quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Aviso aos Navegantes

O Trovante abre o seu ano de 2011 com 05 novos textos. O primeiro deles, de cima para baixo, é uma rápida reflexão sobre escolher viver ou pensar, sabendo que a vida não espera uma decisão; o segundo, por sua vez, flerta com um tipo de crítica a esse mundo atual em que tudo parece tão normal que acaba sendo muito estranho; a seguir, um poema que sabe lá Deus se é autobiográfico ou não; a quarta postagem é da série músicas que gosto, quando, após Dorival Caymmi e Michael Jackson, finalmente, resolvi escolher uma de Chico Buarque; e por fim, minha homenagem à personagem de sitcom que mais me tem feito rir atualmente, Sheldon Cooper.
Será sempre um prazer recebê-los e deixe o seu comentário. É bom saber de quem passou por aqui.
Sejam bem-vindos.

A vida não para de viver - parte I



Pensar ou agir?
O dito popular ensina a pensar duas vezes antes de agir. A música do grande compositor dá o “Bom Conselho” de agir duas vezes antes de pensar.
Será que a vida segue um padrão? Será que segue uma receita já há muito definida? Ou essa vida, nossa vida, é vivida no improviso? É vivida no ato em que se torna urgente viver...?
Independente do que se escolha, se pensar ou agir, se aguardar ou viver, se fazer ou esperar que aconteça, seja o que for a verdade é uma só: a vida não para de viver.
A vida não espera ainda que nós esperemos na vida.
E pra piorar (ou não), nós somos a consequência de nós mesmos. Não há sucesso de que o responsável não sejamos nós. Mas também não há fracasso em que a culpa não seja nossa.
A vida é recheada de medos. O medo é bom. Muitas vezes o medo mantém vivo. Mas não se pode ser refém desse medo.
Uma vida mais ou menos não vale mais do que uma vida não vivida, mas vale muito menos que uma vida de quem se permitiu viver, de quem não temeu se lançar ao que os dias tinham pra oferecer.
De que importa se esforçar para ser aceito por quem te cerca e, para isso, deixar de ser quem você é e se tornar quem esperam que você seja?
A vida é única e uma. E não é justo, para conosco, que queiramos achar no outro a aprovação para aquilo que somos nós. E não é justo, para com os outros, que queiramos parecer para eles, justamente aquilo que não somos. Se formos o melhor daquilo que temos que ser, seremos também o melhor que teremos pra oferecer.
Mas não pense muito no que ser. Está na hora de viver, porque a vida, a vida não para de viver.

Que tal esse mundo?


E que tal esse mundo em que juízes são exonerados por darem sua opinião ou por cantarem uma mulher na sorveteria? Aliás, quanto a isso, nunca ouvi motivo mais absurdo. Perdoem-me os moralistas, mas o mundo anda pra frente...
Que tal esse mundo em que o Partido dos Trabalhadores vota contra os Trabalhadores, dá um aumento (?!) no salário mínimo pífio e ainda se vale de uma manobra jurídica pra governar por decreto (sim, porque o aumento do salário é só o começo).
Esse mundo em que o Brasil elege uma presidente que até parecia que ia bem, mas que, ao que tudo indica, tem a mesma aversão à democracia que os seus vizinhos do sul. Esses mesmos que, aparentemente como ela, criticam americanos do norte por seu imperialismo, mas que gostam de governar como se fossem Imperadores.
Que tal esse mundo em que os alunos se assustam quando a gente fala de BBB durante a aula?
Que tal um mundo onde o Restart existe e não é só uma opção do video-game?
Que tal um mundo em que o Luan Santana é galã e o Fiuk se acha músico?
Um mundo em que a geração atual se quer mais careta do que todas as outras que tiveram que morrer pra mostrar que é pra frente que se vive e fazendo a revolução, que tal? Jovens que querem passar num concurso, casar e ter filhos, quando estão na idade de contestar até o que está certo, se rebelar com o que já há e criar o que seja o legado deles.
Que tal um mundo que a juventude não deixará qualquer legado, mas que quase não se saberá que passou por aqui?
Um mundo em que o novo realmente não vem mais. E não somos nós que simplesmente amamos o passado...
Que tal um mundo em que quando as pessoas se revoltam contra um ditador tirano todos nós aplaudimos como se fosse a exceção, quando o inconformismo teria que ser a regra na luta contra tudo que não é bom?
Que tal esse mundo?
Esse mundo é nosso mundo, feito por eu e você.
Péssimo pra nós.

