terça-feira, 10 de maio de 2011

AS GLÓRIAS DOS QUE NUNCA AS TIVERAM


A vida de alguns parece que foi desenhada para dar certo. Quantas e tantas vidas parecem feitas para o cinema, parecem próprias para biografias, como histórias prontas de quem nasceu para fazer história. Sim, a vida de muitos parece mais interessante que a nossa.

Os poetas saxões que me desculpem, mas me recuso a acreditar que haja na língua inglesa – e também porque não estudei pra isso – poetas que tenham dito o que os nossos disseram em português, essa língua marginalizada e que nós mesmos insistimos em não cultivar. Eu mesmo elejo o meu próprio triunvirato: Vinicius, Pessoa e Drummond. Não acho que tenha havido quem tenha sido mais.

Pois bem. Fernando Pessoa por quem tenho fascínio seja ele por quem ele quis ser, escreveu certa vez o seu Poema em Linha reta. Nessa poesia, sensacional como tudo que ele escreveu, disse que se sentia rodeado de semideuses incapazes de errar na vida, todos campeões em tudo, que nunca passaram um ridículo, mas nasceram para ser príncipes, perfeitos, incorrigíveis.

E não é que essa parece ser uma regra de todos nós, mesmo quando sabemos que nós somos os mais passíveis de errar e que não, nós não somos a exceção em um mundo em que, mesmo que haja os que são mais do que nós, há tantos outros que são bem menos.

E confesso que acho ridículo os que acreditam que mais vale a imagem que se mostra do que a vida que se vive. Ao longo dos meus dias não foram poucos os que ganham um dinheiro que nunca ganharão; tem as mulheres que nunca tiveram; são bem aventurados no meio de tanta desventura e são vencedores mesmo colecionando incontáveis derrotas.

Mas esses não vacilam um segundo no intento de se vangloriarem à custa de sua própria fantasia. E parecem convencidos de que de tanto repetirem as glórias que não tiveram, a perfeição que ainda não existe lhes resolverá chegar de onde não vem.

O medo e a vacilação são partes do que é ser humano. Amar e não ser correspondido; tentar e não conseguir; sonhar e não ver o sonho se tornar realidade faz parte da vida. E a maior glória que há é, apesar de nunca conseguir, jamais parar de tentar.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Bin Laden e o Sebastianismo - Texto do Bernardo

Texto do prof. Bernardo elaborado sob o clamor das especulações sobre a operação militar americana que culminou com a morte do líder da Al-Qaeda

Don Sebastião I (1554-1578) foi o décimo sexto Rei de Portugal e desapareceu lutando na batalha de Alcácer-Quibir, no norte da África, em 1578. Como seu corpo nunca foi efetivamente encontrado, havendo relatos discordantes de possíveis visões posteriores do monarca, criou-se em torno de sua morte um mito – o Sebastianismo - segundo o qual o Rei não teria morrido e retornaria como um messias para salvar o povo português.

Osama Bin Laden (1957-2011), terrorista saudita, fundador e líder da rede terrorista al qaeda, foi o mentor do atentado contra as torres gêmeas, em Nova York, em setembro de 2001, dando início à chamada ‘guerra contra o terror’, tornando-se o inimigo público número 1 do século XXI. Um dos homens mais procurados do mundo, foi morto por tropas estadunidenses em uma mansão no Paquistão no último domingo.

Mesmo que aparentemente não se aviste semelhança entre os dois, a incerteza quanto ao destino de seus corpos pode causar efeito parecido. Os Estados Unidos optaram por jogar ao mar o corpo de Osama Bin Laden, num sepultamento simbólico, mesmo que injustificado. Ou seja, ninguém viu nem verá o cadáver.

Assim como o povo Português teve no mito criado em torno de Don Sebastião um mártir, capaz de, em seu retorno, significar o salvador de Portugal, país que se via sem autoconfiança, diante de derrotas que poderiam redundar na perda de sua soberania, alguns extremistas do islã, sobretudo talibãs, podem enxergar num Osama Bin Laden sem corpo, sem sepultamento, sem imagens que comprovem sua morte, um novo Don Sebastião, eventual messias, apto a, em sua volta, salvar a causa islâmica em sua eterna luta conta a sociedade judaico-cristã ocidental. O próprio Bin Laden chegou a afirmar que poucos como ele haviam sido enviados por Alá para se tornarem mártires. Os EUA parecem estar querendo fomentar a “dádiva”.

O Sebastianismo português tem inúmeros simpatizantes, havendo se espalhado inclusive em outros países colonizados por Portugal, como é o caso do Brasil. Radicais islâmicos, seguidores ou simpatizantes da causa de Osama, existem aos milhões pelo mundo, até mesmo no Brasil.

As conseqüências do patrocínio estadunidense ao Sebastianismo de Osama Bin Laden só poderão ser conhecidas no futuro. Mas é sabido que o ser humano é pródigo em criar mitos. Ainda mais com um fomento desses.

Bernardo Schmidt Penna é advogado, mestre em Direito e coordenador do curso de Direito da UNESC.


Nota do blog: a medida que o dia amanhecia no Brasil, a Al-Qaeda confirmou a morte de Osama Bin Laden.