quarta-feira, 18 de junho de 2014

Parabéns, FHC... 83 anos

Hoje o maior presidente que o Brasil já teve completou 83 anos de vida. Em seus 08 anos de governo, Fernando Henrique Cardoso estabeleceu as diretrizes de governo que pautaram e possibilitaram as iniciativas econômicas que deram certo no Brasil. 
Em que pese o "acartilhamento" a que o atual governo tenta submeter a grande parte dos seus incautos seguidores, sempre preparados para repetir sua doutrinação sem qualquer valoração crítica, mas com a raiva dos que tentam convencer com o grito, FHC não diminuiu as riquezas do Brasil. Antes, preparou o Brasil - viciado por séculos de descaso e mau uso da res pública - para os desafios do tempo vindouro ao seu. Seja na telefonia, na exploração dos recursos minerais ou mesmo no transporte, continuássemos reféns do sistema vigente, estaríamos muito mais atrás no desenvolvimento que nos falta.
Isso tudo sem falar no controle da inflação, ainda que a um grande custo pro país e pra sua popularidade. Pai e fiador do Real quando ministro, FHC enfrentou desafios e adversidade globais que macularam os últimos meses de seu governo, mas sem nunca sair do posto de estadista e de grande defensor da república e das suas instituições.
Cumprido seu papel, viu-se gratuita e moralmente perseguido pelo sucessor revanchista e delirante, mas sempre soube honrar o país.
O tempo, maior juiz da história e senhor de toda razão, vem fazendo sua justiça a ele e nós, que colhemos o fruto de sua coragem e disposição, o saudamos e nos congratulamos. Longa vida e que volte ao cenário, colaborando no despejo desses que apenas apequenam e destroem o Brasil...

terça-feira, 17 de junho de 2014

Segundo jogo da Copa-2014: que bom que não precisa gostar

Mais um péssimo jogo do Brasil (que vem jogando mal desde o fim da Copa das Confederações - aliás, como ocorreu com o time dos amigos do Dunga). E, pelo jeito, acabou a lua-de-mel da torcida com a seleção. Se é que houve. Pelo tanto que a mídia andou forçando essa copa goela à baixo do povo brasileiro, é pouca a empolgação e a confiança nesse time que tem mostrado pouco brilho, pouca vontade e um excesso de afrescalhamento.
Há anos o México vem mostrando que o escrete brasileiro não põe medo em ninguém e que basta que um time se disponha a jogar de igual, sem se apequenar, recuar ou tentar evitar uma derrota que, o Brasil simplesmente não joga. Como não jogou. Tirante um cabeceio daquele rapaz que tomou conta do noticiário por conta da mudança na cor do cabelo e um outro cabeceio do capitão do time, o Brasil foi completamente dominado por um México que não só destruía, mas sempre levava perigo à meta do goleiro do time do Canadá que disputa o acirrado campeonato norte-americano.
Passaram a semana inteira falando que um jogadorzinho mudou o cabelo. Qual a relevância? Isso fez jogar melhor? Não, pelo contrário. A bola parece que queima no pé do rapaz que, muito embora diga que não quer ser o melhor do mundo, mas sim ser campeão, não tem tocado, não tem marcado e parece querer resolver sempre sozinho.
Neymar ainda é um bom jogador que talvez um dia venha a ser craque, mas não é o dono do time. Precisa jogar em grupo e pelo grupo. Ninguém passa pro Fred e só quem tem chamado a responsabilidade é o David Luiz e o Luiz Gustavo. O resto, mal, mal, mal...
E outra, vai ficar difícil se for pra jogador ficar chorando toda hora que tocar o hino nacional.
Um técnico cada vez mais neurastênico, dado a coicear jornalistas que contestam suas escolhas mas, principalmente, suas teimosias. Que vêm ao público lhe pedir que apoie incondicionalmente o Brasil, porque os jogadores precisam se sentir queridos pela torcida, mas que se recusa a dar explicações, recusa-se a ao menos ajudar que se entenda porque a bola não chega ao atacante, porque os volantes não conseguem chegar tocando a bola com qualidade ou porque os laterais nem apoiam e nem defendem.
Que bom que ainda não obrigaram a gente a gostar da seleção brasileira, porque tá difícil gostar desse time do Felipão (ou do Neymar).

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Tantos eus calados (ou a dor de morrer sem ser ou viver)

Olhos insones, no escuro, abertos, procuram o céu
Vêem apenas o teto em que não há vida ou luz.
Janelas fechadas, cortinas fechadas, portas fechadas
A alma também... e calada.
Sou meu próprio túmulo encerrado em meu túmulo que, com espaço, protege o mundo de mim.
A um só tempo (ou são todos os tempos?), dentro de um espaço menor que a dor de se ser
Morrem-me - morro-me! - aos poucos nas vidas que ousaram sentir diferente,
Ousaram querer, ousaram sonhar,
Mas precisam morrer, embora resistam e peçam "viver"!

Vivo! - mas dentro do túmulo que sou
Dentro da tumba que guarda o túmulo que me encerra
Dentro desse espaço que me abriga e que eu abrigo,
Que eu mostro, mas que me esconde e me tem
Mas que me esquece e me tranca (me tranco)
Passa, corre, descobre e gosta do que já não vai mais lembrar
E que será outro eu, talvez até com meu nome, outro homem destinado a não ser
Apenas se ser...
Só ser até deixar de ser sem nuca ter sido e partir e perder
Dentro do túmulo que é e abriga, que esconde e encerra
Mais um hospede futuro do mundo que é meu mundo
Em meio de um mundo indiferente à tantas faltas de tantos "eus"...


(madrugada de 16/06/2014 - 4 a.m.)

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Primeiro Jogo da Copa: e aquela história de “homem cordial”?


“Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade – daremos ao mundo o ‘homem cordial’. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa, fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal.”

