segunda-feira, 19 de novembro de 2012

AMAR: Tem que valer a pena ou vale simplesmente amar?


Certa vez, enquanto se correspondia com uma paciente que se tornara sua amiga, Freud disse-lhe: o problema é que – sou um velho – você não acha que valha a pena me amar.
Essa frase curta de Freud traz em si uma consideração muito séria: por que amamos? Amamos porque vale a pena amar ou amamos pelo simples prazer de amar?
De uma forma, aparentemente melancólica, Freud, no alto de seus 77 anos afirmava para sua amiga (a poetiza Hilda Doolittle), que não havia motivo para alguém se apegar a um outro alguém que duraria tão pouco. Era quase como se ele afirmasse que as pessoas costumam crer que um sentimento se mede pelo tempo de sua duração e não pela intensidade com que ele se sente. Mas a intensidade muitas vezes assusta...
E eis que vem a questão: o que é “valer a pena” quando se fala em amar? Até porque, se eu penso que amar tem que valer a pena, preciso, além de enxergar essa compensação no outro, perguntar a mim mesmo se “me amar” valeria a pena para a mulher que me amasse.
Mas a tendência é que nos ocupamos de procurar esse “valer a pena” no outro e esquecermos da parte que nos cabe a nós. E daí o amor passa a se mostrar na sua forma egoísta e, ao menos para mim, egoísmo não combina com amor. Pelo contrário. Egoísmo é o mal que mata o amor aos poucos, separa os amantes um do outro. O egoísta pensa em si e, por egoísta que é, não ama o outro como o outro pede para ser amado, mas apenas se sente no direito de exigir que a vida que se vive seja a vida que ele –  egoísta – resolveu viver. E sem acordos.
Amar é troca. Amar é compartilhar, é viver para ambos e não para si. É ser do outro mesmo antes do outro ser de você. É sentir porque sente e não porque é conveniente.
Só que temos outros problemas quando pensamos no amor e se ele tem que valer a pena.
Nem sempre o amor com que se ama o outro é o amor com que esse outro quer ser amado. Cada um de nós sabe o que podemos oferecer, mas somos apenas nós quem sabemos o que queremos que nos seja oferecido. E, quando não nos sentimos prontos para retribuir um sentimento que nos parece tanto diante daquilo que sabemos haver (ou não haver) em nós, nos assustamos – não sem razão – e os medos de magoar e ser magoado começam a indicar que não vale a pena amar. E nem deixar que nos amem, porque achamos não merecer o amor que ousaram nos amar. E fugimos do sentimento que não sabemos corresponder.
(não alimentar um sentimento é diferente de sufoca-lo).
Amar e ser amado é a equação perfeita. Querer e ser querido é o que melhor há e, por isso, nos devemos permitir ter. E não será o tempo da duração desse sentimento que vai dizer se valeu a pena. O poeta já dizia que tudo vale a pena a depender do tamanho da nossa alma. Há amores de verão que ficam para sempre e amores de estações dos quais se lembram pouco. Mas foram amor do jeito que cada um sabe amar.
Mas no final é amor e se é amor, vamos tratar de aceitar e amar. Porque, até onde sei, vale, sim, a pena amar.