terça-feira, 23 de outubro de 2012

Isso me mata aos poucos


“A lágrima negra fez rolar
dos seus olhos cheios de dor”



Se não há amor, não há vida! Onde não há vida, há morte!
E o coração sangra ao ritmo de mil e uma canções de tristeza.
Quantas são as vidas que vivem se sentindo presas à dor inevitável?
À dor de ser a vida que são: reduzidas ao nada que sempre serão?

O colo está vazio na espera eterna de quem lhe venha ocupar.
O copo está vazio do líquido nefasto de quem bebe para não acordar.
Esquecer? É inútil! É mera tentativa vã de quem ainda tem coração que bate.
Ritmo cada vez mais lento, descompassado, mas atento à espera do som da sétima
                                                                                           que anuncia o fim.

O abraço que tinha os braços abertos foi rejeitado.
Ao mesmo tempo, o amor que se havia (e era real) foi obrigado a morrer sufocado de si.
Por si e pelo outro, alguém renunciou o que desde sempre havia para ser.
Mas se houvesse mesmo que ser, teria sido.
Se não foi, é porque nunca será.

Ah! Malditas sejam as noites escuras e frias em solidão.
A companhia da vida ainda é a dor.
A morte é o alento da vida: mas ela custa chegar!
Pede-se, então, clemência aos dias.
Eles se riem e as horas continuam a passar.

Mais um dia! Menos um dia! Quantos mais dias até acabar?

Não! Não! Não!
Não há dor que se justifique na vida
E nem haverá vida se imerso em dor.
Mas dói.
E de tanto que dói, ainda assim, desatina a doer.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A vida surpreende.. Ah! se surpreende.



A vida surpreende. Ah! se surpreende. Um lugar comum sobre ela: em um momento você pensa ter todas as respostas, mas ela vem e muda todas as perguntas.
Mas nem sempre é assim. Fica tudo mais gostoso quando a vida, ao invés de mudar as perguntas, vem com tudo e o que ela muda mesmo são todas as nossas respostas.
Quem antes era importante, passa a ser apenas “uma lembrança” (e isso, quando esse alguém nos foi muito em algum dia). Já naqueles casos em que talvez tenha sido muito menos do que pensávamos que era ou mesmo em que nem tenha sequer chegado a ser o tanto que teríamos permitido, esse alguém não passa de uma simples passagem de uma vida de muitas passagens.
De repente, quando menos nos damos conta, nosso dia se faz cheio de uma outra e diferente (e muita vezes melhor!)alegria. É outro o bom dia que dá cor ao nosso dia; é outro o sorriso capaz de nos fazer sorrir. E isso é bom.
E é isso que faz a vida tão boa, tão rara: sorrisos que trazem sorrisos, olhos que trazem brilhos em outros olhos, lembranças que inspiram sonhos e sonhos que fazem sentir prazer em sonhar. Acordamos e esperamos o primeiro minuto que fará todos os outros pararem ao mesmo tempo em que parecem passar tão depressa e, mesmo quando parece que estamos parados e que o agora é o contrário de tudo que parece poder ser ainda melhor, nos sentimos vivos porque sorrimos ao invés de chorar.
Ah! A delícia da liberdade de sorrir quando não há mais dor.
O sorriso de hoje não é nem pior e nem melhor do que o de antes. Mas ele é o único que é de verdade, porque é o que sorrimos agora! E que bom que sorrimos... Sorrir por causa de nós mesmos é uma ótima forma de sorrir, mas ter quem nos faça sorrir por causa de si (que num instante parece metade ideal de quem somos nós) é ainda melhor. E, então, estamos sorrindo esse sorriso que gostamos de sorrir.
Eu sorrio; tu sorris e se eles sorriem bom pra eles que sorriem como sorrimos nós.
Ciclos...
Os rompimentos que fazemos com as nossas muitas vidas e suas mais diferentes fases assustam. Alguns são tão impensáveis dias antes que nem nós entendemos como chegamos “aqui”. Mas chegamos, estamos e prosseguiremos e é quando olhamos pra frente e deixamos que o passado cuide do que ficou, que a vida vem e nos surpreende. Ah! Se surpreende... e como surpreende...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Nosso destino é ser igual?


