sábado, 30 de março de 2013

Para onde? (ou poema da dor de se saber quem é)


Há mais sono nos teus dias que em tuas noites.
Há mais vida nos teus sonhos que nos teus dias
Dormes que é para fugires
E acordas quando já não te podem ver.
Tua desgraça é tanto maior aos teus olhos
Quanto é menor aos olhos que te veem:
Desses, você disfarça.
Mal sabem eles do mínimo do menos que te mostrou.
És campeão aos olhos que não te conhecem
Gentil aos que te estão mais perto
Morto pra quem te sabe por dentro
                                               [Mas esses são poucos...
Talvez ninguém,
Nem mesmo tu.
Tua realidade é só tua no sentido de posse e culpa.
Não adianta fugir.
Não há cavalo preto que fuja a galope,
Nem mar por onde navegar,
Nem céus que permitam voos,
Ou mesmo portas por onde sair
                                                [e tens nas mãos a chave que não abre.
Estás preso nos limites de si mesmo.
Sentes a agonia das paredes que se estreitam!
Sentes o desespero enquanto o teto se abaixa!
São os últimos instantes antes de mais agonia.
Teogonia? Não! E nem parede nua onde encostar.
Tudo te sufoca.
O arrependimento do que já disseste
O desespero do que calaste.
                                                [ou é o contrário?
Repete-se sendo o que nunca gostaste.
Reclama! Protesta! Mas não muda.
Ristes? Só se de ti
Já não pode zombar
E nem há zombaria maior do que ser quem és
E continuar sendo quem sempre foste.
O erro calculável e a equação menos certa
Você sempre previsível, plausível, provável...
Estás sem mulher,
Sem a utopia de uma felicidade de ter nos braços quem te tem
                                                [mas quem te tem também?
A ti que foste de tantas sem ser de nenhuma...
Agora a noite esfriou
E não tens companhia
 – E não, a tua não te basta,
Ela te avilta!
E nem beberes tu não bebes.
A realidade não se maquia para se mostrar desejável
Se estás imerso nela é porque te punes sendo, miseravelmente,
             [aquele que se vê no espelho
Não te há mais destino certo.
Não pensas em futuro bom.
Queres sair, mas não te há pr’aonde ir
Queres voltar, mas não há por onde
                                                 [sabes que teus caminhos não são teus.
Queres gritar, mas nem tua voz te sai
E não queres ouvir.
És o mais fraco entre os mais duros.
Tu és José,
Tua és Raymundo,
Tu és Carlos,
E és Fernando sendo todos.
Tu és muitos sendo tu
Mas tu és pouco...
No fim, quem és?
Para onde vais?
De onde vieste?
Qual o meio?
Qual o fim?
Houve início?
Que início?
E que tipo de fim?
Para onde?
De onde?
Qual?
Por que?
O que?
Eu!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Pelo menos você tentou...