Assim, Sérgio Buarque de Holanda começa o trecho em que cunhou a expressão que lhe fez mais famoso, até que passasse de festejado autor de “Raízes do Brasil” a “pai de Chico Buarque de Holanda”, como ele mesmo, Sérgio, assumiu. O brasileiro seria o “homem cordial”.
O início dessa Copa do Mundo mostrou totalmente o contrário. Ao contrário do que possa parecer, não torço contra a Seleção Brasileira, apenas não consigo me empolgar enquanto torcedor de futebol. Claro que ficarei feliz em ver a exaltação do meu país, mas preferiria – sem hipocrisia – vê-lo se destacando em educação, cultura, saúde... Como acredito que 99% dos brasileiros, assisti a primeira partida da Copa do Mundo. Um jogo feio, truncado, nervoso e que contou com um erro decisivo da arbitragem marcando um pênalti que não existiu. De positivo, só o momento do hino nacional, mostrando uma união de brasileiros que, infelizmente, nem sempre é pro bem.
Futebol à parte, o momento que mais me incomodou foi a vaia da torcida brasileira para o time croata. E daí a gente vê que, pelo menos nessa geração atual de brasileiros, se há algo que não se pode dizer de nós, é que sejamos cordiais. No papel de país anfitrião, o mínimo que a torcida deveria fazer era aplaudir o time croata de modo a que se sentissem bem-vindos ao nosso país para disputar uma partida de futebol e não uma guerra. Mas cadê a hospitalidade. O curioso é que o próprio autor, a certa altura, afirma nesse mesmo livro “Raízes do Brasil”.
“Seria engano supor que essas virtudes possam significar ‘boas maneiras’, civilidade. São antes de tudo, expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante.”
Dentro desse jeito emotivo de ser, o brasileiro é desrespeitoso. E não adianta falar que estou generalizando se, no momento da vaia, foram mais de 60 mil pessoas vaiando. Eu continuo insistindo que o grande problema do Brasil são os brasileiros (basta ver que um brasileiro quebrou o dedo de um argentino que se recusou a soltar a bandeira de seu país) e quando eles – brasileiros – estão em grupo, ou é festa ou é balbúrdia, mais balbúrdia do que festa.
Sérgio Buarque de Holanda ainda disse que:
“No ‘homem cordial’, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo, em apoiar-se sobre si próprio em todas as circunstâncias da existência. Sua maneira de expansão para com os outros reduz o indivíduo, cada vez mais, à parcela social, periférica, que no brasileiro – como bom americano – ter a ser a que mais importa. “
Vencer um jogo de Copa do Mundo sendo “ajudado” pelo juiz, é lamentável e se exaltaria o time e a sua comissão técnica se, ao invés de cinicamente dizerem que viram pênalti, que viram falta no goleiro quando não houve, que a arbitragem foi boa, reconhecessem que houve o erro, que não foi pênalti. Mas não. O brasileiro é o tipo que diz que ganhar roubado é mais gostoso ao invés de aproveitar pra gritar para o mundo que se o brasileiro vai às ruas cobrar o fim da corrupção é porque ele não transaciona com o erro, ele execra e acusa o erro e o mal feito, porque prefere as coisas limpas. Mas não é bem assim...
Xingam a presidente a plenos pulmões para o mundo inteiro ouvir. E não importa as divergências que se tenha com ela ou com o partido e governo que representa: ali era a instituição presidência da república que se encontrava e deveria ser reverenciada pelo povo. Não a Dilma Vana Roussef, mas a representante maior do Estado brasileiro.
O jogo foi ruim, mas a torcida foi pior.

terça-feira, 10 de junho de 2014

O sexo da Xuxa e o seu (ou nada melhor do que se assumir quem é)

É isso! No último sábado no programa "Altas Horas" a Xuxa finalmente se manifestou a respeito do filme "Amor Estranho Amor (1982)" de Walter Hugo Khouri, estrelado por Vera Fischer, Tarcísio Meira, Mauro Mendonça, Íris Bruzzi, Matilde Mastrangi e com uma participação dela em seu primeiro filme. 
Pelo que consta do enredo do filme, cujas cópias (quase todas) Xuxa consegue manter em seu poder, em fins da década de 1930, um menino de 13 anos é abandonado às portas de um prostíbulo onde sua mãe atende. Nesse prostíbulo, passa a conviver com diferentes garotas de programa, inclusive com uma jovem de 15 anos (Xuxa) que teve sua falsa virgindade leiloada. Em represália à forma como foi tratada pela mãe do garota, a personagem de Xuxa, resolve seduzi-lo em sua tenra idade. 
Penso que talvez a Xuxa tenha demorado até demais para se manifestar sobre esse filme que ela conseguiu até proibir de ser veiculado e, certamente, teve suas razões de fazê-lo. Contudo, condená-la por uma cena feita há 32 anos atrás, quando ela tinha 18 anos e interpretava uma garota de 15, é querer fazer fama na fama alheia. 
O deputado pastor que tentou lhe ofender na Câmara foi ridículo. E isso para manter o nível de respeito. 
Qual o erro da Xuxa? Ela não abusou de um menor, ela interpretou uma personagem num filme no qual ela nem era a personagem principal e filme esse que, todos que assistiram - eu só vi a cena em questão - dizem que é muito bom..
Claro que há aqueles que demonizam o sexo, que acham que erotizar a vida quando se lhe mostra como ela é e a pornografia são a mesma coisa. Nada mais absurdo.
"-Ahhh, mas ela até pousou nua..."
A nudez está presente desde o Éden (para aqueles que acreditam nele), pelo menos enquanto mito. A nudez é festejada como a perfeição, mas não a perfeição estética, e sim, a perfeição do espírito livre das amarras impostas pelos que não entendem que a vida é viver. A nudez é a natureza e as duas juntas, são Deus. Ou não? Quem mandou cobrir a nudez? Quem determinou que o corpo que nos mostra fosse o oculto de todo o mais?
Já quanto ao sexo, talvez seja o que há de mais presente no mundo (não por um acaso já somos mais de 7 bilhões de pessoas). Não sei por que razão as pessoas são mal resolvidas nesse assunto e se mostram sempre prontas a se ofender com quem não é. Acho justo que queiram manter suas vidas sexuais na privacidade de si mesmas, mas daí a doutrinarem e condenarem quem se permite ser livre sexualmente, julgando o que faz ou deixa de fazer, é de uma mesquinharia própria do ser humano.
Agora, existe uma forma corrente de se iniciar uma vida sexual? Ou não é verdade que durante muito tempo - e até hoje - é comum que um pai, um tio ou um amigo mais velho contrate uma profissional para que inicie o mancebo na arte da satisfação da carne? Quantas pessoas tiveram suas vidas sexuais iniciadas aos 13 ou aos 14 anos e quantas outras que já passaram dos 30 e ainda hoje não sabem porque o mundo continua se povoando (e à toda velocidade)? 
O nosso mundo é hipócrita. A pessoa reclama de permissividade, de licenciosidade, mas dá-se e refestela-se noites a dentro, das mais diferentes formas (vis para umas, prazerosas para outras). Impõem-se seus limites para si mesmas, mas não contentes, os querem impostos a todos os demais. Não sabem por que o outro gosta do que gosta, mas já o condena por gostar diferente do que ela gosta e tudo isso sob o manto de quem se acha melhor do que o outro porque mais decente, mesmo que tenha suas próprias indecências.
Mas o pior é que condenam a Xuxa como se ela, de fato, tivesse sido quem iniciara o rapaz nas artes do sexo. Condenam a Xuxa como se o filme fosse de verdade quando, na verdade, o que o cinema faz é retratar a vida e não a vida imitar a arte. E daí começo a achar que não é tão mentira quando um artista de novela diz que é agredido na rua.
Como se quer que o cinema retrate a sociedade, a vida, fazendo de conta que homens trabalham para serem honrados e não para impressionarem as mulheres? Ou que mulheres se pintam para receberem flores e bilhetes, e não para seduzirem? Como esperam ser levados a sério quando defendem que um filme beatifique todas as pessoas quando, na sua maioria, são dotadas de toda uma sorte de desejos e vontades só capazes de serem satisfeitas no encontro da carne que lhe receberá por sua? Isso é a vida desde o primeiro instante do mundo... a simbiose feita na vontade de "se completar ou de ser completado"...
As pessoas deveriam se ocupar mais dos seus gozos e menos da tentativa inútil de castração alheia. Mas ninguém quer ser castrado sozinho e, pra muitos, gozar nem deve ser tão bom assim...
É isso, Xuxa, se assuma! Se assuma e não se incomode com quem só sabe se recalcar...

