segunda-feira, 14 de março de 2016

O caminho do Sucesso parte I - Há excelência nas Excelências? Eu acho que não...

“Todo mundo é um gênio. Mas se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores ele vai gastar toda a sua vida acreditando que ele é estúpido.” (frase atribuída a Albert Einstein)

Não queremos uma vida curta. Logo, ansiamos uma vida longa. Mas seja curta ou seja longa, a vida é vivida um dia de cada vez. E se ela é vivida um dia de cada vez, todo dia é dia de optar, de fazer, de escolher, refletir e refazer. Principalmente de fazer e refazer.
Digo isso porque quero falar do que tem me parecido uma das causas de angústia de muitas pessoas: o caminho do sucesso. Mas aqui eu quero ser um pouco mais específico e falar do que muitos consideram um exemplo de ter sucesso: a aprovação em um concurso público.
Num país economicamente instável como o Brasil, é natural que a maioria das pessoas anseiem a aprovação que lhes garanta a ocupação de um cargo que se não tem os maiores salários (comparados a certos ganhos na iniciativa privada) ao menos dão a segurança de que sempre haverá salário.
Contudo, especialmente no mundo do Direito – mundo em que me vejo inserido de forma mais objetiva – percebo uma grande inversão de valores no que diz respeito às aprovações em concursos públicos: muitos que são aprovados passam a ser tratados – e, consequentemente, passam a se considerar – como gênios da espécie humana, como se essa aprovação tivesse alguma relação com um talento inato da arte do saber. Podemos dizer, inclusive, que a partir do momento em que alguns passam a ser tratados por Excelência, também passam a ser sentir excelentes.
Acontece que nesse mister, eu prefiro me fiar mais (ou apenas) nos profissionais do assunto do que nos protagonistas dessa autoestima “(in)justificadamente” alta em relação aos seus mecenas intelectuais. Não por um acaso, é palestra comum a todos os professores dos cursos preparatórios, a analogia do concurso a uma competição de resistência, segundo a qual aquele que não desistir antes do fim será premiado (ou seja, o concurso é quase uma prova do líder do BBB). Assim, o concurso não tem a ver com o que eu sei, mas com a condição que eu tenho de aprender e apreender o que eu não sei, de modo que o concurso, de ordinário, não tem qualquer relação com a genialidade, mas sim, com as muitas horas de estudo e a boa capacidade de memória para reter o que foi estudado.
Genialidade, por sua vez, está presente naquele que sabe sem que lhe tenham ensinado. É gênio aquele que antes dos 9 anos já compôs uma sinfonia ou aquele que pintou um quadro com cores próprias de sua aquarela. É gênio aquele que viveu até quase 80 anos sem nunca ter saído de sua cidadezinha no interior da Alemanha e, mesmo assim, escreveu tratados sobre ética que mais de 200 anos após a sua morte ainda são referências de uma obra incomparável. É gênio aquele que muda uma vida quando o contato não é consigo, mas com a sua obra.
Então é bom se perceber que o concurso público não faz de ninguém uma excelência, muito embora lhe empreste certos títulos de excelentíssimo. E tampouco o concurso público é a única forma de sucesso, muito embora seja, sim, um exemplo de vitória. Os que o alcançam não são mais bem providos de intelectualidade do que os que se encerram em gabinetes em busca do que evolua a sociedade a que pertencem, tanto ou mais do que aqueles que querem evoluir o patrimônio que detém. E vai-se além: muitas vezes o concurso público é o único recurso que alguém tem e a exceção talvez esteja naqueles que, de boa família, querem ser parte do minsancene ou mesmo gozar o status e prestígio que o cargo – mais que dinheiro – dá. Sem contar alguns poucos a quem aprova servir. Mas mesmo esses precisam de esforço e não de gênio. E gênio não se esforça, faz. Sabe que sabe, mas muitas vezes não sabe como soube.
Ademais, chamar um aprovado de gênio, ofende e minimiza o seu esforço e de certa forma lhe diminui o mérito pela conquista.
É certo que bons salários trazem conforto e possibilidades. Também é certo que sonhos só são possibilidades quando mais que desejo, são projetos de execução viabilizada por escolhas condizentes. E se a vida vai ser longa, é sempre possível aprender mais que memorizar e aprender para além da questiúncula que separa o esforço do talento. Os grandes nomes da história sabiam de tudo e não se limitavam a nada. Mas se é sintoma da nossa sociedade, cada vez é mais evidente que o destino de muitos é se comparar com outros e, a cada comparação, tender a se julgar e, ainda pior, se limitar. E isso é triste. E não tem nada de inevitável ou obrigatório.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Relacionamento: cada um na sua mente

