Eu tendo a acreditar que o amor será sempre a metáfora perfeita para a vida. A forma de amar é a forma de viver; como se reage ao amor é como se reage à vida. Quem teme amar, fatalmente é um grande medroso na hora de viver... e daí, no último dia do ano (ou a um dia do primeiro dia de um novo ano) eu me peguei pensando sobre como tanta gente sonha com começos, mas tanta gente não lida bem com os fins.
E talvez seja por isso que geralmente
sejamos nós que queiramos pôr os pontos finais nas nossas diferentes histórias.
Ainda que às vezes relutemos,
demoremos (e isso naqueles casos de quando a gente já sabe que não vale mais
insistir, que precisa mudar, que não quer mais prosseguir aquela história, mas ainda
assim, por alguma razão, a gente adia) até que o outro vai e termina.
E daí, nossa! O mundo cai, a
tristeza é companhia certa, o desespero toma conta. Nem a gente entende, mas a
gente não lida bem se alguém vem e age como se tivesse decidido antes da gente aquilo
que a gente é que tinha que determinar.
A gente até se indigna: onde já
se viu ter essa ousadia de encerrar algo que eu estou adiando encerrar? Se eu
não tomei a iniciativa por que alguém tomaria?
E o pior é que a gente ainda se
dá ao luxo de sofrer porque alguém decidiu fazer algo que, no fundo, a gente
sabia que era o que deveria ser feito.
Tudo porque somos orgulhosos, egoístas...
porque a gente gosta de acreditar que só a gente sente falta, mas jamais deixa
faltar; só a gente sonha com mais, mas satisfaz a tudo de todos os demais.
Porque somos perfeitos para todos esses que têm o defeito de não serem – nenhum
– perfeito para nós.
Mas a verdade é que quando acaba
para um, acaba para todo mundo. Porque não existe o que satisfaz sem estar
satisfeito (comodismo é só um sintoma). Assim como não existe isso de pegar o
outro de surpresa. O que há é no máximo negação, é não querer aceitar, é fazer
vistas grossas para não ter que lidar com um mundo desmoronando. Todos os
envolvidos sabem, percebem, sentem o que está acontecendo.
É só o fim chegando. E tudo bem.
Sim. Tudo bem! Porque todo fim é
o início de todo recomeço. Fins não são apenas momentos terríveis a serem
lamentados e sofridos, mas são também oportunidades incríveis de novos acontecimentos
mais incríveis ainda. Porque toda a vida que vive, vive para frente e só para
frente. Porque toda a vida que é, também é vida que será. E daí encerramos para
começar e começamos para encerrar. Não pretendamos o que seja eterno (porque não
precisamos do que seja eterno).
Daí que um ano acaba e logo outro
começa e a gente sonha novos sonhos que encerrarão sonhos velhos e teremos novos
encontros que superarão adeuses velhos e sorriremos novos sorrisos que apagarão
choros tristes. E a vida seguirá, e nós seguiremos; e a vida acontecerá, e nós
aconteceremos; e tudo será... e só dependerá de nós aquilo que nós seremos...
FELIZ 2022!