sexta-feira, 11 de julho de 2014

Sombras... (só eu que falo, e até ouço, mas cansei de falar)

Preciso seguir, mas só vejo sombras.
Quero seguir, mas só vejo sombras.
Só eu posso ir, mas só vejo sombras.

Não sou quem vai só
E me esperam qual luz que desfaça as sombras
Mas só vejo sombras.

Por que vêm comigo?
Sim, eu chamei, mas por que disseram sim?
Sim, eu gostei, mas por que querem demais?

Sou navegante sem navegador e ao tempo de um sou todos
Sou a bússola, o astrolábio, o quadrante e até a minha nau
Sou o que goza, amarra e pune; sou quem faz tipo de mau.

Sou navegante que se navega e tenta ondas que parecem altas e perfeitas
Mas sou navegante que se navega e que sempre atravessa a onda e chega
Qual a graça de saber levar o mar?

Pensei em rezar para que se fossem as sombras
Mas só vejo sombras sobre quem pensava ter luz
No fim vemos todos nossas sombras e nos apegamos todos à ideia da luz.

Não me entendem enquanto os entendo e até quis me legitimar
Mas aos olhos que não sabem nem ver
Fui mais sombra que as sombras que há.

Conheço seus segredos, mal se escondem assim
Mas deixo-os crer no meu próprio degredo
Logo eu que, mesmo entre eles, não saio de mim.

Tentei rezar e sofri
Tentei sofrer, mas rezei
Rezar e sofrer é como se deve viver?

Não vivo pra morrer
Mas se morro é porque vivo
E então ouço a música que me acalma... é como um hino

Destinados todos a um só e mesmo final
Mal sabemos em vida se há a vida ideal
E de ideia em ideia me provo que o jeito que foi não era o jeito que era.

Mas sou eu que falo
Sim, ouço! Mas sou só eu que falo.
De tanto que falo não gozo em falar.

Mas preciso dizer, guiar, fazer, dominar, possuir e ter
Levo, faço, domino e quando me sou quem só eu sei (culpado)
Arranco pra fora desejos que se deviam guardados.

Sou quem controla o ritmo e o instante
E quando crio e narro em sussurro o cenário que faço
Gozo em tirar um suspiro abafado (safado).

Gozo é ousar até além do que me esperam
É assombrar os que pensam que o limite é aqui.
Não vejo limites que não possam partir.

Mas sou eu que falo, só eu que falo
Só minha voz em que se repete a velha história
E o que é novo pra uma não me passa de memória.

Alguém me tire de mim e me faça calado
Senta em meu rosto e me faça abusado
Debruça e alcança meu corpo estalado.

Sabe quem faz e quem faz sabe
Quem ensina aprende e quem aprende cresce
Mas sou só quem domina o outro corpo que agradece.

Venha-me mais.
Mais de mim pra mais dos outros
Mais de mim pra mais de mim.

Quero o conforto da hora errada
Quero o erro que atrapalha
E a demora do dia distante que dispensa o depois.

Enquanto isso, sou só isso...
Navegante sem navegador,
Náufrago ilhado num deserto repleto de dor.

Tentei rezar
Mas só eu que falo
E eu já cansei de falar...

07/2014

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