Lembro-me da vez que alguém, julgando me ver numa
situação desfavorável, disse-me que eu “deveria aprender a sofrer”. Aquilo que
me pegou de surpresa. E, por mais que eu não tivesse entendido muito bem qual
teria sido a intenção da pessoa (ou do seu conselho), foi inevitável me pegar
imaginando que, de fato, eu não sabia sofrer (e nem quereria saber).
Não que eu esteja tentando sugerir que eu não fique
triste, não me abale pelo que escapa ao meu controle e não sinta tristeza
quando há o que me cause dor. Pelo contrário. Há muita coisa no mundo que me
entristece (e vocês achariam inúmeros textos aqui que provam isso). E ainda sou capaz de insistir que duvido que haja o que me entristeça mais do que a tristeza de
quem eu gosto e me é importante. Mas o fato é que eu nunca tive muito tempo
para o tempo do luto. Mesmo nas vezes em que “perdi” as mulheres de que gostei
(e notem as aspas de quem tem a consciência de que não é dono de quem quer que
seja, então não perde quem quer que seja – e dessas de que mais gostei, pode
acentuar o gostar que me moveu), nem nessas me permiti o luxo de ficar muito
tempo lamentando não ter sido querido por quem não me quis.
É que não me parece prudente sofrer pela escolha
alheia quando, no fim, nem quem escolhe sabe bem se o que tem é o que quis.
Só que noto que algumas pessoas levam muito a sério isso
de não ser bem quisto e agem como se considerassem que a escolha do outro (por
outro) é uma reprovação de quem são (ou se mostraram). Agem como se elas mesmas
fossem culpadas por terem sido deixadas, não terem sido amadas. Mas que
compromisso o outro tem – de verdade – com o que me desperta ou me faz desejar?
Nenhum!
E não é verdade que somos responsáveis por aquilo que
cativamos. Quanto mais “eternamente” (raposa mais mentirosa!). Cada um é senhor
dos seus atos e vive conforme suas circunstâncias e, assim como nós temos as nossas
vontades, o outro tem a sua. Querer manipulá-la (a vontade do outro) para que
seja conforme as intenções que nos favoreçam é uma prova de falta de
conhecimento do que é ser humano.
No final das contas, somos escolhidos menos pelo que
somos do que por aquilo que o outro projeta que (lhe) seremos. Mesmo porque, a
mim me parece que é raro que sejamos a primeira opção de qualquer um que nos
conheça bem. Até podemos ser a opção imediata de quem gastou tempo demais para
descobrir quem éramos (mas mesmo esse pode se frustrar se continuar achando que
aquele que fomos é o mesmo “um” que continuaremos sendo).
Portanto, não há o que e nem o porquê de se sofrer. Tampouco
há que se aprender a sofrer.
A vida segue cada qual com o protagonismo da sua
própria vida e dos atos que a moldam (lhe moldam). Não há maiores responsabilidades
ou traumas, mas apenas a certeza de que só deve brincar na gangorra da vida aquele
que sabe que não se fica sempre no ponto mais alto, mas que às vezes é preciso
descer, respirar e tomar o impulso necessário se quiser voltar a subir.
A verdade é que ninguém tem o dever de se sentir
infalível, irresistível e completo para o que outro espera de si e pra si.
Assim como esse outro não precisa se contentar com menos do que aquilo que se
deseja ou fantasia. Ninguém será perfeito e, se for, deve-se mais é desconfiar.
E o que é a vida se não o que está aí pra nos provar. Ou não é verdade que houve
a vez que você quis e teve, mas nem por isso você sente vontade de voltar
àquela história de lá?
Um comentário:
É, isto vale para qualquer tipo de relacionamento...
Postar um comentário