... e ninguém poderá dizer que desistiu cedo demais.
Eu juro que consigo entender quem se permite segundas chances. Até admiro. Penso que o otimismo joga. Ele faz parte.
Por que não acreditar que as pessoas podem mudar? Acreditar na mudança do outro é manter o otimismo em relação a nós mesmos. Se ele muda, porque nós não mudaríamos?
Tentar outra vez é não se conformar com o fim. O motivo pelo qual temos dificuldade de nos conformarmos com o fim é a sensação de que o fim sugere fracasso. Logo, perseverar é buscar o sucesso que a primeira tentativa nos negou. É rir-se do “destino”. Desafiá-lo.
E o interessante é que todo recomeço parece auspicioso. Parece mesmo que tudo será melhor. Como nós somos tomados pela tendência de nos atribuirmos até mesmo as culpas que não foram nossas, acabamos nos propondo um pacto de que não cometeremos os mesmos erros, de que agiremos com a tolerância que não tivemos e de que optaremos pelos momentos que outrora recusamos. E, no início, cumprimos esse pacto. No início...
É quando, então, o recomeço, essa nova tentativa, tudo parece ter sido a ideia mais acertada. Deixamos a esperança superar o orgulho e optarmos por uma nova chance que, agora, se mostra tão acertada. O novo não poderia ser melhor do que a novidade de quem já se conhecia. Antes era ruim e agora é melhor. Era tudo uma questão de maturidade e paciência. Simples assim!
Só que a verdade é que a gente nunca experimenta conforto maior do que o daquele instante em que podemos ser nós mesmos enquanto ninguém nos vê. O momento em que nós somos só “a gente” e que já nos basta. E esse conforto grita. Grita o grito sufocado pela máscara que muitas vezes vestimos para cumprirmos o pacto de sermos quem não poderíamos ser e, por isso, nunca fomos e nem seremos.
E daí, quem se irritava fácil, continuará se irritando, e ainda que, no (re)começo tente explodir menos, uma hora explodirá. O impaciente, o egoísta e o intolerante, também (re)começam fazendo concessões que no outro momento não fariam, mas logo arrumam desculpas para que os programas que não são seus preferidos não sejam os escolhidos para o sábado à noite. O ciumento e o possessivo até prometerão mais calma e mais confiança, mas logo recriminarão teus amigos, teus programas e teu serviço... porque é a essência de quem são. 
Nós só mudamos para nós e nunca para o outro. É a mudança que vem de dentro pra fora. A mudança que se faz de fora pra dentro é a mudança pro outro e a mudança pro outro e essa mudança é sempre fugaz e se deve àquele preciso instante da promessa em que vale tudo. Na hora em que se quer tentar o recomeço e lutar contra o fracasso que incomoda, todas as promessas são verdadeiras. Mas promessas não passam de palavras.  E palavras voam com o vento e vão pra longe com o tempo.
Mas a gente insiste. A gente precisa insistir já que “o fim” não é só da convivência, mas também é dos sonhos, dos planos, dos projetos de um futuro bom que, de repente, já não era mais aquilo que deixou de ser. E é então que insistimos e pagamos pra ver. Arriscamos o nosso presente em nome do passado pensando que estamos (re)projetando o futuro no momento de agora. E até pode ser que a segunda vez seja a que vai ser melhor, mas se não for, pelo menos você tentou...

quarta-feira, 13 de março de 2013

Todo amor que houver nessa vida


Essa eu aprendi no blog da Fernanda Mello. Em um de seus textos ela falava que demorou anos para concordar com Cazuza quando ele cantava que queria “a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida”. Antes, ela achava que esse tipo de amor seria um tédio.
Ao longo desse texto ( Amar é Punk ) ela afirma que depois de anos escrevendo sobre querer alguém que lhe tirasse o chão, que lhe roubasse o ar, ela vinha humildemente se retificar. E ela afirma: “eu quero alguém que divida o chão comigo. Quero alguém que me traga fôlego.”
E confesso que, ao longo de 17 meses de 'solteirice', não foram poucas as vezes que me peguei imaginando qual o tipo de amor é o amor que eu quero. Continuo concordando com o pessoal do “Clube da Esquina”: "qualquer maneira de amor vale a pena; qualquer maneira de amor valerá!" Mas é qualquer amor o amor que me quero e o que acho que vale a pena querer mostrar ao oferecer?
Aqui nesse blog já se falou sobre amor, sobre paixão, sobre relações, encontros e despedidas. E tudo isso acontece na vida de todos nós.
Hoje, depois de algumas paixões, também quero quem some e compartilhe. Não faço questão de me sentir mais feliz do que a própria felicidade. Não quero o impossível, nem o improvável. Também não quero o que arrebata, nem o que faz querer cantar noite e dia. Não quero o amor que começa à toda e perde em força com o tempo. Nem o amor que parece tanto no início, mas era só a empolgação vinda do desespero de ser amado.
Claro que a paixão é boa. Gosto do amor tranquilo, mas também sei que o amor não sobrevive ao excesso de tranquilidade. O desejo é, sim, fundamental. E não acredito que possa existir amor carnal sem desejo e é claro que para que seja amor deve haver respeito – mas sempre com aquela pitada (necessária) de desrespeito que faz selvagem o encontro que é de alma, mas de carne também.
Amor de fruta mordida... Aquela que você experimenta, gosta e continua provando. Um amor que traz alento. O amor que faz com que se descanse ao lado de quem se gosta e faça com que o sono seja natural.
Eu quero um amor. Sim, eu quero. Mas quero o amor que chegue de surpresa e me surpreenda. Não posso percebê-lo antes de amá-lo. Tem que ser de surpresa, sem perceber. Gostar sem nem perceber que já está gostando. E, quando vier, que venha aquele que me dê paz, que me faça querer ser melhor, me faça querer crescer e que, então, cresça comigo, se faça melhor por mim e sinta a paz que virá do encontro de amor com o meu amor. Um amor que faça e saiba fazer feliz.
Sim. Amar é punk como a Fernanda escreveu, mas amar (e ser amado) também é sorte. E que sorte... 

