sexta-feira, 23 de agosto de 2013

À primeira vista: depois do primeiro olhar

Agora que já não estás, posso te dizer o que calei. Queria que soubesses mais do que te fiz saber (e isso foi mais do que você quis saber). Calei porque os dias diriam, as semanas passariam, os meses seriam tantos e fariam os anos mais. Mas não foi. Era pra ter sido. Mas se fosse, seria. Não foi. Mas o que passou não apaga quem vejo que você é.
É... às vezes a gente precisa fechar os olhos pra enxergar quem não está (mais) à diante. E daí a memória (a boa memória) é a maior aliada do bem da nossa alma. Olhos fechados e te vejo de novo e de novo e de novo. E gosto toda vez.  Lembro primeiro de te ver andar na minha direção e foram 06 passos que apagaram tudo o que havia em volta. Só havia você. “Oi, prazer...”. Prazer. Meu peito se dividia entre o nervoso, o ansioso e o feliz. Bobo... Depois sou eu que vou até você. Mas o que eu digo? Eu digo? Digo o que? Por que? Mas eu... eu me queria perto... eu me queria perto de você. Por quanto tempo? Quando seria de novo? Só tinha o agora daquela hora. Respiro fundo. Esqueço que eu sou eu e todos os medos daquele eu que por enquanto não seria. Mas no fundo era... vergonha.
E eu te via. Sem que eu quisesse olhar muito, mas querendo olhar bem mais. Tentava te fotografar na minha retina. Te fazer a arte principal da minha galeria mais cara. Você... você feita em formas tão bonitas, tão suaves, tão gentis aos olhos. Meus olhos...
Te quis no meu passado. Por um instante... por um instante não queria que aquele fosse o primeiro dia (noite). Me peguei lamentando cada um dos dias em que não havia você. Mas o passado lamentado não muda. Preferi desejar que ainda haja mais dias em que me haja você. Haverá você pra mim?
Te via... não era difícil entender o fascínio que não era só dos meus olhos, mas de mim inteiro. Era você. Você que tem a beleza que em instantes transforma segundos em semanas. Tudo parece fazer mais sentido sabendo agora que, de real, há você.
Invejei teus olhos que olhavam a tudo, mas pareciam nem dar conta de mim. Eu estava ali. Intruso? Talvez um pouco. Daí você me olhava numa expressão que eu não traduzia e nem ousaria arriscar uma resposta que me fizesse errar. Até que você sorria e teu sorriso era gentil. Havia carinho? Que bom seria... Desde antes desse que foi o primeiro dia, teu sorriso se fez muita razão da minha própria poesia. Mas disso você já sabe. Não entende, mas sabe. Desconfia, mas sabe. Receia, mas sabe...
Agora eu não preciso mais te sonhar. Mas você é presença mais que bem-vinda em cada sonho. Já nem tento mais evitar te pensar. Disso eu já desisto. O ponteiro dos minutos roda todo o relógio e a cada volta aqui está você, onde não te olho, mas te vejo.
Sim. Você é de verdade e nem é mais “só” a “minha” verdade. E que bom. Seja e continue sendo. Não sei se fui eu que vim até aqui. Não sei se foi a vida que me trouxe até aqui. Não sei se eu fui até você ou se a vida te trouxe num caminho como que um presente para quem pedia pela novidade que lhe faria bem. O que sei é que gosto de te saber (mesmo que de pouco em pouco, com você observando mais do que falando). O que sei é que não quero simplesmente chegar num ponto em que tudo para. Quero todo o caminho. Quero o caminho inteiro. Todo o trajeto a ser percorrido por quem quer fazer e ser o melhor pra você, conhecendo, recebendo e fazendo merecer o melhor de você.
Você é tanto. É tão mais do que a maioria. É tão mais do que minha lembrança alcança dentre tudo o que já vi, vivi, experimentei e conheci.  Você é tanto que mesmo que eu te escreva mais e mais palavras pra te tentar fazer saber o quanto vejo quando te vejo, não haveria palavra que fosse plena e perfeitamente capaz de me fazer entender...
Mas você encanta! Me encanta... e que bom que é você.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A gente entende tudo na saudade


"Ela tinha viajado. Há dias estava longe. Parecia que fazia meses que não a via. Eles se falavam. Se sabiam. Conversavam numa intensidade que fazia mais o tanto que se queriam. E um dia ela perguntou se estava tudo bem. Uma pergunta tão simples, mas que lhe doeu os ouvidos, o peito... a saudade. E ele só conseguiu dizer com os lábios o que gritava dentro de si. 