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Em clausura...

Ando pensando muito nas pessoas que vivem enclausuradas dentro de si. Reprimem sua própria vida, seus desejos, suas fantasias e seus impulsos. Andam curvadas pelo peso de se acorrentarem às verdades que são convenientes, mas que não lhes satisfazem e tudo isso às custas de uma renúncia que lhes desafia todo dia e que, a cada NÃO, apagam-lhes o brilho dos olhos, mas ainda assim, insiste em lhes acender um ímpeto que, ao menos pra mim, é mais aparente que o raio de luz que sangra a escuridão.
São olhos que não param e revelam no sorriso que se contém, mas que diz "note-me o tanto que noto aos que não poderia notá-los", convidam com suavidade, pedem com sofreguidão e clamam com a lascívia que quase não combina com o silêncio de um tormento que se tivesse forma, mais lembraria um terrível furacão.
As pessoas têm se escondido de todos, mas principalmente de si... ao mesmo tempo se mostram, traem-se no que tentando conter. Não se contêm.
No meio religioso é bastante comum que pessoas em busca de uma melhor encontro consigo e com seu Deus, fechem-se em conventos, monastérios e afins. Isso se chama enclausurar-se. A expressão "enclausurar" deriva-se do latim "inclusus" que, por sua vez, tem sua raiz na expressão latina "clausus", que é "fechado". O que me parece importante destacar é que, nesses casos, esse "fechamento" das pessoas, seja literal, físico ou emocional, é um ato de quem espera uma melhor compreensão de si mesmo, a partir de uma renúncia que faz a um instante também de si, uma experiência que lhes legitime para o que continuaram vivendo quando saírem da clausura. O ganho é para agora, para vida que, se é que não escolheram, ao menos lhes é inevitável que vivam. Não o fazem esperando uma recompensa para além da vida que tem.
Por sua vez, as pessoas que apenas limitam-se a abrir mão de serem quem são, perdem. Perdem na medida em que vivem uma escolha muitas vezes dissociada de suas expectativas para o tempo que, arrastado na angústia de quem vive quem não é, parece mais comprido do que o bom tempo sugere em diversão. Perdem também, na medida em que buscando atender ao anseio de outro, mostrando-se a esse quem não são, retiram desse mesmo outro a chance de descobrir que pode ser melhor viver com quem se gosta (a si) do quem que se suporta (por si). 
Ninguém se renuncia a si mesmo, nem se prende dentro da si mesmo e nem se mata para que continue o mínimo de si mesmo, sem que as rebeliões de seu próprio calabouço se escancarem no escândalo silencioso de seus olhos e falta de seu sorriso. E o barulho que não se ouve pode ser ensurdecedor para quem lhes vê. Você percebe?
Há urgências nas vidas que correm os anos e insistem em morrer enquanto andam, sem que tenham - sequer - a escolha de parar de andar (inspirar, respirar, fantasiar e se deixar...viver).

