terça-feira, 2 de agosto de 2016

A beleza da mulher é ela... e vai muito além do que é bonito

É algo que já vem me incomodando há algum tempo, mas que abordar não é tão simples quanto parece. Até pela dificuldade de encontrar o tom certo e não incorrer no risco de soar piegas ou excessivamente condescendente, como se fosse só mais um desses que quer parecer melhor, diferente ou mais bonzinho do que é.
Mas é certo que há algum tempo venho pensando nisso e assistir a um trecho de um discurso da Michelle Obama fez nascer em mim a vontade de rascunhar algumas considerações a respeito do jeito muitas vezes mesquinho (pra não dizer baixo ou vil) com que os homens se acostumaram a tratar as mulheres.
Resumidamente, nesse vídeo ela falava da experiência – comum a tantas mulheres – de serem resumidas a um corpo a ser observado, como se sua primeira missão na Terra (e para alguns a única) fosse servir aos olhos dos homens e ao seu jeito bruto de muitas vezes se fazer notar. E em tempos de discursos de afirmação e empoderamento feminino, é imprescindível que se combata esse tipo de visão.
Aliás, é interessante como alguns homens não conseguem deixar de se incomodar com o fato de cada vez mais direitos serem conferidos às mulheres, direitos que antes julgavam serem só seus e, pior para eles, terem que lidar com o fato de que a maioria das mulheres têm se mostrado melhor e mais competente do que eles em muito do que fazem. E então se apressam a desmerecer, desprestigiar, menoscabar os movimentos que clamam e lutam pelo recrudescimento dessas conquistas.
Mas não cabe que me saia do foco. Meu mérito aqui é considerar o quanto os homens ainda parecem não ter entendido que as mulheres conquistaram o direito de terem sua vida, seus gostos, suas vontades, suas escolhas e direções e que elas não se bastam mais no papel de coadjuvantes de um homem altivo, que age como verdadeiro senhor e a quem elas servem quase gratas pelo desposar que lhes legara uma posição no mundo e cuja recompensa é um pequeno mimo, um elogio, um galanteio, um corte de renda, uma rosa ou um bombom.
Não quer dizer que, necessariamente, as mulheres de hoje não apreciem gestos corteses, pequenas gentilezas ou até certos galanteios e elogios, mas quer dizer, isso sim, que as mulheres não abrem mão do respeito à sua individualidade e, principalmente, à sua singularidade. E me parece que é essa – a singularidade – é que deveria ser vista, apreciada e elogiada.
Tenho a impressão que por mais agradável que seja a beleza de uma mulher, reduzi-la à essa sua beleza é limita-la quando ela é muito mais. Há mulheres que além de estaticamente lindas (seja dentro dos padrões de cada época e lugar, seja dentro dos padrões pessoais de cada um) são ainda mais interessantes e tenho pra mim que, mais do que o elogio à sua beleza, preferirão ser vistas pelo que representam na vida que vivem, pelas conquistas que fazem a partir do seu esforço, das suas lutas, pela humanidade que lhes habita e lhes singulariza naquilo que elas foram se formando na assimilação das experiências que lhes transformaram em quem são. Esse reconhecimento talvez faça ainda mais sentido e as faça ainda mais feliz.
Se é verdade que a beleza tem a sua importância, não é menos verdade que ela está nos olhos que a veem e é mais do que hora de aprendermos a olhar com os olhos certos e enxergarmos as mulheres não mais como um corpo bonito a ser apreciado, mas sim como um ser humano a ser admirado muito mais pelo que ela é do que por como ela se mostra; dando muito mais valor para o que lhe habita e para o que ela é: alguém que pode somar e contribuir e que faz com que se saiba e sinta que ela é boa (de se ter por perto porque agradável, inteligente, divertida... porque ela é ela).
Então é preciso deixar que as mulheres falem e que as escutemos (e se interessar por isso, gostar disso). Saber o que elas pensam e o que sonham (e gostarmos do que pensam e dos seus sonhos). Conhecer as suas histórias, suas crenças, as suas opiniões. É preciso dar valor ao valor que tem nessas mulheres terem voz e daí entendermos que também essas vozes, esses pensamentos, esses sonhos e essas histórias são bonitos e também tão importantes. Que a mulher não é o troféu bonito e ansiado a fim de ser exibido ou conquistado, mas a dona da sua vida e a fazedora da sua história, disposta a se deixar conviver com quem ela também quiser segundo as circunstâncias que a levem a querer. Dona dos seus sentimentos, sentidos e sensações. E que pode ser forte e que pode querer se grande e está tudo bem. É até melhor.
Ah, quando os homens entenderem que a beleza é muito mais do que o que é bonito...
Achou aquela mulher bonita? Ótimo! Agora presta atenção nela e encontre muito mais. Vai valer a pena...