Então, a vida da gente é uma repetição da vida dos outros?
Será que viver é esse ciclo repetitivo onde o que eu faço é o que outros já fizeram?
A vida é mesmo um museu de grandes novidades, como diria o grande Cazuza?
Ou não será verdade que quase todos parecem ter as mesmas angústias, as mesmas dúvidas, os mesmos receios e necessidades semelhantes?
Somos mesmo todos iguais? Somos todos iguais desde quando? Somos desde sempre iguais em quase tudo? Ou fomos convencidos a termos as mesmas dúvidas e os mesmos quereres para que, cada vez mais iguais, não se reparem nos “erros” de quem seja diferente?
Nascer, crescer, trabalhar, casar, ter filhos, criar filhos, trabalhar, morrer (não necessariamente nessa ordem de meio). Sabemos nosso começo e nosso fim, temos um espaço pra preencher, mas, invariavelmente, acabamos preenchendo todos de um mesmo jeito, cada um com as suas prioridades. É como se já tenham traçado nossos caminhos. A escolha que dizem que temos é limitada por uma série de fatores que nos são impostos e, no mais das vezes, aceitamos. Assumimos como sendo bons, como sendo certos.
Andamos nas ruas e, se nos ocuparmos de olharmos para fora de nós, veremos rostos marcados pelo cansaço e pela dor de pessoas que não são elas próprias, mas sim, o resultado de um roteiro que lhes traçaram ainda antes de existirem. Muitas vezes não fazem o que gostam, mas sim, o que precisam. Toleram o dia de hoje em nome do pagamento de amanhã e até esse parecerá pouco diante do sacrifício que, no mais das vezes, é muito.
Olhamos casais e vemos que estão juntos pelo hábito de estarem juntos. Não se fazem mais felizes (talvez nunca tenham se feito felizes), mas as circunstâncias indicam que seu lugar é ao lado daquele estranho que ele conhece há tantos anos. O esposo olha pra esposa e não vê alguém para amar, cuidar e respeitar, mas sim, a castradora de seus sonhos de outrora. Aquela que impede sua felicidade agora, porque ele está preso num compromisso do qual, muitas vezes, ela também quer sair.
Por sua vez, a esposa, independente financeiramente, não consegue entender que aquele homem que lhe seria o companheiro, nunca lhe foi. Antes, quisera ser o senhor da vontade de ambos, não conseguindo aceitar que ela, ser pensante e que sente, também tem vontades e também as quer realizadas. Vivem uma guerra de vontades que, ao invés de aproximá-los, termina por lhes afastar de uma forma irremediável.
A esposa tolera o esposo que por sua vez suporta a esposa e ambos não veem que ainda há tempo de serem felizes numa vida diferente de agora.
Nascer, crescer, trabalhar, casar, ter filhos, criar filhos, trabalhar, morrer. Não. Não fugiremos desse destino. Esse é o maktub mais certo que há. Como faremos isso só depende de nós. A dor é optativa. Sente-se uma vez, mas continuar sentindo é uma opção de quem já desistiu do melhor que a vida pode oferecer.
Eu sei que lendo essas linhas pode se pensar que viver é uma merda. Talvez, às vezes até seja. Desde que você opte por não fazer, por não se mexer. Por patinar no mesmo lugar em nome de medos que te impedem de se sentir vivo.
Tua primeira escolha deve ser você. Todos que te amam, te querem bem ou até precisam de você, não estarão bem se você não estiver. A dor do pai será sempre a dor do filho; a dor do filho trará dor ao pai. O bom amigo se ressente na tristeza de seu amigo e o marido de verdade se ocupa da lágrima da mulher. A boa esposa é a razão do sorriso do marido e quando não são, não há mais porque se ser, nem continuar sendo.
O tempo é já e é só ele que temos. Ninguém vive sozinho e nisso somos novamente iguais.
Nascer, crescer, trabalhar, casar, ter filhos, criar filhos, trabalhar, morrer. Mas, acima de tudo, VIVER!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Diálogo do adeus ao que pouco (ou nunca! e talvez nada) existiu