sábado, 31 de maio de 2014

Desperdiçamos vida quando temos pressa no viver

As pessoas vêm apresentando uma pressa e uma urgência cada vez maiores. A impaciência parece ser a característica determinante de uma geração pra quem, esperar, é quase uma violência. A sensação é que vivemos tempos em que nada pode ser depois, tudo tem que ser agora e, mesmo agora, já é tarde demais. Isso é terrível.
Nessa semana, por exemplo, me dei conta de que já faz 10 anos que foi transmitido o último episódio de F.R.I.E.N.D.S e 04 anos do último episódio de LOST, duas de minhas séries de tevê favoritas. Dez ano é muito tempo, mas parece que foi ontem e isso só aumenta a sensação de que não temos mais 24 horas no dia. É menos. Tem que ser menos.
Há quem diga que isso é culpa dos telefones celulares. Hoje em dia todos tem um ou mais de um e a facilidade com que se pode achar uma pessoa que queira ser encontrada, fez com que as pessoas não saibam mais esperar uma resposta. Você liga e quer ser atendido, manda a mensagem e já quer a resposta na sequência porque, além de tudo, somos apressados e estamos ainda mais egoístas. A nossa urgência é mais urgente que a urgência dos outros.
Até há pouco tempo não havia o que fosse tão urgente que não pudesse esperar chegar em casa para ligar na casa de alguém. Para que se comprassem fichas de telefone público para uma ligação, o assunto deveria ser de uma importância tal que nem sei. Voltando-se ainda mais no tempo, as pessoas mandavam um “telex” quando era caso de vida ou morte, caso contrário, esperavam meses para que a carta que mandaram chegasse e mais meses para que a resposta enviada lhes viesse às mãos. E a vida vivia mais.
Alguém poderia dizer que a expectativa de vida hoje é maior do que em anos atrás em que se vivia menos tempo. É verdade. Mas qual tem sido o ganho de morrermos depois se enquanto corremos estamos perdendo o jeito de viver? O que fazemos com o tempo que temos a mais se parecemos reféns de expectativas que não foram criadas por nós, onde devemos chegar num destino que não escolhemos para obter aquilo que não queremos, mas precisamos porque alguém disse que isso é “vencer”? Pra que quero ter mais tempo com a minha família, se saio de casa antes que todos acordem e volto pra ela quando todos já estão dormindo, louco que estou por obter mais disso que nem é tão importante assim?
As pessoas querem mais tempo para desperdiçar. Ninguém repara no sol ou na lua, basta saber que estão lá. A natureza é cada vez menos, mas ninguém “pára para” observá-la enquanto ela ainda há. Os filhos crescem, todos fotografam, mas não os veem com olhos, os olham pela lente de um telefone que nos afasta do mundo real, em nome de uma proximidade de faz de conta com quem está longe da gente – e não dá pra dizer que está de perto... só de mentirinha.
As pessoas querem mais, mais, mais, mas não sabem o que fazer com o menos. Acumulam riqueza, acumulam dias, acumulam ganhos, mas nem se dão conta de que perdem vida, momentos, sorrisos, prazer de verdade. Estamos com pressa de ter tudo, sem que saibamos o que fazer com isso e nem com qualquer outro aquilo que teremos, quando, na verdade, mal sabemos o que queremos.
É hora de respirarmos fundo, olharmos a volta e saber que temos uma vida pra viver e não uma batalha pra ganhar; que temos tempo pra crescer e não um desafio a superar; que o momento é vivido aos poucos e que não tenho motivos pra ter pressa em ter mais do que a maioria, porque ser exceção é mais acaso que busca. Um dia de cada vez, todos eles, sem esquecer do hoje pelo que ele será amanhã, e o mundo será outro: o nosso, o dos outros e o de todos nós. 
Viver a vida pra fora enquanto tempo, vida e mundo nos há...

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Perceber o que tem e entender que é você

Querer mais não é pecado. Pecado é desdenhar do que já tem só porque deseja algo diferente.
E é pior ainda quando a gente não sabe nem o que é esse algo diferente que a gente tanto quer. Insistimos em conviver com uma sensação de ausência que talvez sirva para justificar uma melancolia que sequer deveríamos ter. E nem gozamos do que não temos, nem buscamos que venhamos a ter, mas, principalmente, perdemos o tempo em que seríamos felizes se mais gratos ao que já conquistamos e nos é real.
Acabamos sendo a nossa própria fuga. Acostumados à desventura que nos atribuímos pela dura realidade de sermos nós, pouco nos esforçamos para que sejamos satisfeitos com quem somos já que isso nos exigiria deixarmos de ser quem estamos: acomodados que folgam em reclamar.
É quando chega a hora de assistirmos ao nosso passado para que entendamos como chegamos onde estamos. E não adianta culparmos a vida e as suas circunstâncias ansiosos por nos fazermos menos responsáveis pelas escolhas que fomos nós que fizemos. Qualquer um que diga que a vida o fez assim e que é vítima dos acontecimentos estará atestando que pouco fez por si em sua própria vida e, muito mais do que isso, que se deixou arrastar pela correnteza sem pouco tentar remar. Ora, quem não navega pra chegar aonde quer, acaba chegando a um porto em que não queria chegar.
Sempre me lembro da música “Boiadeiro” do Luiz Gonzaga. Nela, ele diz do boiadeiro que volta pra casa, pras suas 10 cabeças de gado, pros seus 10 “fiinho” e pra sua Rosinha (pequenina, miudinha). A todo tempo ele diz que é “muito pouco, quase nada”. Mas não desdenha, porque, quando você menos espera ele diz “mas não tem outra (nem outros) mais bonita no lugar”. Talvez não fosse tudo como ele queria, mas era o que ele tinha e era ao que ele tinha que ele tinha que ser grato.
Pessoas pulam de um emprego pra outro emprego, de uma relação pra outra relação, de um sonho pra outro sonho e é tanta inquietação e tanta angústia, que não percebem que tudo o que buscam já está em si: buscam a satisfação de serem elas, se verem nelas e se gostarem por quem são.
Mas não. Buscam essa satisfação no outro, no reconhecimento pelo outro. Na nova conquista amorosa de uma noite, no aumento de salário (que nunca é na mesma proporção do aumento de serviço), no elogio, no afago, nunca em si. Fazem do seu trabalho castigo. Esperam que alguém acima de si saiba o seu nome e lhe dê uma oportunidade. E, muitas vezes, chegam ao ponto de querer ser reconhecidas por alguém de quem se disfarçam, mas que na essência nunca foram. E só para que sejam vistas, notadas, percebidas e elogiadas. Sim, porque só o elogio adianta se o que preciso é erguer a autoestima a partir do olhar do outro e não do meu “auto”olhar.
Penso que será um tempo melhor para cada pessoa quando o outro for menos importante que ela para ela. Mas hoje ainda não é assim. Cada vez mais as pessoas parecem pouco dispostas a aceitar que o melhor elogio é gostar do que se tem e entender, que tudo o que se tem, é a história que a gente fez daquilo que a gente é que é como sempre será, na medida em que a nossa história não pare de viver. 

terça-feira, 13 de maio de 2014

Não vamos falar da Lei Áurea?



