quarta-feira, 1 de abril de 2020

Foco em viver (contemplação)

As pessoas parecem que não vivenciam a intensidade de mais nada além do próprio medo, da vaidade e do orgulho. Estamos cada vez mais incapazes de contemplar. Tudo é superficial.
Se algo dura mais do que 3 minutos a gente já divide a nossa atenção. Perdemos a condição do foco. Assistimos a TV mexendo no celular (na verdade, muitas vezes a TV virou rádio). 
Filme? De que adianta o ator treinar uma expressão, o diretor escolher um ângulo específico de câmera, o escritor se esmerar no texto ou o compositor traduzir as emoções em música se entre um frame e outro eu cuidarei de ver se alguém falou comigo ou reagiu a mim? 
Quando estamos conversando via internet, enquanto um digita a gente vai em outro grupo, em outra conversa; às vezes conversamos pessoalmente, mas enquanto o outro fala, nós — de soslaio ou acintosos — corremos os olhos para tela do celular. E nisso ficamos mantendo vários diálogos sem nos dedicarmos verdadeiramente a nenhum. 
Se você reparar, quando colocamos uma música, muita vez é só pra que haja algum barulho. Sequer podemos dizer que realmente a ouvimos e escutamos. Se alguém perguntar de um solo de guitarra ou de um verso específico, é capaz que nem tenhamos prestado atenção.
Queremos tanto ficar vivos, mas pra que se vivemos como se nada mais importasse além de estar em todos os lugares sem pertencer esse dedicar a nenhum? É como se a nossa ambição fosse experimentar tudo, mas sem sentir nada. Por medo da dor renunciamos até a alegria.
Triste demais.

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