- Como estaria tudo bem? De que jeito eu estaria bem se você está longe, se meus olhos não te veem e se meus braços não te abraçam? Bem de que jeito se meus ouvidos não ouvem tua voz dita diretamente pra mim, perto de mim ou se minha boca não beija o teu beijo, metade mais que perfeita de mim? Meu bem é teu e está em você. É a parte de mim que você me leva e a vida minha que você me traz. Então fica o tempo que tiver que ficar, mas volta depressa pra mim.

- Nossa, que lindo! - disse ela numa voz que era toda contentamento e paixão.

- Lindo, meu bem? Não. Não é lindo. Lindo é sorrir feito bobo só de me pegar pensando em você. É sentir a alma mais leve e o coração mais gentil só porque se sabe ocupado pelo amor que é todo você. Lindo é te fazer feliz. Lindo é ser feliz com você, por ser de você... que faz tanta falta.

Na mesma hora os lábios dela sorriram e seus olhos choraram. Ela era feliz. Era feita feliz. Fazia feliz. E já estava na hora de voltar...

sábado, 10 de agosto de 2013

A Arte da Conquista

Não consigo alugar filmes por mero entretenimento. Tenho por hábito ficar muito tempo na locadora procurando “aquele” filme que tenha o que me acrescentar. Até por isso, é raro que eu alugue filmes com bombas, explosões, armas... muito embora haja aqueles dias em que é isso que você quer. Pensar pouco e se sentir preso na ação que tira o fôlego. Mas esses dias são raros. Prefiro mesmo filmes que me provoquem e me façam pensar; filmes que me insiram na realidade dos personagens ou que me façam colocá-los na minha.
Foi exatamente isso que vi nesse filme tão forte: “A Arte da Conquista”, filme independente, indicado ao Grande Júri do Festival de Sundance. Com um ótimo elenco e com uma direção de fotografia que mesclava o ágil, o discreto e sútil que, muitas vezes, lembrava a de um documentário acompanhando a vida de um jovem rapaz (George), artisticamente inquieto e provocativo que, no último ano da “high school” acredita que, pelo do fato de que inevitavelmente todos vamos morrer, tudo o mais na vida se torna irrelevante. Por essa razão não tem amigos, não faz tarefas, não interage socialmente. Ele mesmo se auto define “misantropo”.
Até que ele conhece a menina – interpreta pela linda Emma Roberts, sobrinha da “linda mulher” Julia – que balança seu universo. Ela o faz querer ser diferente. Faz com que ele saia da sua armadura e socialize com seus amigos, colegas de sala que sempre o viam e não o entendiam e que passam a gostar dele. O mundo dele ganha um novo significado, mas ele não consegue se sentir habituado aquilo. O mundo dela – que ele tanto quer que seja dele – é estranho pra ele. É como se ele não pertencesse àquele lugar. E ele se cala. Todos vêm o seu interesse, mas ele nega. Todos sabem o que ele quer, mas ele evita.
A história corre, ele perde a moça, sofre, chora, para. Literalmente para. Uma única música no “repete” do som por dias. Não há aulas, não há rua, mas apenas o espaço limitado de um quarto representando um mundo que se faz pequeno e opressor agora que perdeu seu sentido e sua graça. Até que acontecimentos e desafios exigem que ele siga a diante. Só depende dele. E tudo volta a andar.
O que chama a atenção no filme é o diálogo carregado de significados. É daqueles filmes que me lembram muito a sensação que tinha durante as duas primeiras temporadas de “Dawson’s Creek”. Diálogos elaboradíssimos que eu adoraria ter tido com as pessoas que tinham 17/18 anos quando eu também tinha, mas que, no mundo real, a gente mal consegue ter aos 28, o que dirá aos 18. Mas havia provocação em tudo. A provocação que, na verdade, é a cada um de nós espectadores.
Entendo que não é um filme fácil de se gostar, mas tenho certeza de que é impossível ser indiferente à sua proposta. Se de um lado é fato que, como dito na primeira cena, “vivemos e morremos sozinhos, o resto é ilusão”, por outro lado, também é fato que vivemos de modo que nesse percurso, sejamos mais do que a solidão de nós mesmos e é por isso que sentimos dor, é por isso que ficamos triste, que choramos e que procuramos desesperadamente o que justifique o sorriso.