É comum se assistir a defesa de um argumento em que no relacionamento um deve fazer o outro feliz. Não raro, esse argumento coloca sobre o outro a responsabilidade de agir de maneira tal que sob sua ação o outro encontre a plena satisfação... só que consigo. E pior: a certa altura, por um se sentir credor do carinho do outro (sobre esse tema, clique aqui), é comum que cruze os braços e espere a ação do outro que, muitas vezes, até está se esforçando, só não está acertando. É comum que um sempre ache que faz mais.
Em minha opinião, o problema está no fato de que ninguém está na cabeça e nem na história de ninguém. Muitas das coisas que o homem ou a mulher desejam têm a ver com o que lhes fora introjetado ao longo da sua existência. Muitas demandas que o eles tenham nessa “batalha de amor” só fazem sentido para ele ou ela porque essas demandas têm a ver com o ser que ele/ela se fez e é justamente por essa razão que nem sempre fazem sentido para o outro do relacionamento que tem a sua história, anseios e crenças diferentes a respeito da vida, do amor, enfim, de tudo.
Assim, se nem sempre o desejo de um faz sentido pro outro, não é certo e nem justo que se exija (ou se espere) que esse outro lute pela felicidade daquele que não é ele, quando é só um que sabe o que tudo o que deseja significa para si. O outro é, no mais das vezes, um eterno ignorante sobre tudo o que não lhe é passado.
É por isso que, no meu entender, quando se fala em relacionamento feliz, ele só pode existir mediante o encontro de duas felicidades e, nesse sentido, defendi, defendo e defenderei o relacionamento como sendo o encontro de várias individualidades, bem satisfeitas em si, em que se abre mão de uma parte da própria individualidade em prol de parte da individualidade do outro. Nunca essa bobagem de dois serem um, mas sim, de dois serem par em busca de uma vida ímpar.

terça-feira, 8 de março de 2016

A Vida dói, mas sobrevivida mata: uma questão de escolha do papel que quer viver

Uma das escolhas que temos que fazer todos os dias de nossa vida diz respeito ao papel que queremos desempenhar na nossa história e, nesse caso, temos duas escolhas possíveis: ou seremos protagonistas ou meros coadjuvantes da nossa existência.
Viver dói. Viver exige. Viver impõe um agir constante em direção a um destino querido, mas incerto. Só que as duas outras opções estão longe de parecerem melhores. Isso porque se não vivemos só nos resta ou morrer ou sobreviver.
Ora, após a morte não resta vida e se não há vida, não há mais nada e, portanto, o pós-morte é o insondável e impalpável que não interessa. Agora, sobreviver é muito mais do que se faz e, se viver dói, lutar para se fazer vivo pode ser muito pior.
Quem sobrevive não vive as próprias circunstâncias. Luta contra as forças que lhe açoitam, lhe machucam. Quem sobrevive faz o que resta ser feito e não pode escolher aquilo que fará na sequência. Quem sobrevive não dá as cartas, só recebe e é com elas que tem que jogar, com a certeza única de que a maior chance que tem é de perder. Quem sobrevive não vive, só se mantém vivo.
E aqui entram e se separaram protagonistas e coadjuvantes. Ambos com papeis importantes em toda produção.
O coadjuvante é aquele que escolhe ser adjutor. É aquele que goza a felicidade alheia. Não faz grandes planos para si, mas folga em que os que estão a sua volta sejam completos e contemplados nas aspirações deles. O coadjuvante não se destaca, não marca, não ganha. No máximo empata. O coadjuvante não tem a sensação de ser grande e o prazer de ser o primeiro. Geralmente o coadjuvante não tem, sequer, a vocação para ser o primeiro. A guisa de se mostrar bem resolvido, tende a esconder uma autoestima afligida por tempos de descuido de outrem, uma autoestima flagelada que lhe impede a altivez da cabeça e dos ombros erguidos, em troca de uma postura de quem ri para o chão porque geralmente olha para os pés. O coadjuvante é o que sobrevive. O que rema no sentido da maré e a favor da correnteza, mesmo que o final seja ser engolido por águas bravas que jamais lhe deixarão emergir e que lhe riscarão de uma história que nunca teve.
Diferente do protagonista. O protagonista vive. O protagonista não se basta no que lhe é dado, mas toma para si o que se tem imaginado. O protagonista não vive um relacionamento de conveniência e nem se nega desejos em nome de alguma pseudomoral. O protagonista não deixa de fazer porque deixar de fazer lhe custa a vida que sempre lhe urge. Ele não tem medo do erro e nem da dor. E nem da morte. A morte lhe dá pena porque a morte de alguém como ele soa desperdício. O protagonista enfrenta, rebela-se, insurge-se, cerra os punhos e os dentes, não para, não cansa, não desiste porque sabe que tudo o que quer depende de tudo o que faz. O protagonista não tem medo do preço, ele paga o preço. Não tem medo do futuro: ele encara o presente sabendo onde quer chegar e por isso vai. O protagonista chega ao topo porque pra ele, o topo é só mais um degrau onde ele tem que chegar e, pra isso, ele faz o que tem que fazer. O protagonista não se basta em ter que ser. O protagonista é.
Em tudo isso, o ser ou não ser da existência é a escolha primeira de quem anseia viver.