Penso que alguns erros devem sempre ser relembrados para que não tornem a se repetir. Ignorá-los é correr o risco de absolver a história e seus vilões, permitindo que venham outros e façam o que já não vilipendia o pensamento de ninguém.
Não é novidade que há uma tendência dos - permitam um neoligismo -  "ideologistas" (pra não dizer idiotas) do atual governo em tentar rescrever a história do Brasil. Capitaneados pela super-superestimada Marilena Chauí, querendo apagar das "cartilhas escolares" episódios que marcaram nossa história e fizeram do Brasil o país (a republiqueta) que é.
Me refiro a isso, porque hoje é dia 13 de maio e li toda sorte de idiotices no Facebook e mesmo em outras mídias, mas até agora, quase nenhuma menção a ser aniversário da Lei Áurea, responsável por colocar um fim à escravatura no Brasil. E não acho que seja coincidência.
Datas como essa deveriam ser exaltadas sempre e não, como sugeriu alguns, evitadas como forma de se esquecer que houve tal período que mancha a história brasileira. A Princesa Isabel deveria ser exaltada por seu ato de coragem, na medida em que sabia que acelerava o fim da já desgastada monarquia que mantinha sua família no poder... Mas, principalmente, deveríamos todos refletirmos sobre o que foi aquele período para que nunca mais ousássemos nem pensar em repetir...
Na hora de postar #SomosTodosMacacos, aparece um monte de idiota, mas no que é importante, cada qual volta à irrelevância de sua falta de opinião.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

20 anos: Ayrton... Ayrton... Ayrton Senna do Brasil...

Parece que foi ontem. Naquela manhã de domingo eu dormia no apartamento dos meus avós. Todos haviam ido à Escola Bíblica Dominical, mas eu fiquei dormindo. Dormia no quarto de meu tio que tinha por hábito sempre deixar a CBN ligada durante a noite e foi quando, de repente, escuto o radialista dizendo “o piloto brasileiro foi retirado do carro e recebe o atendimento ainda na pista”. Mas já faz vinte anos...
Ouvir aquilo foi um susto que me fez pular da cama e ir até o quarto onde ficava a TV, liga-la já na Globo e me deparar com a cena daquele piloto vestindo um macacão azul e uma poça de sangue ao seu lado. Um choque. Barrichello já tinha sofrido um grave acidente da sexta, Ratzenberger já tinha morrido no sábado e no domingo os deuses da pista resolveram deixar o mundo da F1 ainda mais dramático: escolheram Senna pra sua vítima maior.
A partir daquele momento me uni a outros 150 milhões de brasileiros na expectativa das notícias que não poderiam ser outras. Àquela época sempre ouvia alguém falar mal da arrogância do piloto brasileiro, ouvia diferentes críticas e, aos 9 anos, muito embora acordasse quase todas as manhãs para assisti-lo correr, não tinha ideia da dimensão do que representava aquele rapaz de 34 anos, Ayrton Senna da Silva e do Brasil.
As lembranças mais fortes que tenho de Senna é ter ficado acordado pra vê-lo na corrida de seu segundo título, quando ele bate em cheio no carro do Prost, numa forra ao que o francês fez no ano anterior; mas as mais fortes são do campeonato de 91, assistindo a corrida em que ele vence no Brasil pela primeira vez, ou pegando uma carona no carro do Mansell, ou mesmo, deixando o Berger passar na sua frente quando já se sabia tricampeão no campeonato daquele ano.
Hoje sempre assisto às reprises desejando que fosse possível que Senna não corresse aquele GP de Imola; que Senna não fizesse nenhuma curva Tamborello; que ele fosse pra Minardi, mas não assinasse com a Williams. Mas como ele poderia não assinar com a Williams?
Lembro-me que tinha sido há pouco tempo que ele tinha lançado a personagem do Senninha. Ele já corria na McLaren em 93 sendo pago por corrida e, quando assina com a maior equipe da época, maior vencedora daqueles anos, fizeram uma festa e teve até um gibi do Senninha mudando sua roupa de vermelho para azul. Ele estava empolgado e o Brasil também.
Sua primeira corrida foi cheia de expectativa e terminou triste.
Sua segunda corrida vem com mais expectativas e terminou triste.
Sua terceira corrida, por tudo que aconteceu, começou triste e terminou trágica.
Senna morreu como herói, mas eu preferia que ele estivesse vivo. Eu preferia que tivesse ganhado mais do que ganhou e ele poderia ganhar. Eu preferiria que o Senna tivesse realizado o seu sonha de pilotar uma Ferrari e eu teria adorado acordar a cada manhã só pra vê-lo correr.
Naquela segunda-feira, 2 de maio de 1994, lembro da professora entrando naquela turma de 3ª série e nos perguntando se sabíamos o que tinha acontecido. Com seus olhos marejados de dor, ela falava de Senna enquanto muitos colegas de sala choravam sua dor. Lembro de um rapazinho – acho que seu nome era Álvaro – que chorava copiosamente a dor de ter perdido o ídolo que carregava em seu caderno.
Vinte anos depois ainda me dói saber que o melhor piloto de todos só não pode vencer o destino que sabe ser mais cruel com um do que com outros.
Ayrton... Ayrton... Ayrton Senna do Brasil...


