...)
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