Mais que nada


E se há a felicidade em meu destino
Ela se faz ausente (e a mim descrente)
Pendente que se sente meu peito
De um sorriso nesses meus dias
Em que me sinto refém nesse meu desatino.

Os dias que me veem são tudo menos leves
A mais suave pluma me pesa como o mundo à Atlas
E tudo que invisto não é mais do que o próximo fracasso
[de amanhã.

Se me veem certezas elas logos se mostram erradas
E quando me acostumo à companhia do erro
Mesmo ele se me ri
Naufragado que me mostro na mais mansa água.

O coração que quer sorrir é aquele mesmo que só chora
O sorriso que não se abre, faz-se por mais distante a cada nova meia-hora
E a companhia boa que me era antes é só a lembrança de um momento de outrora.

Não me há mais nada, como tampouco me há pra mim.
Na maior parte do tempo sou pouco menos do que nada.
E tudo que nunca fui me açoita na lembrança de que teria sido.
Se fosse um pouco mais do que jamais virei a ser.

Na maior parte do tempo, meu coração sangra de uma punhalada
[que quem me deu fui eu.

Músicas que gosto - Parte III

EU TE AMO (Chico Buarque e Tom Jobim)

Nessa ideia de fazer a sessão “Músicas que eu gosto”, poderia ficar semanas e mais semanas só escrevendo sobre as músicas de Chico Buarque. Não escondo de ninguém que ele pra mim é o melhor de todos (nunca coloco Vinícius de Moraes em comparação com ninguém porque ele foi o maior de todos).
São várias e muitas as músicas de Chico que gosto e tenho dificuldade em falar qual ou quais as que gosto eu mais.
Mas essa música em questão tem estado em todas as listas e, provavelmente até seja a que mais me encanta (ou não).
É de um lirismo que não poderia ter outro piano a criar sua melodia que não fosse o de Tom Jobim.
Nessa canção há, seguramente, a metáfora mais bonita que eu já ouvi (ou mesmo dentre as que eu li): “se na bagunça do teu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu”.
Que desejo mais intenso que o desses amantes que se embolam num bem-querer que acontece e enquanto se acontecem um para o outro, redefinem a ideia de se fazerem um só.
Esses amantes que vivem o mais intenso de um amor feito em desejo, que perdem a noção da hora quando juntos e se veem sem sentido quando longe. E que mesmo depois do adeus, sabem que se chamam para si.
Mas agora, mais Chico e menos eu.


Eu Te Amo
Composição: Tom Jobim / Chico Buarque

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

Sheldon Cooper


Aqui também há espaço para falar do que gosto.
Pra mim, FRIENDS sempre será a melhor série de todos os tempos para sempre e enquanto houver tempo para entrar nessa contagem de todos os tempos.
Mas confesso que a minha personagem de SITCOM preferida de todos os tempos está em outra série. E vou além. É quase impossível conceber que alguém que tenha assistido um único episódio que seja da sua série não compartilhe da mesma sensação.
Esse gênio da física, sem qualquer traquejo social, totalmente NERD é das personagens mais engraçadas que a televisão já produziu. Com a sua incapacidade de perceber ironias ou com sua tendência a uma sinceridade inocentemente desconcertante, Sheldon Cooper rouba a cena na hilária “The Big Bang Theory”.
Com um conhecimento de cultura “pop” restrito às histórias de quadrinhos, esse prodígio que nunca deixou de ser criança vive num pragmatismo científico que, de tão absurdo, arranca risadas mesmo quando sua comparação se vale de uma teoria física que, no fim, a gente parece até entender.
Como não rir da cena em que ao fazer um strike numa partida de boliche ele grita: Aleluia, Jesus! Logo ele ateu que vai à igreja uma vez por ano para contentar sua mãe muito religiosa (para seu desgosto).
Ou com a sua fixação pelo local de sentar, sempre exigindo que saiam do seu lugar.
Todos os seus transtornos obsessivo-compulso que o levaram a invadir a casa da vizinha em plena madrugada para organizar sua bagunça ou mesmo roubar um filme num cinema em que ele passou horas na fila para tentar entrar.
E quem é que tem coragem pra chegar pro próprio chefe e dizer que o trabalho científico dele tem a validade das considerações de uma criança primária?
Eu juro que as vezes – só as vezes – eu me acho muito Sheldon Cooper. Bazzinga!!!