domingo, 9 de dezembro de 2018

Não se deve sofrer pela escolha do outro: ele não é (e nem tem que ser) você


Lembro-me da vez que alguém, julgando me ver numa situação desfavorável, disse-me que eu “deveria aprender a sofrer”. Aquilo que me pegou de surpresa. E, por mais que eu não tivesse entendido muito bem qual teria sido a intenção da pessoa (ou do seu conselho), foi inevitável me pegar imaginando que, de fato, eu não sabia sofrer (e nem quereria saber).
Não que eu esteja tentando sugerir que eu não fique triste, não me abale pelo que escapa ao meu controle e não sinta tristeza quando há o que me cause dor. Pelo contrário. Há muita coisa no mundo que me entristece (e vocês achariam inúmeros textos aqui que provam isso). E ainda sou capaz de insistir que duvido que haja o que me entristeça mais do que a tristeza de quem eu gosto e me é importante. Mas o fato é que eu nunca tive muito tempo para o tempo do luto. Mesmo nas vezes em que “perdi” as mulheres de que gostei (e notem as aspas de quem tem a consciência de que não é dono de quem quer que seja, então não perde quem quer que seja – e dessas de que mais gostei, pode acentuar o gostar que me moveu), nem nessas me permiti o luxo de ficar muito tempo lamentando não ter sido querido por quem não me quis.
É que não me parece prudente sofrer pela escolha alheia quando, no fim, nem quem escolhe sabe bem se o que tem é o que quis.
Só que noto que algumas pessoas levam muito a sério isso de não ser bem quisto e agem como se considerassem que a escolha do outro (por outro) é uma reprovação de quem são (ou se mostraram). Agem como se elas mesmas fossem culpadas por terem sido deixadas, não terem sido amadas. Mas que compromisso o outro tem – de verdade – com o que me desperta ou me faz desejar? Nenhum!
E não é verdade que somos responsáveis por aquilo que cativamos. Quanto mais “eternamente” (raposa mais mentirosa!). Cada um é senhor dos seus atos e vive conforme suas circunstâncias e, assim como nós temos as nossas vontades, o outro tem a sua. Querer manipulá-la (a vontade do outro) para que seja conforme as intenções que nos favoreçam é uma prova de falta de conhecimento do que é ser humano.
No final das contas, somos escolhidos menos pelo que somos do que por aquilo que o outro projeta que (lhe) seremos. Mesmo porque, a mim me parece que é raro que sejamos a primeira opção de qualquer um que nos conheça bem. Até podemos ser a opção imediata de quem gastou tempo demais para descobrir quem éramos (mas mesmo esse pode se frustrar se continuar achando que aquele que fomos é o mesmo “um” que continuaremos sendo).
Portanto, não há o que e nem o porquê de se sofrer. Tampouco há que se aprender a sofrer.
A vida segue cada qual com o protagonismo da sua própria vida e dos atos que a moldam (lhe moldam). Não há maiores responsabilidades ou traumas, mas apenas a certeza de que só deve brincar na gangorra da vida aquele que sabe que não se fica sempre no ponto mais alto, mas que às vezes é preciso descer, respirar e tomar o impulso necessário se quiser voltar a subir.
A verdade é que ninguém tem o dever de se sentir infalível, irresistível e completo para o que outro espera de si e pra si. Assim como esse outro não precisa se contentar com menos do que aquilo que se deseja ou fantasia. Ninguém será perfeito e, se for, deve-se mais é desconfiar. E o que é a vida se não o que está aí pra nos provar. Ou não é verdade que houve a vez que você quis e teve, mas nem por isso você sente vontade de voltar àquela história de lá?

Um comentário:

Unknown disse...

É, isto vale para qualquer tipo de relacionamento...