É gente demais acreditando que é
feliz “de menos” porque fica se comparando com uma série de inverdades pregadas
por quem quer dizer que a vida é vivida segundo receitas que garantem que a
tristeza é coisa de quem não tem a atitude correta.
Vivemos uma era em que ser feliz
é uma exigência. É o que tem que ser, o que deve acontecer, é o que não pode
faltar. Se falta, não acontece ou se não é, deve-se abandonar o que há e buscar
o novo que satisfaça porque é preciso provar da fé de que a felicidade é a
única opção.
É tanta pressão para ser feliz
que a gente disfarça. Começa a se mostrar sorrindo, gostando, gozando de uma
vida cheia de venturas e de prazeres que não passam da superficialidade de uma
existência cuja verdade está escondida dos olhos que não querem ver que nem
tudo é como se mostra e se parece ver. E é quando comparamos a verdade da nossa
tristeza com a mentira da felicidade (re)produzida que julgamos que somos mais
tristes.
A nossa impressão de tristeza pode
ter muito a ver com um tempo em que todos devem (pelo menos) se afirmar felizes
– e “plenos” (pra usar a expressão da moda).
Não por um acaso, são inúmeras as
capas de revistas e chamadas de sites que trazem as receitas sobre a carreira
exitosa ou do relacionamento ideal, de como ter o casamento de sucesso, do sexo
mais ousado e do orgasmo mais intenso (tântrico!). São tantas as fórmulas que
garantem que tudo pode se tornar o máximo, que passamos a buscar culpados
quando o que temos é a impressão de vivermos o mínimo.
Passa-se a acreditar que a
felicidade é uma questão de exterioridades. Que ela vem de fora para dentro,
como se uma experiência ou uma companhia tivessem a responsabilidade de mudar a
nossa vida e nos provar que todo dia sempre pode ser o melhor dia. Daí, quando
aquela companhia “falha” e nos pegamos entediados, frios ou tristes, pensamos
que é nela que há a falta do que nos impede de alcançarmos o destino da
felicidade.
Não se pode ter um casamento mais
ou menos, um namoro que não seja puro fogo, uma amizade que não confidencie o tempo
inteiro ou que chateie com aquela verdade que não é todo mundo que tem coragem
de dizer e que são poucos os dispostos a ouvir. Não se pode viver uma vida de
menos emoções, adrenalinas e saciedade porque a vida foi feita para ser o ápice
de todo desejo realizado. E isso, sim, é triste.
É triste não se sentir com o
direito de ser triste e ter que sorrir porque todos fazem que sorriem. É triste
se acreditar sendo menos só porque se compara com alguém que não se constrange
em afirmar que faz sempre mais do que faz. É triste ter que ser feliz e fazer
da felicidade objetivo, ao invés daquele momento que “faz valer a pena ter amanhecido”.
É claro que a felicidade existe e
pode ocorrer. Mas assim como ela chega, pode ir e ficar ausente por mais tempo
do que a gente gostaria. E até isso faz parte. A vida é feita de momentos que a
gente se alegra por terem havido quando gente estava ali gostando de gostar.
Momentos que passam, mas que permanecem, não como sentimento, mas como a
memória de que é possível sentir.
Alguém disse que permanecer feliz
é possível, muita gente acreditou e, agora, quando comparam com sua vida de
verdade, vivem sob o peso de um fracasso que nem tem. Por isso que não é
preciso lamentar a tristeza e nem se disfarçar de feliz. Basta ser o que é, no
instante em que for e aprender que o mal dura o tempo exato que leva para
deixar de ser dor. E dor é o que não falta no mundo (não importa quão feliz todos
precisem se mostrar).
No mais, a felicidade também há.
E, porque há, haverá. E naturalmente. Sem pressa e sem pressão. Sem que tenha
que ser, mas mesmo assim simplesmente sendo... feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário