terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Desafio é se relacionar


Ontem a Folha de São Paulo publicou em seu site uma matéria do The New York Times sobre a nova geração de jovens – denominada geração Y – e a sua dificuldade em se relacionarem entre si. Na reportagem, dentre outros fatos alarmantes, narra-se a atualidade dos “não-encontros”, onde as pessoas, por julgarem que sabem tudo umas das outras, preferem se encontrar no tumulto de uma balada, cercados de pessoas, ao invés de no conforto de um jantar a dois e que, quando se interessam por alguém, já não sabem mais o protocolo do flerte, acostumados que estão em olhar, adicionar e ficar. Leia a reportagem aqui aqui .  
Essas coisas me assustam...
A sociedade de hoje parece estar sendo tomada por uma indiferença covarde. Julgamos nos expor o tempo todo, mas a verdade é que mostramos somente aquilo que pensamos ser o melhor de nós mesmos. Acreditamos que temos o controle da nossa imagem e que conseguimos manipular a forma como os outros nos veem, quando, na verdade, somos cada vez menos aqueles que nos enxergam e mais a sombra obscura de uma existência fadada a não deixar marcas, não marcar.
Estamos correndo o risco de sermos avatares de nós mesmos. Quantas e tantas não são as vezes em que passamos por uma pessoa que eventualmente conhecemos por meio de uma rede social, conversamos, curtimos e compartilhamos e, ao nos depararmos com um rosto parecido com o que vemos naquela pequena imagem que identifica um bate-papo on-line ficamos na dúvida se é mesmo aquela pessoa que julgávamos conhecer e agora mal nos damos conta que não. Será que é? Será que não é? Ficamos em dúvida e uma outra preocupação ética nos assola: “e se for e eu não falar oi? Depois ela vai me cobrar que sou simpático aqui e não cumprimento no mundo lá fora.”.
Sim. O mundo lá fora... o mundo lá fora é o que vive, o que sente, o que cheira e o que vê. O mundo lá fora é o que realmente acontece enquanto nos preocupamos com a próxima atualização do status. O mundo lá fora é o que justifica cinco e não dois sentidos, porque o mundo lá fora foi feito pra viver.
Enquanto isso, o mundo que construímos nos Facebooks da vida é o nosso faz de conta. Nele buscamos as melhores fotos dos melhores momentos dos melhores dias. No Facebook são todos felizes e, se alguém se arrisca a revelar uma dor ou acusar uma tristeza, corre sério risco de ser marginalizado. Nas redes sociais (?) somos infalíveis, beiramos a perfeição! Sabemos de tudo, temos opinião sobre tudo. Falamos sozinho com o mundo e julgamos que o mundo nos ouve e se ocupa de nós.
Nas redes sociais somos milhares, mas somos um. Estamos com vários, mas estamos sozinhos. Falamos com o mundo, mas é como quem fala ao vento quando anda pela rua sem ter ninguém ao lado. Somos todos como loucos, mesmo sendo normais.
Vivemos uma intimidade falsa e não porque nos enganam; não porque faltam com verdades para conosco, mas sim, porque nos permitimos enganar, não pelos outros, mas por nós mesmos.
Ficamos horas teclando e teclando e teclando. Falamos de nós e lemos dos outros, mas não interagimos com pessoas. Vivemos um mundo entre duas telas. Um mundo que é nosso do jeito que o queremos, mas que é vazio. Vazio de vida. Vazio de sentimento. Vazio de sensações.
Quando leio a reportagem e alguém diz que prefere não ter um encontro com quem lhe interesse, mas sim, que essa alguém o encontre como que por um acaso numa balada que tenha outras tantas pessoas, vejo que ele parece não saber o quanto perde por não estar com a pessoa de verdade.
A geração atual parece desconhecer o valor de um encontro real. Um bom jantar ou um sorvete no fim de uma tarde quente de verão, olhos nos olhos, sorrisos que sorriem e não que se imaginam; no afã de se esconder e ser quem a outra pessoa imagina, prefere ser um rosto sem pescoço numa foto pequena, a idealizar uma conversa que na verdade não existe.
Estamos todos na superfície um dos outros e sabemos cada vez menos do muito que há pra saber e parecemos não nos incomodar. Nos sujeitamos a virtualizar nossos dias e aceitamos relações que não são relações, encontros que não sem encontros, conversas que são menos do que conversas e pensamos que está bom assim.
Estamos cada vez mais sozinhos e cada vez mais presos em nós mesmos e achamos que estamos bem. Somos atrevidos sem atrevimento, porque não há atrevimento maior do que colocar a cabeça pra fora e encarar a vida de peito aberto sabendo que viver é sentir, é tocar, é gozar, rir, correr, chorar, observar, ver, ser visto e reparar o luar.
