domingo, 26 de setembro de 2010

NINE


Como tenho escrito pouco aqui e esse fim de semana (de inutilidade total) fui à locadora e peguei seis dos meus filmes preferidos, resolvi escrever um pouco de cada um deles à medida que os vou assistindo.
Não. Os filmes que assisto definitivamente não são de ação, com explosões enormes e sangue jorrando para todos os lados. Filmes assim não acrescentam nada e me parecem entretenimento vazio para alma e espírito. Entretenimento assim nunca me interessa.
Gosto de filmes com diálogos interessantes. Daqueles que eu possa achar que talvez dissesse, mas que no fundo me ressinto de não ter a chance e nem o dom de dizer. Em suma, qualquer comédia romântica inteligente – aquela dos diálogos cheios de vários sentidos – me fascina e me faz querer reviver toda sorte de paixões.
Vou começar, então, pelo primeiro filme da tarde: NINE.
NINE é um musical de cada vez mais rara beleza na Hollywood atual, mais preocupada com filmes em que se abusa da tecnologia em detrimento das interpretações que absorvem uma platéia outrora desejosa de viver o que a tela sugere.
É verdade – e já me queixei disso em post menos recente – que Hollywood deixou de apostas em filmes musicais. Por sorte, nós, os apaixonados pelo gênero, vez ou outra somos brindados com um ou outro gracioso musical. Sim, não faz muito tempo tivemos Mamma Mia! que também me deleitou e me fez esquecer da vida, dos problemas e todo o resto pelas quase duas horas de divertidíssima atuação de um elenco pouco ortodoxo para o que se propôs em músicas não menos ortodoxas já que do ABBA (?), mas que funcionaram perfeitamente. Aliás, que elenco encabeçado pela mais-que-perfeita Meryl Streep não funcionaria? E olha que ainda havia Colin Firth, Pierce “James Bond” Brosnan e a impagável Christine Baranski... mas que Mamma Mia fique para outro dia, agora o que interessa é NINE e a história de um famoso diretor italiano em crise de criatividade, de meia-idade, de casamento e com as várias amantes ao longo de toda sua vida e que agora parecem querer lhe revisitar.
Para quem gosta de reparar nos detalhes, a direção, seja a de arte, seja a de fotografia, é perfeita. As cores que saltam da tela em um cenário intimista quando entre 04 paredes e maravilhoso quando explora as belezas da lindíssima Itália, são um show a parte. E o elenco. Ah! o elenco... é estelar e espetacular.
O diretor é interpretado por aquele que está seguramente entre os 05 maiores atores da sua geração: Daniel Day-Lewis. Qualquer um que goste de cinema já se encantou com alguma de suas atuações em filmes como Meu Pé esquerdo, Em nome do Pai, O último Moicano ou os mais recentes, Gangues de Nova Iorque e Sangue Negro. A sua atuação como um diretor de cinema italiano e em crise, conduzindo e liderando todo o filme é deslumbrante “Eu desejo mais, devo me contentar com menos e me pergunto: de que vale algo bom se não for em excesso? Uma limitação que lamento profundamente é só ter conhecido um de mim mesmo...”.
E por ele que logo na terceira cena surge uma deliciosa (em todos os sentidos) Penélope Cruz numa performance sensualíssima e que rouba todo o filme para si. “Quem não está vestindo nada? Eu não estou. Quem tem medo de beijar os dedos do teu pé? Eu não. Precios que você me aperte aqui, aqui e aqui”. Penélope é dessas atrizes que não precisam de grandes papéis. Qualquer papel para ela é grande. Ela é quem cresce e se faz perfeita em tudo que faz (Vicky Cristina Barcelona é grande prova disso, para não falar nos vários “Almodóvar” que ela fez).
Penélope é a amante desse diretor, seu personagem, Carla, uma italiana casada, mas apaixonada pelo amante e que se sujeita a qualquer dos seus caprichos, muito embora quisesse mesmo ser Luisa, a esposa, interpretada pela graciosa Marion Cotillard, que parece ter um caso de amor com a câmera, tamanha a cumplicidade entre elas “Me mostre como você encara tudo. Então vamos lá. Faça bom proveito. Quer minha alma? Faça bom proveito, porque não tenho mais nada, não me resta nada para dar”.
Para que então surja Fergie.
Fergie é um caso a parte para todos os homens que adoram as mulheres. A sensualidade que ela esbanja não se vê em muitas por todo o show bizz. Fergie é perfeita para o papel da musa dos tempos de infância da personagem principal. Nas lembranças do diretor, é ela quem o ensina ser um bom amante, numa performance musical que inevitavelmente te faz perguntar porque que todas as mulheres não são Fergie(licious). A medida que se move com a sensualidade da serpente, ensina o jovem Guido tudo que uma mulher pode querer, seja as doces palavras que ela gosta de ouvir à forma como ela quer ser tocada: “peço que seja ousado, sentimental. Pode até me dar um tapinha, mas seja ousado e indiferente e quando me apertar que seja onde a carne é fraca... colha a flor antes que você perca a chance”.
Se as suas musas já não fossem tantas, surgem ainda a maravilhosa Kate Hudson, deixando bem claro, numa dança repleta de ousadia, sedução e bom humor, o tamanho do seu desejo pelo já meu herói, Guido Contini, nome e sobrenome da nossa personagem principal. Em uma conversa regada a vodca e tendo à mostra uma insinuante cinta-liga, ela não se furta em sugerir suas mais perversas intenções “Eu estava pensando se há um limite para o que você possa mostrar nos teus filmes” “O que você gostaria de ver que ainda não te mostrei?”
Para que, enfim, sejamos apresentados aquela que é a maior musa do nosso diretor. Sua atriz preferida. A prima-dona de toda sua obra: Claudia Jensen, interpretada por uma das atrizes mais lindas que já passaram pela capital do cinema: Ms. Nicole Kidman. “de um modo inesperado você foi meu amigo, talvez tenha durado um dia, talvez tenha durado uma hora, mas de alguma forma isso nunca terá fim.”
São poucos os minutos em que a ex-senhora Tom Cruise nos brinda com sua presença magnífica, mas cada segundo fez com que eu perguntasse a Deus o que Ele tem contra mim.
Enfim, o filme é um show de sensualidade? Sim, é.
Mas tudo isso dentro de um enredo muito bem trabalhado pelo elenco maravilhoso que ainda se completa pela talentosíssima Judi Dench e pela eterna Sophia Loren.
Os diálogos são perfeitos e, muitas vezes, vemos na aflição experimentada por Guido, um pouco da desilusão que vivemos cada um de nós que queremos amar, mas erramos sempre com quem nos é mais importante, até que mesmo esse alguém, cansa de nos perdoar. Nele vemos o potencial de destruir os sonhos das pessoas, mas, principalmente, como é fácil esquecermos de quem somos nós e que "que uma escolha errada ao longo no caminho, pode fazer com que todas as outras sejam erradas também e com isso a gente acaba longe do caminho e se perca." O filme é preciso quando mostra que ao nos perdemos, não há quem possa nos ajudar a encontrar nosso caminho, pois isso só cabe a nós mesmos, no momento em que percebemos a necessidade da gente se reencontrar. O final caminha para uma inevitável redenção, mostrada de uma forma bastante singela e cheia de uma excelente música, aliás, a marca de todo o filme.