Por mais que a vida pareça parar, essa é só a realidade de agora e, se o filme ensina algo – e eu digo, assistam! – é que a vida não acaba enquanto se está vivo e, se ela não vai acabar agora, vale a pena sair do quarto, da casa, da prisão de si mesmo, e ir viver.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Estou cheio de mim

Estou cheio de mim!
E isso é bom
Estou cheio de mim
E já se foi o tempo em que era ruim.
Estou cheio de mim
Mas não cansado.
Estou cheio de um contentamento de mim próprio.
Cheio da vida que se me pede que viva
Cheio de um querer que dê certo o que eu faça
Cheio de saúde e de vontade... de amar.
De amar a mim mesmo,
E aos outros,
E a uma,
E a tantas... amar
Cheio de mim, comando meu caminho
Cheio de mim, faço meu o meu querer
E é por cheio de mim que entendo
Essa toada imprecisa chamada viver.
E o que vale amar?
À natureza e ao que está nela?
Ao sol e à vida que ele faz como deus?
E por que não ao próprio Deus?
Ou amar só se deve se também se souber amado?
No fim – ou nesse início – amo do meu jeito de amar
Amo como posso e não como sei.
Porque amar é aprender todo dia
Um novo amor diferente de cada amor que amei.
Há quem ache pouco
Há quem ache exagerado
Há quem ache até calado
E há quem ache que é um amor que fala demais também.
Mas se fala é porque sente tanto que até se culpa
Quando alguém, porque doente,
Dele recebe, diz não, mal quer e nem se desculpa
Se uma lágrima sentida faz rolar no chão.
Mas estou cheio de mim
E cheio de mim me ocupo do sim e me rio do não.
Espero o amor que só encontre, ame e não se perca
E nem me permito apressá-lo assim.
Antes, sigo vivendo 
Sendo feliz além de “cheio de mim”.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A noite não é mesmo para dormir

Dormir à noite deveria ser mais fácil. E nem sou dos que concordam que a noite seja boa pra pensar. O escuro e o silêncio deixam tudo mais bucólico. Inclusive os pensamentos. Não gosto do que penso nessas horas. A reflexão é inútil e a projeção pode ser infeliz. Mal consigo me dar conta das minhas próprias ideias e me percebo querendo adivinhar o que esta por trás de que não entendo ou mesmo de quem nem conheço. Procuro culpas onde (talvez) não há culpas, mas eu, tão acostumado a me culpar por tudo, assumo-me errado até quando quero acertar.
Por um segundo invejo os egoístas. Os conheço bem. Lembro-me da tarde se segunda em que oficialmente me fizeram um deles: "de todos os egoístas que conheci no mundo, você é o maior de todos eles". Esses se importam só consigo, ocupam-se só de si. Se é que se lamentam, logo esquecem e vão para o que vem a seguir. Não se apegam. São frios. Impenetráveis e despreocupados. No fundo têm medo. A rejeição dói e então, se não preciso ser aceito e se não tento ser aceito, não sou rejeitado. Sou só de mim e não me digo não.
Ah! Quantas vezes descuidado dos outros, cuidei só de mim? Mas não me gostava. Agora me conheço, mas parece que eram mais as que gostavam de quem eu era quando eu não gostava de ninguém que não fosse eu. Parece que hoje não notam – não consigo me fazer notar! – que aquele que parecia forte é que era o fraco, enquanto esse que parece fraco é o que aprendeu a ser forte. Ele (eu?) se expressa porque tem o peito, a alma e a mente cheios de palavras e as palavras cheias de um sentimento que é todo um pouco do tudo que ele é. Se caladas sufocam, angustiam, fazem mal. Quando ditas, lhe sugerem um fôlego a mais de vida.
Mas ele (talvez eu?) não é mais sua própria construção. É de verdade. Consegue ser visto por vários olhos, mas não pede por todos. Foi o tempo em que o objetivo eram muitos. Agora são só dois de uma só. Não precisa acumular o que não soma, mas só perde. Quer a soma que multiplica e é só o que pede. Pede?
Eu o conheci (a mim?). Bem. Se atreveu a querer uma, mesmo podendo escolhe tantas... Quase morreu.
...
São todos os que fazem contra o outro aquilo que lhes doeu que fizessem contra si?
Não deveria ser. Quem já sofreu uma vez, deveria pensar duas vezes antes de fazer sofrer.
Mas se até a vida é inconstante, por que não cada um de nós? Por que não seríamos um ontem, outro hoje e um diferente amanhã? Pra que daríamos o conforto de uma satisfação? Se eu não entendi o outro, não deixarei ninguém me entender. Ou talvez eu deixa e quem me vê e que não entende que meu silêncio é o não que eu penso que, não dito, não quer magoar.
Te sorri ontem. Te virei a cara hoje. Fui grosseiro pra que você nem imagine que exista um amanhã. E quem saiba assim você entenda que é se diz que sou tanto, você é pouco pra mim.
Mas deve ser coisa da noite que é calada, bucólica, amarga e nada feliz.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