Precisamos sair das nossas cavernas, dos nossos quartos, dos nossos sonhos acordados e experimentarmos ser gente e não máquina.
Se relacionar, mais do que nunca, parece ser o novo desafio...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Se eu morresse amanhã...


Se eu morresse amanhã, quanto tempo sentirão minha falta aqueles poucos que penso que serão? E será que serão mesmo aqueles que penso serem os que serão?
Haveria quem eu nunca soubesse que tinha o carinho que não existia em quem eu tanto queria? E que agora, de longe, calada, chorava a falta que só ela sabia?
Ah! Quantos terão sido os meus amores realmente amados, vividos ou não vividos, muitas vezes calados?
Quantos teriam sido os desejos e as paixões que terei levado comigo e que tinha que ter dito, muito embora tenha (agora pra sempre) calado? Não seria melhor sempre falar e deixar que quem se ama se saiba amado mesmo que agora eu já não possa mais amar?
A vida pode acabar tão rápido que é bobagem calar, se proteger ou pensar que o melhor é se preservar de sentir seja o que for...
Se eu morresse amanhã, quantas serão as felicidades que desejei, mas que não assistirei por ter morrido amanhã?
E quantas serão as saudades sentidas pela minha falta de vida? Quantos sorrisos deixarei de assistir e quantos outro deixarão de, por minha causa, sorrir?
Quantas desculpas eu ficarei devendo e quantos terão sido os perdões que deixarei de perdoar?
Se eu morresse amanhã, qual seria a lembrança de mim? Gostaria mesmo de ser lembrado da forma que os outros me lembrarão? Ou deveria ter sido melhor, logo eu que gostaria da melhor lembrança quando se lembrarem de mim?
Se eu morresse amanhã, voltaria depois, acabaria pra sempre ou assistiria as vidas que gosto de um infinito de onde tudo vejo, só que ninguém me vê?
Que triste seria morrer amanhã...
Mas se eu morresse amanhã, alguém choraria o amor que não me disse ou lamentaria o amor que me recusou?
Haveria gratidão n’alguma vida que nessa vida se encontrou com minha vida agora sem vida? Terei eu feito algum bem?
Se eu morresse amanhã, o que realmente perderia além dos dias da pouca satisfação que parece ser regra nas muitas vidas?
Quão mal seria morrer amanhã?
Mas ainda assim, não pretendo morrer tão cedo, muito menos amanhã...

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Eu te proponho...


"Já é a manhã de uma noite em que eu não dormi. O dia é frio. Suas cores são cinza. Enquanto caminho por centenas de pessoas apressadas na inquietude da cidade, noto milhões de rostos que carregam cada um sua história. Eles têm as suas como eu tenho a nossa.
Tento não pensar. Por um momento noto que o calor da respiração contrasta com o vento gelado da manhã fria e forma um vapor que saído dos lábios entreabertos na pressa de vários passos, sobe ao céu como as minhas várias súplicas de dor.
Ninguém se dá conta de ninguém. Há pressa por todos os lados. Todos caminham com a convicção de quem sabe onde pretende chegar e, por um momento, penso que sou o único que caminha sem destino.
Saí porque as paredes de casa me sufocavam. Durante a noite acompanhei cada minuto das muitas horas do relógio de parede do quarto de dormir. Tudo era incômodo. Mesmo a respiração me parecia mais pesada. E eu me sufocava no silêncio do meu próprio silêncio.
Na escuridão da noite, tudo o que ouvia era minha própria voz de censura e só o que enxergava era meu eu sem qualquer satisfação. Era tão pouco o meu apreço por mim, que já não me sabia. Já não era eu! Saí.
Agora vejo as pessoas carregadas de suas certezas. Todos os que vejo parecem não ter dores e nem dúvidas. Eu sei que eles as têm. Mas todos parecem disfarçar melhor do que eu. Ou talvez, simplesmente não se importem. Ou não as tenham como eu.
E mesmo quando não te penso, sei que estou pensando em você. Ainda quando te evito, sei que sou eu que te trago mesmo quando não quero que venha.
Em você acho todas minhas dúvidas e minhas piores certezas. Você é o meu erro mais certo. Você é a minha certeza do não, mas é também o sim que eu mais quero. Bendito seja o maldito dia em que te conheci.
Tudo diz que não pode ser. Teimoso, insisto em querer sim.
Eu não conto nosso tempo pelos dias em que te conheço. Eu conto nosso tempo pelos sorrisos que sorri por causa de você.
