sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Não existe igualdade. Graças a Deus

É como se vivêssemos tempos em que precisamos eleger vilões que nos façam nos sentir tal qual aos heróis. É a partir de um suposto opróbrio alheio que aproveitamos a chance de afirmarmos que somos os bons moços, os verdadeiramente dotados de bons sentimentos, bem quereres, empatia. Que queremos a felicidade de todos e o respeito à igualdade a que sempre defende(re)mos e pela qual não cansa(re)mos de lutar. É essa gente que depende do diferente ou, de tal igual e omissa, não teria voz para se fazer notar. Aliás, gente bem cansativa que parece nem saber do que fala, mas fala.
Afinal: desde quando somos realmente iguais? E por que seria bom que fôssemos?
Não é novidade para ninguém que a nossa sociedade é vítima do discurso cristão (principalmente esse de que somos filhos de Deus e, portanto, irmãos e, consequentemente, iguais por vocação e herança – divina). A partir dessa influência, buscou-se consagrar essa igualdade nos textos de lei e parece que com alguma razão, afinal, parece justo que pessoas que vivem sob as mesmas obrigações sejam titulares de mesmos direitos (civis).
O problema está em quando esse discurso passa a ser assumido como máscara de muitas pessoas que a ele aderem sem qualquer reflexão, preocupadas, apenas, com não serem vistas como anátemas dentro do círculo social (seja o mais próximo, seja o mais remoto). Ou não é fato que vemos – ouvimos – inúmeras pessoas repetindo discursos de uma igualdade que, por força da natureza, simplesmente não há (não é)? E chega a ser impressionante o quanto se ofendem e se insurgem contra aqueles que se recusam a acreditar que todos são iguais por serem humanos (que é diferente de serem iguais por serem cidadãos). Muitas, inclusive, sentindo-se no direito de ofender e acender a sua ira contra qualquer um que não se ocupe de ser mais um produto dessa pasteurização nociva que não se envergonha de defender que não deve haver diferença entre dois diferentes.
Pergunto: e daí se o negro se acha melhor que o branco ou vice-versa? Se o asiático se considerar mais capaz que o latino ou seus vizinhos hindus; ou se o grego entender que tem mais motivos para se orgulhar de sua história que o judeu? Se um homem quiser achar que é melhor que uma mulher ou se a mulher entender ter razão quando sabe que o homem é suficientemente fraco pra se sujeitar ao que ela quiser? Ora, em nome de quê as pessoas precisam andar de braços dados e corações gratos cantando “kumbaya” como se fossem uma grande família universal? Os fortes não devem ter vergonha de ser forte porque haverá alguém fraco; o bonito não precisa se “enfeiar” para que o feio não se constranja ante a sua ausência (evidente) de seu capital estético. Assim como o inteligente não precisa querer provas fáceis porque outros não conseguirão responder e o resiliente se compadecer do desistente porque suportou provações que este não conseguiu.
O mundo conhece inteligências diferentes, condições atléticas diferentes, com corpos diferentes, estéticas diferentes, por que, em nome da razão (e não da lei que nem sempre tem razão) se deveria defender que esses tantos diferentes sejam iguais ou tenham oportunidade iguais?
Infelizmente, ao longo dos últimos anos têm se voltado ao exercício de uma cultura – ocidental cristã – em que se busca nivelar os sujeitos “por baixo” (afinal, “os pobres de espírito é que terão o reino dos céus, os que choram é que serão consolados e os mansos é que herdarão a terra”). Com isso, parece que querem acabar com as diferenças exaltando os “sem motivo” ao mesmo tempo em que desacreditam os que teriam no que se (auto)gloriar. Não se quer subir ao alto a que o outro subiu, mas esforça-se em trazê-lo ao mais baixo em que está. Até porque, destruir é mais fácil que conquistar.

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