sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Errar sem medo de perder (ou, se arrepender é normal)

A gente faz escolhas o tempo inteiro. Escolher é, certamente, das experiências mais brutais a que nos submetemos. E não é por um acaso que a maioria das pessoas faz de tudo para não escolher. Uns acusam o destino, outros recorrem à vontade de Deus: quando a gente escolhe a gente sempre perde. Mesmo que ganhe, sempre perde. É como na música do Charlie Brown Jr: na vida, "cada escolha, uma renúncia".  Só que se a gente pensar bem, na verdade, a cada escolha são várias as renúncias a que elas nos obrigam.
E se para escolher uma é preciso renunciar a várias, logo, se arrepender é o que há de mais humano e o que há de mais normal.
Fiquemos, pois, tranquilos: você, eu, todo mundo... a gente sempre vai se arrepender. E não porque não nos escolhemos o que haveria de ser o melhor, mas porque quando escolhemos o que escolhemos, fazemos acreditando no ideal. E a escolha que vai sair desse “campo do ideal” e se tornar real, ao ser real, (não raro) será diferente daquilo tudo o que a gente imaginava e queria quando ainda apenas sonhava ao tempo de escolher. Nesse momento em que a escolha se faz real e o real se mostra cru e cruel, todas aquelas outras opções que foram abandonadas, nos assombram a partir da perfeição daquela ideia outra (das escolhas outras) que a vida não logrou estragar sendo real. Assim, essas renúncias vão sempre nos dar a (in)satisfação ideal ao imaginarmos que lhes ter escolhido nos teria garantido uma vida mais feliz.
Ora, se a escolha pressupõe renúncias várias e essas renúncias várias sempre pareceram mais perfeitas do que a escolha feita que por ser verdade insatisfaz, é cada vez mais importante estarmos no domínio de nós mesmos para que entendamos as nossas circunstâncias e - dentro do possível - as circunstâncias dos outros. Essa talvez seja a única maneira de sermos justos em relação a nós e às nossas expectativas em relação ao mundo que devemos ao menos tolerar.
"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás aos deuses e ao universo...”, era a recomendação que o oráculo divino trazia desde o Olimpo. Mas é daí que vêm as melhores decisões. As decisões bem tomadas que, porém, não estarão imunes ao arrependimento. Até essas carregaram certo arrependimento. Conheça-te. Saiba de verdade quem você é, do que gosta, porque gosta, o que quer e porque quer e persista. Ouse. Erre, quebre a cara, sofra, mas viva, reviva, prossiga. A vida é uma só e se precisa viva, porque para não viver já basta o momento que teremos que morrer.

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