Uma das minhas preocupações de
ano novo (e vejam a que ponto cheguei: se outrora fazia resoluções de ano novo,
pego-me, agora, em meio a preocupações de ano novo) é com o excesso de mau
humor e de rancor que parecem estar tomando conta de grande parte das pessoas. Se
é que posso tomar as redes sociais como termômetro para uma amostra “meio
generalizada” da sociedade, apontaria indivíduos cada vez mais armados uns
contra os outros, prontos para dispararem suas raivas, seus ódios, descarregarem
toda a sua frustração contra quem quer que seja. E não consigo acreditar que
façam isso por prazer. Enxergo mais uma necessidade, uma compulsão, do que uma
liberalidade de quem pensa “hoje é dia de fazer mal”. Imersos na frustração que
muitas vezes nem sabem que têm, detratam e distratam o outro porque só na
tentativa de diminuir um é que conseguem a fantasia de se sentirem relevantes
uma vez que aumentados na condição de nada do nada que são.
Agora, se por um lado quero viver
essa fé de que esse mal (da detração e do distrato) é um impulso motivado por
uma frustração recalcada e, portanto, a maioria faz sem que tenham, de fato,
escolhido fazer, eu acredito que fazer o bem pode, sim, ser questão de escolha.
E não vejo razão para não sê-lo e para que não seja. E daí que o que começa
como uma preocupação pode, muito bem, fazer-se fonte de inspiração: e se o
tempo do ano novo se fizesse tempo de um novo jeito de ser? E se ao invés de
sermos duros e ressentidos, houvéssemos uns aos outros com mais carinho e
gratidão? Se ao invés de mágoa e rancor, compreensão e amor? Não descuido, mas
o cuidado de quem presta atenção no que há e em quem vem.
É tudo uma questão de sermos mais
atentos com a vida que nos é dada a viver. E com aqueles que vivem conosco – e a
gente com eles – na vida que nos é dada a viver.
Ora, certamente nos há aqueles
que gostamos e que nos gostam e se há os que gostamos, são esses que queremos
felizes. Pois façamo-los felizes. É tempo de construirmos dias felizes, lutarmos
bravamente contra a tristeza uns dos outros, nos ocuparmos de quem parece
abatido e, tantas vezes só precisa de um sorriso que lhe diga “conta comigo; estou
aqui”. Isso é construir felicidade em períodos de tristeza. E temos esse poder,
essa... possiblidade.
Por exemplo: que tal fazer alguém
feliz no meio de uma tarde em que não espera aquela ligação? Sim, porque
mensagens em aplicativos qualquer um manda, mas um “só queria ouvir tua voz pra
saber se estava tudo bem e te fazer saber que eu te quero bem”, não é qualquer
um que tem. É uma questão de mostrar que o mundo até pode ser grande, mas o teu
se basta na presença feliz de quem você quer bem e não esconder e nem ter medo
do que vem disso.
Que tal um convite para um
programa, sentarem num bar, restaurante, conversarem, verem um filme, ouvirem
música? De repente saem os dois pra caminhar e, então, enquanto conversam,
percebem a lua, param para olhar a lua, um do lado do outro, sorriem um para o
outro, calam-se, dão-se as mãos, sentem-se, voltam a andar, olham-se, um dos
dois olha tímido para o chão e daí se deixarem levar pelo momento que por ser
bonito lhes faz... felizes?
Gente feliz não tem tempo de se
incomodar se alguém escreve o que não gosta ou se alguém gosta do que detesta.
Gente feliz que vive no mundo de carne e osso não se incomoda com o que o outro
faz no mundo virtual (e nem no real). Gente feliz que vive, vive pra valer. E
sente e goza e gosta e ri! Não vegeta em cima de uma cama, trancado num quarto,
esperando que percebam que está vivo quando falta bem pouco pra terminar de
morrer.
Mas gente feliz não vive sozinho.
Não porque não dê, mas porque ser feliz também é questão de fazer.
Vamos sair, procurar quem e vamos...
vamos viver!
Feliz 2017!!!