Não importa se os dias que se somam só contam meses e nem que a soma de nossas horas juntos sejam menos do que o total de um dia. A mim, não me importa nada que faça parecer menos o que, em mim (e pra mim) é muito. A mim, não importa nada que não seja você.
E nem procuro o que diminua a tua presença em mim.
Desde você eu desconheço o que é paz. É como se meu mundo fosse outro mundo e aos meus dias se tivesse revelado a razão para cada novo dia. Razão que se perde na falta de você.
Se a ideia era descobrir como seria, já sei que não gosto.
Cada um dia é menos um dia... menos para nós.
A tua falta é a agonia eterna que não vai passar. É a ausência que se fará presente em cada dia que se lamentará o silêncio do que deveria ter sido dito.
Mas eu calei.
Agora que me é proibido te ver, que me é proibido te falar, te tocar, saber de você e estar com você, tudo em mim é desespero e nada em mim faz sentido.
Abrir os olhos pela manhã é menos uma vitória. À noite eles insistem em não se fechar. Falta o sono onde sobra a vida. Quisera fosse o contrário.
Ah! Tanto pra dizer e eu calei.
Sei que de nada me adianta te dizer agora, só que te escrevo mesmo assim. Eu insisto e te escrevo, mesmo sabendo que você nada me dirá. Escrevo mesmo diante da certeza do teu silêncio.
Aqui, agora, te proponho o que te proporia se te houvesse pra mim. Não é uma certeza de agora. Já sei desde antes e se calei é porque fui fraco e achava que sempre haveria amanhã e, num amanhã desse amanhã, haveria a coragem que sempre me faltou.
Agora, tudo o que queria era a chance de te encontrar numa tarde de sol e te ver sorrir feliz por me ver. Te abraçar e sentir teu perfume. Me afastar o espaço pro beijo que me faz tanta falta e, depois do beijo, acarinhar teu rosto que ainda me sorri. E, então, te dizer da mudança da minha vida nascida do instante de você. Te faria saber como o meu mundo era vazio de você. Como você é a luz de uma vida que antes era só sombra e como você deu cores para o que antes era mais cinza do que essa manhã fria em que não consigo não pensar em você.
Nesse instante, teus olhos nos meus, meu sorriso sendo culpa do teu, eu te proporia mais e mais sorrisos todo dia. Te proporia uma vida cheia de alegrias e de uma felicidade que descobriríamos juntos, porque fruto de nós dois. Não te prometeria não sentir tristeza, mas te seria o conforto em cada dor, porque, naquele instante te proporia o amor que te sinto pra sempre e que é só teu.
Te proporia ser feliz a vida inteira e te faria feliz e seria feliz porque é você e sempre fui feliz quando me via feliz com você.
Eu te proporia uma vida de sonhos que não são sem graça. Sonhos de verdade, reais. Sonhos que seriam sonhados juntos e vividos mais juntos ainda.  E, então, eu te proporia um eterno recomeço. Um reencontro de todo dia. Um novo sorriso a cada manhã e um novo desejo em todo cair da noite.
Você me sorriria e com um beijo me diria, sim. E eu sorrio agora imaginando como seria se tudo isso terminasse com você pra mim.
...
Mas não. Calei. Agora me resto eu. Sozinho. Rodeado de milhares de pessoas, mas sozinho. Não há mais você pra mim. Não agora. Não neste mundo. Não nessa vida.
O amanhã não te trouxe. Ele te levou. E levou errado. Errou porque só te levou. Só você! Ele não tinha que ter me deixado aqui, sozinho, pra sentir tanta falta tua e com tanta dor. Mas você não volta. Você não vai voltar.
Já tenho medo de não me lembrar do teu sorriso.
Ah! Dor! E dói! Já não me há vida que me interesse sem tua vida. Não há cor e já não importa a luz. Não há música e nem há dia que não seja noite e nem noite que não pareça a eternidade do sofrimento de quem tem que fechar os olhos pra te ver, sabendo que jamais poderá te tocar.
Essa vida já não me basta. Dela não espero mais nada, senão que acabe.
Quero a próxima. E me espera! Vou cruzar quantos céus forem precisos. Desafiarei quantos deuses tentarem me impedir. Não aceito o fim de agora. Viajarei quantas vidas forem, mas te acharei numa nova vida, te encontrarei. Teu abraço será do meu abraço. Teu sorriso será do meu sorriso e teu beijo será o repouso da minha alma, como teu corpo o destino ideal do toque meu.
Então me espera! Seremos juntos e pra sempre... eu te proponho! "