sexta-feira, 8 de março de 2013

Um amor que eu sei que amei


Algumas histórias de amor têm finais felizes. Outras histórias têm apenas finais. A minha tem final. E só. Poderia ser a história de qualquer pessoa que amou, foi amada, depois se duvidou amada e se perguntou se amava o amor que amou. Poderia ser a história de qualquer pessoa que não viu o amor ficar doente e, na hora da angústia, procurou a ajuda errada num socorro que tardou.
Essa história, prefiro dizer assim, é minha sem que aqui seja e, se você me permite, vou começar contando como ela, realmente, acabou:
“Quando eu me dei conta de que o carro cairia mesmo dentro do rio, foi que tudo ficou claro pra mim: eu a amava. Não naquele segundo em que assustada ela gritou segurando meu braço, assustada pelo fim iminente. Eu a amava desde muito antes. Desde o primeiro momento. Desde o primeiro instante.
Antes daquela viagem fomos um casal. Durante a viagem, já não o éramos há algum tempo. E não me pergunte por que deixamos de ser. Essa pergunta eu já me fiz centenas e centenas de vezes e, definitivamente, não há resposta que me pareça certa. Não há motivo que pareça justo. Não há nada que faça parecer certo. Só que já tinha chegado o fim.
Mas eu a amei, eu a amava... e a imagem dela era a última imagem que eu via, ali, segundos antes do instante em que iria morrer.
Lembro que a primeira vez que a vi sabendo que a via, ela vinha ao longe com mais duas amigas. Inseparáveis até um tempo. Ela era linda. Seus cabelos estavam lisos, escuros e quando caíam pela blusa lilás que ela usava, formavam o contorno ideal para aquele rosto lindo que já tinha visto muitas vezes, mas que pela primeira vez gostava tanto.
Eu já fazia conta dela muito antes de ela notar a minha presença. Era mais velha, tinha mais vida. Já era mulher quando eu era menino e a ideia de tê-la era tão absurda que eu mal conseguia considerar.
Mas naquele mês de julho tudo era diferente. Naquelas formas de mulher pequena havia a felicidade que me seria plena quando, meses depois, descobrisse nela a metade de mim.
Sim. Foram meses. Ela não queria. Eu era pouco e sabia que seu não querer fazia sentido. Ela que já tinha sido tanto e se cuidava desde mais nova do que a idade que agora era eu que tinha e nada fazia, não tinha porque querer quem nada era perto de quem lhe merecia.
O primeiro beijo se deu no dia que dizem trazer azar. Era a sexta das superstições, dos medos, dos uivos e dos gatos pretos. Mas foi a sexta do primeiro beijo. Um beijo... batalhado. Sim, porque apesar da noite agradável, do abraço apertado e das palavras perto do ouvido, ela não se deixava beijar. Mas ela se deixou beijar e, depois daquele beijo foram anos de beijos do menino que nada era com a mulher que era tanto.
E ela era tanto... e no tanto que ela era, foi muito que ela ensinou.
Por causa dela, eu que mal me sabia, queria ser diferente daquele que eu era. Tinha que mudar. Queria lhe ser motivo de orgulho, queria fazer com que ela se orgulhasse e cada dia parecia mais certo a escolha de amar.
Queria amá-la.
Um mês, uma rosa; dois meses, duas rosas; flores, poesias, vinhos, carinhos, desejo... amor?
Meus pensamentos eram dela, meus sonhos tinham ela e mesmo a vida naquele começo era toda dela que me parecia boa, ainda que sempre acima, como quem olha da janela aquele que, de longe, faz acenos e gentilezas enquanto pensa uma forma de alcançá-la.
Já não me via mais sem ela. Amor?”
