terça-feira, 10 de maio de 2016

Deve ser bom poder chorar...

Em um tempo em que ainda era criança que sonha ser gente grande e feliz, nada parecia longe, nem distante, nem difícil...
O tempo que eu tinha era o tempo todo que eu ainda teria e nada como ter a sensação de ter todo o tempo para se deixar o tempo passar. E ele passa.
Na inocência das minhas infinitas possibilidades, eu me guardava as mil aventuras em que era sempre rei, herói, mocinho dos mais galantes e precisos.
No alto de cada sonho, eu acreditava em cada sonho e investia em cada espera de ele se realizar.
Não me disseram que sonhos não se realizam, mas precisam ser realizados. Não me ensinaram que sonhos são apenas sonhos e que por isso não existem. Não me contaram que sonhos seriam a garantia de toda futura frustração.
Mas esses “eles” ocultos deveriam ter sido sempre eu. Eu que não quis ser de mim, mas me perdi no aguardo de saber ser do que me regesse. E nem nisso soube ter sucesso. Nem nisso soube ser feliz.
Invejo quem tem lágrima. Deve ser bom poder chorar.
Porque agora, o tempo pode até ser muito, mas tudo o que parece é que é pouco.
As aventuras que fariam reis são desventuras que me fizeram bobo.
Os caminhos que não lograram risos vestem penúria. E tudo em frente é só a escuridão já descoberta, desvendada e destapada.
O que era pra pôr-se desde o alto já há muito que se sente no mais baixo como a vida que, desvivida, descansa do mundo debaixo de todos os pés.
Tudo é o passado do que nunca se fez presente. História terrível do que nunca se providenciou. Não se trata do irrealizado. Dói é o que não realizou.
As perguntas são: em quantos erros nos dividimos ao longo desse viver? E de que vale tudo isso? De que vale o saber o que se aprende se só se sabe quando já parece tarde demais? Quando, ao final, toda a sabedoria que o erro nos traz acaba e o resto... bem, o resto, como em Hamlet, “é silêncio”. E mais: quem aprenderá com esses erros que se acumulam e só? Se não a mim, a quem servirá essa existência vil que se acumula em dias só pra me fazer mais enfadado da minha própria cara?
Gostaria de saber sorrir. Mas na verdade, invejo quem tem lágrima. Deve ser bom poder chorar.

Um comentário:

Anônimo disse...

O TEXTO É BOM!!

CHORAR, de tristeza ou de alegria, TAMBÉM É BOM. Mas requer moderação.

Se me permitem o autor e os leitores, gostaria de fazer a "pergunta de 1 milhão de dólares". Posso? Peço que, por gentileza, responda(m):

- Os meus erros. Se não os tivesse cometido, estaria (mais) feliz? QUEM GARANTE?


Parabéns pelo texto!

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