sábado, 25 de setembro de 2010

Vida...


Não quero falar de mim, quero falar do conhecido da filha de uma amiga da irmã da cunhada do vizinho da filha de amiga da depiladora da mulher do meu tio. Por razões óbvias não darei o nome do rapaz, mas acho que podemos usá-lo como exemplo nesse texto que não se sabe o que será.
O rapaz está aí com seus vinte e poucos anos, fim de faculdade, vida pela frente, mas perspectivas zero de felicidade. Dizem que qualquer segundo de conversa com ele é um convite eterno ao suicídio dos sonhos. Ele afirma e demonstra não ter nenhum.
E por que isso? Porque estamos todos – não só ele, mas eu e você também – sendo convidados a esquecermos as delícias de sonhar, para que nos entreguemos a realidade de uma vida cada dia mais abjeta, pois cruel e dura.
A cada dia cresce a impressão de que a maioria espera que a vida seja vivida de acordo com uma cartilha pré-estabelecida sabe-se lá por quem. Uma vida que se resumiria em nascer, estudar, arrumar um emprego público qualquer, casamento, filhos, aposentadoria razoável à espera do inevitável fim de todos nós.
E quem disse que tem que ser assim?
Afora o nascimento e o momento da morte, quem estabeleceu o que a pessoa deve ou não deve fazer? Até pelas minhas predileções, entendo que estudar deveria ser tão essencial à vida quando seu início e seu derradeiro, mas todo o resto são escolhas, escolhas que nos fazem conseqüências de nós mesmos, seja quando erramos, seja quando acreditamos que acabamos de acertar.
Até sonhamos com a vida perfeita, mas as vicissitudes sempre nos alcançarão. Mas e daí? Temos medo de não superarmos os problemas? O medo não combina com a vida, essa sim, um eterno desafio.
A estabilidade de um emprego não é a certeza de uma vida de satisfação, assim como, a insegurança de se prover por si próprio não significa a insatisfação pela falta de maiores certezas.
O segredo está em nos atirarmos na vida mesmo sem a certeza do bom final. Mesmo, porque, o bom final só depende de mim e de você.

domingo, 12 de setembro de 2010

O que Kant diria para o Lula

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"Um governo fundado no princípio da benevolência para com o povo, como é o caso do governo de um pai em face dos filhos, ou seja, um governo paternalista (imperium paternale), no qual os súditos, como filhos menores que não podem distinguir entre o que lhes é útil ou prejudicial, são obrigados a se comportar passivamente, para esperar que o chefe do Estado julgue de que modo eles devem ser felizes, esse governo é o pior despotismo que se possa imaginar."


"Kant, Imannuel. Sopra il detto comune: 'Questo può essere giusto in teoria, ma non vale per la pratica'(1793)". (No ditado popular: 'Isso pode ser certo na teoria, mas não vale na prática')

quinta-feira, 2 de setembro de 2010