sábado, 30 de janeiro de 2016

E se o tempo do amor corresse pra trás...?

... mais ou menos como o curioso caso do Benjamin Button. Lembra?
Imagina se o final do amor fosse a paixão e não o contrário. Saber que se viveria a beleza de um sentimento terno e maduro até o momento em que tudo fosse intensidade e pele, pele e intensidade.
Até porque – me desculpem os que pensam o contrário – mas me parece que beira o consenso que o melhor momento do relacionamento é aquele de poucos meses desde o início, em que já se conhecem um pouco melhor, se permitem mais e se constrangem menos; aquele momento em que um simples toque dá choque e uma simples ausência faz chamar de volta; aquela fase em que a noite é curta para o desejo que é grande e que se repete num afã que desafia a saúde e que não para e nem quer parar, só continua. A hora em que toda hora é hora é o momento em que o prazer é questão de instante. E isso é começo, é tempo de um tempo em que o amor ainda não teve tempo. Pele é paixão. Paixão é urgência em movimento.
Imagina o desgaste diminuindo até não ser e o cansaço se reduzindo até não ter. Imagina a indiferença acabando e a atenção crescendo, aumentando até se fazer visível aos olhos e palpável ao tato. Imagina não se importar com a novela ou com o futebol. Nem com os outros, nem com ninguém. A vida acontecendo e você sabendo que o resultado de tudo não é o enfado, mas o renovo. Não o novo, mas o mesmo que o tempo só deixou melhor e mais gostoso.
Só que por improvável que é, o que se tem no mundo regido pelas leis da física é a paixão numa metamorfose que se completa ao ser amor. Um amor que faz o costume de estar junto ser o principal ingrediente a servir de motivo para não se estar separado. Um amor que se funde a uma ideia de afeto e de cuidado que aproxima mais o paterno do que o safado, mais o idílico do que o tarado. E isso é bonito, porém é chato.
A paixão como objetivo ajuda no jeito mais descuidado (que não se confunde com o jeito desleixado). Mas ela se ocupa mais de consumir que em preservar. É aquela que aperta, que puxa, que acerta, que arranca, invade e traz pra junto (bem junto). É a que não teme a marca, não teme o gosto, não teme o gozo e é só durante. O antes é prenúncio do que o depois é só o pretexto.
Por outro lado, talvez o amor tenha a ver com uma parcimônia que acompanha a involução física de cada um. Quem sabe ele seja mais condizente com essa calma comum àqueles que aprendem a contar o seu tempo com o tempo que têm. E então passa a fazer sentido que as pessoas procurem esse estado de mais paz e menos ansiedade, mais carinho e menos devassidão, mais afeto e menos solidão (que existe até mesmo acompanhada), crendo que o amor, mais que sentimento, é essa construção capaz de redefinir desde sonhos até valores que se amoldam a um resultado que, no seu início, não se quer menos do que bom.
Qual a melhor ordem pra você? A que leva a um amor tranquilo ou a que chega a uma paixão excitante e contente?