quarta-feira, 30 de abril de 2014

O principal projeto de vida deveria ser viver

Heidegger já dizia que a vida do homem é um projeto inacabado, sempre projetada para o futuro com o objetivo de se tornar, de alguma forma, essencial. Difícil seria refutar essa afirmação.
Nossa vida precisa ser vivida e o é na forma que escolhemos cada um de nós. Cada um tem a sua razão, cada um tem o seu jeito e cada qual é feito conforme as suas circunstâncias lhe permitiram na medida em que impostas pela vida vivida à volta de quem só tem a escolha de viver.
Nem sempre dono de suas circunstâncias, homens e mulheres precisam lidar com um mundo que parece lhes sugar mais do que lhes preencher. Todo o tempo, esses homens e mulheres são bombardeados com diferentes tipos de pragmatismos de gente sempre pronta a lhes conceder suas receitas de uma felicidade que eles mesmos não têm. (sem contar aqueles que dizem para não se ocupar com a ideia de ser feliz).
O que me parece é que é cada vez menos lícito divergir.  Num mundo em que as diferenças são motivos de briga e não de conciliação pelas ideias que são iguais, mais e mais pessoas veem-se ocupadas de viver uma vida diferente do que seria a sua vida se não houvesse ocupação com que se ocupar. Além de suas próprias expectativas, muitas vezes se pegam vivendo expectativas de todos os outros que não são elas, mas parecem querer lhes dizer o que é viver.
É a partir dessa dura realidade que me pego assistindo pessoas cada vez menos satisfeitas consigo, cada vez se gostando menos e desejando um mais que já não sabem o que é. Parece cada vez mais comum a sensação de um vazio existencial, sem saber o que é que realmente falta para que possam, então, tentar adquirir, vivendo como se o mundo fosse, de fato, um consumir indiscriminado. E não percebem que o tempo todo em que sentem falta de algo que não sabem qual algo é, estão sentindo falta de si mesmos. Mal percebem que se olham no espelho e não estão sendo quem veem. Olham-se nos espelhos de todos os lados e em cada espelho parecem ver o que não foram diante de todos os olhos críticos de quem só vê prazer em não perceber que somos quem somos e não quem alguém pensa que deveríamos ser.
Então uns procuram um casamento, outros procuram uma religião, um deus, um ídolo, um herói, mas quase não se dão conta de que procuram a si mesmos. E que casamento triste! Que culto vazio! Que deus silencioso e que herói sem honra.
Mas qual é o instante em que nossos sonhos começam a perder para a nossa realidade? Em que momento da vida a gente deve se  deixar de ser mais importante do que as expectativas que fazem de nós?
Vejo pessoas que dividem suas vidas em grandes planos e acontecimentos: vou estudar, quando terminar o colégio vou trabalhar e entrar numa faculdade, depois vou arrumar uma esposa ou um marido, vamos constituir uma família e veremos como será. E como será? O que essa pessoa realmente espera pra si? O que ela realmente procura?
O que ela estuda e o que ela quer estudar? No que ela trabalha e o que eae realmente quer fazer? Por que estudar o que não gosta? Por que trabalha no que não lhe dá prazer? Será que os homens são projetos inacabados de si mesmos ou estão é destinados a serem projetos não realizados de si mesmos? Eu prossigo amanhã sempre para além do meu limite de hoje ou viro às costas para o caminho que ainda tenho em nome do que me disseram que tenho que querer? O que eu realmente quero?
Por exemplo: quem casa procura o que? Sexo? Amor? Companheirismo? Deus? Mas que sexo? Que amor? Que companheirismo? Que Deus? O Sexo despudorado que ele gostaria de oferecer, mas que não sabe como vão lhe julgar ou o sexo casto que ele julga ter sido o dos seus pais e o de Maria com seu bom marido José? O amor que liberta e que sabe que a verdade é que ninguém é de ninguém e fomos feitos para o mundo e que, por amarmos, nos cedemos a quem nós queremos ou o amor que aprisiona e faz julgar haver propriedade onde há permissão? Companheirismo que faz querer estar junto, mas que sabe que pode deixar ir onde ele não esteja (fisicamente), porque mesmo assim, sempre estará ou o companheirismo dependente que faz o outro julgar só ser possível achar na sua outra “metade” o ar que lhe importa respirar? Que Deus ele busca? O Deus que dá a vida ou que tira a vida? O que permite ou o que castra? O que é justo ou o que só soma o erro? E enquanto isso, que vida ele – que casa – já viveu?
Em dois que se dão para viverem uma vida, qual a vida que viveram pra doar? Quanto vale a doação que não doa? Quanto vale a entrega do que não existe? Que vida se junta quando nenhuma vida ainda viveu? Mas até isso vale se tudo for pra viver...
Respirar não é viver. Andar não é viver. Trabalhar não é viver. Amar não é viver. Gozar não é viver. Viver é fazer tudo isso junto e ao mesmo tempo e mais de uma vez, repetindo enquanto tiver vontade e o corpo tiver condições, sem arrependimentos inúteis ou medos sem razão.
E se as pessoas se ressentem é porque são quem preferiam não ser e não são quem sempre se sonharam sendo. Pensaram demais, ouviram demais, temeram demais e viveram de menos.
Enquanto não vivemos pra nós não devemos ter planos pros outros ou isso seria vingança e vingança só gera ressentimento e ressentimento dor. Viver bem não é o principal objetivo. Acertar não é o principal objetivo. Amar não é um projeto, é um sentimento. Casar não é projeto de vida, assim como morrer não é esperança. O que nós temos na vida desde o seu início é só a vida, essa vida e ficamos perdendo tempo com tantos projetos que não nos permitem que sejamos quem queremos, que já é mais do que hora de sabermos e entendermos que na vida, o principal projeto que podemos ter, é viver... viver, nos viver, mais viver.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Eu perguntei, mas ninguém me respondeu. Alguém se habilita?