- E como você imaginou que seria?
- Diferente... diferente de tudo. Eu sorriria por causa do teu sorriso que se abriria por causa de mim. Não haveria problema impossível de se enfrentar e o fim pareceria uma ideia absurda. Quando eu chegasse cansado, o teu abraço me daria força e, se de repente eu viesse a chorar, o teu carinho é que me faria feliz.
- Mas você fala como se a vida fosse só o que é bom, como se tudo fosse fácil e nada fosse difícil, como se não fôssemos ter problemas, tristezas, como se pudesse ter certeza de que tudo seria perfeito...
- Não. A vida não é mesmo só o que é bom. Mas você sempre foi. Quando eu pensava nessa loucura de nós dois era como se ao teu lado eu pudesse me sentir invencível. Era como se... como se por ser você já valesse a pena. Pra te fazer feliz, pra você se orgulhar de mim. Quando ficasse difícil você seria o principal motivo para conseguir mesmo assim, porque chegou um momento em que não consegui mais pensar em mim onde não houvesse a minha metade que me fazia vivo e só me via e me sentia vivo quando me via com você... sou muito louco, né?
- Se você é, eu também sou. Mas tenta me entender. Não se trata só de experimentar o que se sente. Há vidas, histórias, instantes, momentos em jogo. É difícil... eu sei quem eu sou, assim, desse jeito de agora. Mudar tudo, mes...mesmo com você, me assusta, porque eu... eu deixaria de ser essa aqui que se olha no espelho, se vê triste, se vê só, mas já se acostumou. Por mais que eu pense mais do que deva, por mais que eu sinta o que não deveria sentir e por mais que tudo que eu queira seja com você, o fato é que eu... eu não sei quem seria essa mulher que serei eu. Eu seria feliz e ser feliz não parece alguém que seja eu. Desisti desse tipo de felicidade...
- Bobagem. Sei que assim como eu, você se sente feliz só de saber que eu logo chegarei no meio do teu dia. Sei que eu surjo e você sente uma felicidade que é verdadeira e, quando eu apareço, teu dia se ilumina. Eu sei porque é assim comigo quando me surge você. Tudo que eu espero no meu dia desde o primeiro minuto em que ele começa é que ele me traga você.
- Nããão. Não pode ser assim. Você nem me conhece. Não teve tempo de saber dos meus defeitos, das minhas manias, de quem eu sou quando ninguém me olha. Do que eu faço e você não vai gostar. Você tem a parte de mim que te mostro. E só. Você quer o teu ideal de mim e eu não posso ser comparada a imagem que você faz de mim. Não dá pra eu sair de onde estou para correr o risco de não ser quem você quer que eu seja. Tudo isso é loucura. É carência. É bobagem, é bobeira.
- Mas não me interessa. Me chame de louco, de inconsequente. Eu quero você e ponto. Quero descobrir quem você é enquanto estou com você. Se é que você não é quem eu penso, pior pro que eu penso que perdeu tempo de não te saber exatamente como você é.
- É fácil falar...
- Não é. Eu tinha jurado pra mim mesmo calar qualquer voz que me fizesse querer alguém desse jeito que quero você, mas quando deito e o silêncio da noite é único som que me cerca, ele sussurra tua voz. Se não consigo dormir e saio à varanda e olho as estrelas, elas me mostram teus olhos. Se tento fugir da imagem do teu rosto e fecho meus olhos, sinto como se a brisa me trouxesse o perfume de você. O dia me lembra você e a noite me faz sentir tua falta. Sentir falta de quem não tenho... e só sinto isso com você.
- Lindo! Mil vezes lindo! Seja o que você me diz. Seja o que você nos sonha. Seja tudo que penso de nós. É lindo, mas tem que morrer aqui. Não vai dar certo. Não é certo! Talvez numa outra vida, num outro momento, uma outra história. Eu quero o que não posso querer. Você quer o que talvez nem saiba bem o que seja, mas uma parte de mim só vê tristeza nessa história feliz. E triste eu já sou assim e me acostumei assim... quando você sair e bater a porta uma parte de mim vai dormir sem querer se acordada. Enquanto dorme, vai sonhar os momentos que não viveremos e vai viver todo esse amor que os dois sonhamos. Eu vou chorar e cada lágrima vai ser só uma parte de uma dor que não era pra vir de ti e eu não vou ficar bem. Mas vou te proteger de mim. Te proteger de uma história em que basta que um perca, basta que um sofra... basta! Saia daqui. Meus olhos não são tão fortes e eu não quero que me veja chorar. Teus olhos estão tristes e meu peito dói quando vejo que a mesma força que faço, você faz contra as lágrimas dos olhos teus. Não vou conhecer teu beijo e nem posso precisar do teu abraço. Mas vá. Vá e se puder me esqueça...  Agora, se me lembrar, me lembre com o mesmo amor que me faz te pedir pra partir.