domingo, 24 de julho de 2016

O negócio é temer* menos e gostar mais

O medo é um dos afetos mais entristecedores a influenciar o comportamento humano. E ele está cada vez mais presente.
Um dos piores medos é o do mundo real. O medo que impede de ser de verdade, de dizer o que quer e o que sente; de pedir, revelar, tentar. Medo de descobrir que sente e quer sozinho ou de pedir e tentar e ouvir um não. E daí as pessoas se escondem nos seus avatares. Encerram-se em solidões sem coragem de pedir a companhia. Encerram-se na dor sem coragem de pedir afeto. Encerram-se na vida sem coragem de pedir saída. Tudo porque têm medo de tentarem o outro e descobrirem que não lhes há aquele alguém.
Pior ainda é o medo de não encontrarmos quem queremos. E o grande problema está em idealizarmos a perfeição desse alguém que queremos e, então, olharmos o outro não como ele é, mas como o resultado de tudo o que falta para que ele seja aquele a quem idealizamos. E idealizamos tudo: desde o tipo físico até o sorriso quando nos vejo ou o jeito sereno de dormir ou a cara de bobo ao acordar.
Mas é quando eu digo que quando a gente imagina, por exemplo, o encontro ideal, o parceiro ou a parceira ideal, o olhar, o beijo, a pegada, o dia seguinte e todos os outros, na verdade o que a gente está fazendo é namorar a gente mesmo. Nesse instante, estamos querendo que o outro seja quem somos – desde que fôssemos pra gente (já que dificilmente somos perfeitos assim pro outro).
Isso é um grande erro! Pensar o amor que queremos é deixar de amar quase todos os amores que podemos. E são muitos os amores que podemos. Deixar de amar é deixar de viver. Parafraseando Quintana, “Morrer: que me importa? O diabo é deixar de viver!”.
E não é que não devemos nos ter na conta de quem por ter grande valor merece um grande amor. Mas talvez seja o caso de se entender que o grande amor não é aquele que vem sob medida, mas é aquele que se descobre, se ajusta, faz a vontade porque tem vontade e se basta na vontade de ficar à vontade com quem descobre que lhe faz bem.
Ora, nós somos capazes de saber do que gostamos, mas jamais poderemos ter certeza do que (e de quem) realmente gostaremos. Quanto mais de quem não gostaremos. Mas acabamos nos pondo em tantas defesas, tantos joguetes, tantas expectativas de tantas perfeições (do outro, dos instantes, dos momentos) que cada vez mais dói a ideia de que dizer SIM pra um é dizer NÃO para todos (vai que o melhor era o próximo que eu não soube esperar).
E parece que tudo isso é fruto de uma insatisfação que nasce a partir de uma falsa perspectiva do que é a vida individuada em cada um. Porque as vidas, hoje, socializadas – já que sempre postas nas “vitrines sociais” – se fazem sujeitas a toda sorte de escrutínio popular e daí muitas vezes a tendência de se valorar as próprias escolhas segundo aquilo que se imagina que os outros podem julgar ao nos analisar.
Nisso, a vida que é nossa deixa de ser nossa porque damos ao outro o poder de nos incomodar com um julgamento que achamos que ele fará acerca das nossas escolhas, mas que, na verdade, é o julgamento que nós mesmos fazemos, já que não pensamos com nenhuma outra cabeça que não a nossa. Não alcançamos o pensamento de nenhum outro alguém.
Mais e mais as pessoas julgam-se no espelho do outro e sob as circunstâncias que pensam serem as do outro, mas, com isso, não percebem que elas se fazem vilãs contra suas próprias vidas e que são elas que combatem contra a sua própria felicidade na medida em que se fazem o principal obstáculo à sua alegria e à paz.
O negócio é temer menos e topar gostar de gostar mais.



*o título não tem qualquer conotação política (rsrs)

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