Nesse fim de semana de feriado participei de um seminário bíblico nominado “Conflitos Espirituais”, ministrado por um teólogo por formação, pastor de um Estado do Sul do país e sobre o qual tinha muito boas expectativas. Por fim, em linhas gerais, o mote do que pregado foi: tudo o que é bom é de Deus, aquilo que é mau é do diabo; quando somos de Deus fazemos coisas boas e, se fizermos coisas ruins, é porque por estarmos longe dEle, demos lugar pro seu principal antagonista.
No sábado tinham dito que a parte do seminário a se realizar hoje seria aberta à resposta de perguntas e, na medida que ouvia atentamente as explanações do responsável pelos estudos, sentia algumas angústias por não alcançar as razões que motivavam a mensagem que ele parecia querer passar. Por exemplo: Ele disse que os EUA estão em débito com Deus porque proibiram oração e leitura da bíblia nas escolas e estão autorizando e reconhecendo como casamento a união homossexual, caminhos que, segundo ele, o Brasil também vem adotando porque está afastado de Deus.
Também disse – não sem antes pedir perdão aos psicólogos e psiquiatras – que não considera a atuação do inconsciente ou do subconsciente já que a Bíblia não trata disso, mas antes, considera o homem um ser consciente nos e dos seus atos e que, logo, o crente não deveria se deixar dominar por fobias ou outros medos, já que confia em Deus.
(lembro que pode ser que eu não tenha entendido muito bem).
Como é costume, criticou o uso da Internet para acesso a pornografias e da Rede Globo (aliás, todo mundo bate na Globo), exortando que crente de verdade não consome esse tipo de canal e nem questiona o que está na Bíblia.
Pois bem. No sábado fiz minhas perguntas (19 no total), depositei-as onde determinado e hoje, dia 21/04/2014, acordei às 7h30 crendo que o pastor que proferia o seminário me responderia. Pasmem que ele não respondeu sequer 01. Assim, deixo-as aqui na minha página. Lanço-as aqui, na expectativa que haja quem disposto a me ajudar enxergar além do véu que obscurece meu entendimento... 
  1. O cristão pode questionar o que lhe é ensinado? O senso crítico deve ser estimulado?
  2. O que se diria para alguém que é crente em outro “Deus” a respeito do “nosso Deus”? Assim como há os ateus do nosso Deus, não somos todos ateus de outros deuses também tão acreditados? 
  3. Quando saber se acredito no Deus que é ou no Deus que penso? Não é fato que, muitas vezes as nossas conveniências orientam a nossa fé?
  4. Qual seria a melhor definição de caráter e moral do ser humano entendido enquanto ser social?
  5. Escolher está ligado a quem a pessoa é ou às circunstâncias a que ela se vê submetida (e aqui lembra-se a frase do escritor Ortega y Gasset: “eu sou eu e minhas circunstâncias”)?
  6. Se um pai não dá educação (boas maneiras) para uma criança, isso implicará na sua vida espiritual? A educação faz diferença? Se parte-se da premissa de que as escolhas partem do que o “inimigo sopra no ouvido das pessoas”, qual é o papel da formação social (educação, psicológica e moral) dos homens?
  7. Por que se pode controlar o pensamento, mas não se pode escolher o que pensar?
  8. Mesmo partindo da ideia de que o tema é “conflitos espirituais”: o desejo nasce no coração a partir do que o homem julga ser importante para si ou é “plantado” nele por uma força imaterializada?
  9. Qual o papel do subconsciente nas escolhas pessoais? Ou o fato de a Bíblia não tratar do tema o invalida enquanto realidade?
  10. Qual o nível de inocência de um ser humano que, aceitando a ideia de que está a mercê da influência do mundo imaterial, é feito fantoche dessas forças imaterializadas em relação às suas escolhas e conduta?
  11. Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, todos são levados a pecar ou o pecado é atitude deliberada, mas de ocasião na vida das pessoas?
  12. Qual o papel da “energia libidinal” enquanto força motriz da atuação humana? O que impele o homem?
  13. O ser humano é essencialmente mau? As pessoas já nascem inclinadas para serem ruins ou são projetos do seu meio? Não há uma consciência inata própria que faz com que haja afeto, amor e respeito? Lançados ao nosso estado de natureza, seríamos piores do que bestas?
  14. Há uma consciência “no sentido de controle da própria história e memória do que fazemos, do que quisemos e sobre quem somos” ou isso que chamamos de consciência é um “canal de atuação” das entidades imateriais (divinas ou não) que serve para a nossa “auto”-acusação? Quando a pessoa ora e, eventualmente, lembra-se de fatos da vida, é obra do inimigo ou exortação de Deus ou é algo próprio de sermos gente e termos memória?
  15. O que é “gente ser gente”? As nossas vontades são sempre para o mal?
  16. Em relação ao exemplo da mulher que tinha que jantar com os diretores da empresa em que fora efetivada e, por isso, pediu demissão: ela não conseguiria impor seu respeito e, com isso, resistir a esses avanços? O cristão não deveria ser mais forte que o resto do mundo? Ou somos mais fracos? Essa mulher conseguiu um emprego melhor?
  17. Tudo é conflito espiritual?
  18. Uma democracia não deve respeitar e resguardar, inclusive os direitos dos “diferentes” ainda que minorias? O senhor defende uma ditadura religiosa? O ideal seria sujeitar pessoas à moral religiosa de uma religião com a qual não comungam?
  19. O Senhor não acha perigoso colocar o crente numa posição de super-humano, como se ele estivesse acima de angústias que assolam as pessoas, podendo, inclusive, levar alguns a crerem que o medo (as fobias em geral), a angústia e a dúvida são comportamentos de quem não tem uma vida íntima e aprovada com Deus? Davi errou ao pegar 05 pedras ou deveria ter pegado uma única já que lutava “em nome de Deus”?
        Muito obrigado!