- Pensei que conseguiria contar a história que era minha, mesmo que eu tenha dito que não é e, espero que você pense que não é mesmo. Mas não consigo seguir daqui. Penso que o melhor é que alguém conte por mim, ainda que esse alguém não saiba como eu. Mas fica seu testemunho ao invés do meu:
“Moraram juntos. Não se diziam casados, até sabiam assim, mas se enganavam dizendo que não era o que todo mundo via que se fizeram sem querer.
Todas as noites encostavam-se para o que se queriam e a presença do corpo de um era o pedido do corpo do outro para a noite que se dormiria em paz. Meu corpo era mais calmo na presença do corpo dela e mais vivo a cada instante que se tinha pra viver.”
- Não! Não dá certo que outro conte por mim. Deixa-me voltar a falar a história que sou só eu que sei de um jeito que só eu sei:
“Nossa, eu a amava!
Ela dizia amar e era do seu jeito não saber escrever como eu escrevia e nem mostrar isso como eu mostrava, mas ela sabia amar e hoje eu vejo, ela também amava.
Mas muitas vezes eu quis que fosse como eu fazia e essa ausência me doía e até me fazia duvidar. Eu era um idiota. Agora, vendo o carro cair da ponte alta, sem qualquer controle e com a certeza de um único fim, vejo seus olhos e neles a história que foi nossa e que, no fim, fui eu que pus o fim. Ela me amava sim e eu a amava também.
Eu já aprendia mais. Já era outro. E sentia que ela gostava. Ainda assim, de tempos em tempos eu era errado e errava. Cada mágoa que lhe fazia era uma dor que também me causava. E pra cada perdão que pedi, era menos um perdão que me guardava.
Mas no fim do dia, voltar pra casa era vê-la. Era abraçar o corpo que melhor eu conhecia e que me conhecia como nenhum outro. Era beijar o beijo que me entorpecia e encontrar o amor que me alegrava. Era bom voltar pra casa.
Mas o tempo é implacável e não parou de passar e trazer ventos diferentes e desafios... E eu fui sucumbindo a cada um deles. Perdi minhas forças. Duvidei dos amores. O que eu tinha e o que eu recebia. Fui fraco. Não achava sentido em ser amado e já não me achava amado, nem como queria, nem como – por suposto – achava que merecia.
A urgência dos anos e os passos da vida eram de um caminho que me levava para onde não sei. Não sabia. E ainda hoje não entendo. Só sei que a olhava, lhe sabia, mas parecia não entender, não compreender.
Era estranho a mim, era estranho a ela, ao mesmo tempo que lhe via, lhe sabia, mas já não podia lhe entender.
Senti que lhe perdia e ela parece não se dar conta do risco de me perder. Inseguro, temeroso, já achava que não lhe importava me ter ou me perder.
Perdíamos um do outro, não nos víamos e não sabíamos de nós. Conversar? Pra que? Eram muitos anos. Os olhares deveriam dizer e a certeza não poderia morrer. Nós sempre éramos quem sempre seríamos e não havia assunto que trouxesse dúvidas nos corações que só podiam ter certezas.
Nos perdíamos até que nos perdemos.
Hoje eu sinto falta dela quase todo dia e, certamente, toda noite. Quando o som da vida lá fora é nenhum, meus ouvidos ouvem suas voz enquanto meus olhos se fecham para que recebam a visão da sua chegada.
Ela era. Ela é. Ela será.
Será sempre presente quando, mesmo no futuro, eu revisitar meu passado. Será sempre dona de um sorriso que é só pra ela e de mais.
Sei que lhe amei antes de saber amar... e o que me resta senão amar, amar, (re)amar e mais amar quando venha o que seja amor?
É, então, que amo!”