A história que une dois em sua história

Há mudanças que parecem lentas. Elas fazem a vida parecer mais lenta, talvez culpa do mundo em que tudo parece correr cada vez mais rápido. Há certa insanidade na vida vivida num ritmo qualquer. Não há ritmo exato. Há momento, há escolhas, atitudes, respostas e silêncios que são respostas. Em que nos pautamos? Em quem nos pautamos? Pelo que nos pautamos? Por que nos pautamos? Ao longo das nossas escolhas, esperamos a coincidência de propósitos.
Sim. Alguém que provavelmente era mais esperto do que eu e você, nos vocacionou para uma vida que parece não poder ser sozinha. Somos para quem sejamos. Não eu para mim, mas eu para outra em quem, tenho que crer, se lhe despertará o mesmo sentimento que houver em mim.
E daí tenho me feito espectador. De mim e de outros. Não que isso seja bom. Talvez seja a atitude mais errada. Quando você assiste, você pouco faz. Quando você pouco faz, você pouco vive. Mas vejo que tem muitas vidas que parecem andar juntas por aí. Cada uma é carregada de uma história que fez com que dois que tinham tudo para serem estranhos num mundo tão cheio de gente, descobrissem-se em meio a essa multidão e se fizessem diferentes de todos os semelhantes.
É. Confesso que fico mesmo imaginando a história que une dois em sua história...
Nessas horas me sinto quase um derrotado. O fim de quase todas as minhas histórias me esvazia e as faz parecer terem sido vazias de tudo. Talvez por isso tenha começado a escrever. Quando escrevo, coloco o fim que quero, invento o motivo que me interessa e cada palavra dita é a verdade de cada um que disse e ouviu. Porque, enquanto cada história que foi minha, depois de passada, parecia nunca ter sido mais do que nada, cada história que é minha, porque eu criei, fiz e terminei, continuava ecoando pelo tempo do meu tempo. Daí a fantasia e a ideia de fantasiar (muitas vezes o pouco ou nada provável)...
Mas voltemos aos encontros.
Há quem saia à noite para ser e ser visto; tentar, ser tentado e conseguir. Conhecem-se numa noite de festa, riem-se um ao outro, olham-se, sentem uma afinidade que cresce (talvez incentivada pela bebida que corre), até que o instante os aproxima, o momento convida e o beijo acontece.
Dali trocam telefones, mensagens, se gostam, fazem bem e mantém o bem querer que, dia após dia, todo dia e cada dia faz com que os anos se somem enquanto são seus e de mais ninguém.
Outros se conhecem na escola, na faculdade, no cursinho, no trabalho. Conversam, marcam de se ver. Ainda não se conhecem, mas já se imaginam. Não sabem muito de si, mas pelo menos se dispõe a aprender. Ousam. Tentam. Vivem a vida que não para de viver. E se deixam surpreender. Não esperam mais do que devem esperar, ainda que esperem o que pareça preciso.
E há aqueles que simplesmente esperam. Esperam porque cansaram de escolher ou cansaram de ser escolhidos por quem não escolheram. Esperam porque olham à sua volta e ninguém que veem lhes completa. Esperam porque cansaram. Simplesmente cansaram. Cansaram do percurso tão conhecido e já não sentem nem o direito de esperar que lhes surpreenda. E quase desistem.
São esses que esperam que a vida faça por eles o que eles não souberam fazer.
São esses que esperam que, distraídos e cuidando de si – depois de tanta angústia, tanta dor, tanta falta de risada por sonhos desfeitos, qual quimeras mal ajambradas cujo alicerce foi feito em nuvens – de repente sintam a paixão, o amor ou como quiserem chamar, lhes atingindo a cabeça como o raio que traz o novo (ou uma pedrada que vem sabe-se lá de onde). Para esses, quem já está não interessa, e talvez isso seja mesquinho, soberbo, por vezes pretensioso, mas eles não gostam do mundo que têm e querem o direito de gozar novo mundo.
Talvez seja seu momento de irem embora. Talvez o outro mundo não esteja na mudança que vem de dentro pra fora, mas sim – como sempre pareceu inevitável – de fora pra dentro. Mas isso não é fugir? Não sabem... antes sabiam tudo, agora não sabem nada. Mas pedem. Não se conformam com quem inventou que um só não basta para si consigo. E querem. Mas já não conseguem tentar. Então esperam...