terça-feira, 13 de setembro de 2016

Vazio

Não é um sentimento incomum se sentir cheio de vazios. Aquela sensação de falta que vai além do que se deseja e que é apesar do que se deseja. Aquela sensação de que tudo é enfado e de que vai sucumbir mais dia, menos dia.
Não é incomum se sentir sendo o peso e o freio do próprio seguir em frente e isso enquanto a vida vai. E ela vai! Segue implacável, indiferente, dura. Uma.
Vazio de querer em que a culpa é de tudo o que perdeu. Vazio de ter em que a culpa é de tudo o que quis. Vazio de ser em que a culpa é de tudo o que é. E enquanto isso a vida vai. E ela vai! Segue cruel, solitária e muda. Longa.
Tantos dias que não se precisavam tantos e nem ser. De quantos adeuses são feitos os arrependimentos? Que perdão é esse capaz de recomeçar? Que chegada é essa que faz feliz? E enquanto não se descobre a vida vai. E ela vai! Segue triste, inevitável e tensa. Lenta.
É como se nem mesmo sob o Sol houvesse calor ou luz. Tudo é o negror de uma escuridão gélida tomada de uma névoa por onde circulam lembranças desbotadas e, também por isso, tristes. O silêncio de em volta esvazia a existência que um dia se pretendera grata, se imaginara boa, se quisera toda sorte do que só se provou mera quimera.
Não há música que toque a alma e nem que venha dela. Todo som range como se arrastasse grilhões que também pesam e também seguram e também impedem. Impedem o riso, o sorriso, o desejo, o superar-se e sentir-se pleno de tudo que não seja o nada que vem sendo. Vivendo.
Nem sempre é uma questão de não se querer sorrir, mas de não conseguir. É se sentir o principal responsável por toda a indiferença que se acumula e por toda solidão que se provoca. Mas por que se provoca? – se é que se provoca.
É que todo o espaço a ser preenchido está ocupado, apesar de que não há ninguém. Sobram histórias que ninguém mais lembra ou ninguém mais sabe, ou talvez ninguém viveu, só quis, só sonhou, só pensou, só perdeu.
Tudo é um silêncio que grita e ensurdece e incomoda e faz sentir tão cansado de si mesmo e tão miseravelmente dono das próprias circunstâncias. Faz da existência a vileza de quem não se basta no que não sabe de si além da vida que cai, que volta, que se revolta.
Tudo é silêncio, é escuro, é findo, é a certeza de que não será.
...
Mas as noites não começam à mesma hora.