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Pelo buraco da fechadura

Algumas pessoas parecem subestimar a vida. Parecem preferir não reconhecer que a vida é um caminho sinuoso, cheio de curvas, de perigos e de necessárias mudanças de rota. É como se tivessem traçado um mapa que as levará para o destino que imaginam seja o que devem chegar. Quando, do nada, veem-se forçadas a não seguir por aquele caminho, logo pensam que vivem mal e que as coisas não são como são, porque não são como elas acharam que deveria ser.
Algumas pessoas parecem achar que as pessoas são (ou deveriam ser) o que elas mostram. Algumas pessoas parecem crer que o que se faz na superfície é o que se vive e se pensa no mais profundo de si. São pessoas que têm certezas escoradas naquilo que pensam sozinhas, muitas vezes baseado no que lhes levaram a pensar quando viviam o momento de inocência que se tem na infância.
Várias e várias vezes vi pessoas procurando reproduzir o conto de fadas dos seus sonhos na vida vivida no mundo real. E sofreram. Sofreram porque não entendiam que o príncipe com que sonharam não existe e que aquele que deveria ser, está longe de ser.
Não. O que as pessoas mostram – o que nós mostramos – está longe de ser o que elas são (somos). O que as pessoas são, geralmente está do outro lado da porta em que se trancam longe dos olhos de alguém. Daí a expertise do grande Nelson Rodrigues, o cronista da vida vista pelo buraco da fechadura mostrando que as pessoas não são um poço de virtude. Que nem todo marido traído é vítima de sua esposa, mas muitas vezes, cúmplice da traição. Que nem toda dama da sociedade anda de táxi, mas gosta do contato dos corpos suados de motoristas e cobradores da lotação. Que nem todo machão está livre de, na hora de sua morte, pedir o beijo de outro amigo machão ou que por trás de uma irmã mais nova pode estar um anjo negro capaz de toda sorte de perversão com o noivo da irmã.
E você? Quantas vezes você fez algo que não queria que ninguém soubesse, que não te seria honrado, mas mesmo assim fez? Quantos são os teus gostos que você pensa que ninguém entenderia, mas que te assanham a uma vida que é só tua e de mais ninguém? O que se veria de ti, se te vissem pelo buraco da fechadura da porta que se tranca atrás de ti?
E não se trata de não poder resistir. Todos podemos resistir ao que quisermos. A questão é que não fizemos questão de resistir. É como quebrar um regime. Você está há dias só no alface e, de repente, se depara com uma suculenta torta de chocolate. Não conseguiu resistir? Conversa. Você não fez questão de resistir porque o prazer de agora seduz mais do que a esperança de amanhã.
Ah, o buraco da fechadura que nos esconde dos olhos da censura e nos permite a maquiagem que nos mostre quem achamos que será aprovado por quem a aprovação não se deveria sequer fazer questão.
Pelo buraco da fechadura você vai ver que um irmão dorme com a mulher do irmão ou uma filha que deseja seu pai sexualmente
Pelo buraco da fechadura um pastor acessa sites pornôs, um padre abusa de uma criança e um bom marido goza com outro homem.
Pelo buraco da fechadura, a dama que se mostra fiel dá-se aos homens mais impensáveis e o velho frágil oculta a sanha devastadora de quem precisa consumir e ser consumido.
Pelo buraco da fechadura têm-se segredos, perversões e todo um colorido que faz com que a vida possa ser tudo, menos a previsão de que todos são iguais, decentes ou não. O senso comum não entende da vida. O senso comum não vive. Só atrapalha viver.
Pelo buraco da fechadura as pessoas são quem elas são. Nem certas, nem erradas... só gente.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

A dor de mudar ser preciso

Toda mudança é um rompimento. Rompe-se com o que se era, com o que se cria, com o que se pensava. Rompe-se. Rompimentos não são indolores. Não. Rompimentos são sempre abruptos, duros, mas também necessários.
Essa necessidade de mudança não costuma surgir de uma hora pra outra. Pelo contrário. A mudança tende a ser sempre postergada até o momento em que ela se faça inevitável. Por se saber abrupta, sabe-se que ela tem toda a condição de causar dor e, geralmente, se a dor puder ficar pra depois, ela ficará. A mudança, então, também.
Só que viver é estar em constante transformação. Eu não posso ter por objetivo chegar ao amanhã sendo o mesmo que hoje. Não posso ser daqueles que não são afetados pelo mundo a minha volta e que, não importa quanto viva, não importa quantos encontre e nem quanto experimente, continuarei sendo o mesmo que sempre fui.  Preciso estar sempre aberto a que me venha o novo e, a partir desse novo, preciso repensar cada passo da minha caminhada a fim de ajustar os passos que virão, corra eu o risco que correr.
Sim, porque a autoanálise é sempre perigosa. É fácil medirmos a vida alheia. É fácil querermos apontar os erros e os acertos das outras pessoas; mas nos defrontarmos com nós mesmos, nossas escolhas e nossas consequências, pode ser uma das experiências mais doloridas a que nós mesmos nos sujeitamos.
Ninguém gosta de estar errado e, muitas vezes, analisar-nos implicará em por vezes acharmos que hoje estamos mais errados que antes e por vezes descobrimos que antes estivemos mais errados que hoje. E é difícil saber qual desses erros é o mais desesperador. O tempo que se perdeu ou o tempo que se perderá...
Contudo, a vida que anda pra frente não pode ser refém das escolhas passadas. O que não deu certo, o que não faz bem, o que entristece pode – e tem – que ser deixado de lado. E isso é crescimento.
Crescer não é só o processo que se inicia na infância e percorre ao longo de toda adolescência e início da vida adulta. Se tornar grande não é um processo apenas físico mas, principalmente, mental e espiritual lato sensu. É continuar absorvendo o mundo, refletindo o mundo e construindo a mim como alguém que se sabe capaz de ser melhor para o mundo, aqui entendido desde o planeta Terra até a minha vizinhança ou a comunidade (socio-familar-religiosa) que me tiver por mais tempo.
Mas crescer dói. É o osso que enquanto cresce, estica a pele e rompe músculo que precisa se regenerar, cicatrizar e continuar irresoluto até o seu destino e, mesmo ali, continuar firme para cumprir sua função, mesmo precisando se curvar. Crescer é a coragem de se lançar no precipício da dúvida sabendo que muitas vezes, o percurso vale mais que a chegada.
O que nós precisamos mesmo é cumprir com a nossa função de continuarmos mudando. Precisamos parar de ter medo dessa mudança, mesmo que ela cause dor. Não posso achar que o mundo muda o tempo todo e só eu é que tenho que continuar o mesmo seja pelo motivo que for. Viver é natural. Mudar é viver. Viver é mudar.... sempre! Mudemos, pois...