segunda-feira, 4 de abril de 2011

Contrariando minha contrariedade


O que é mais importante: o agora ou o depois?

O que vale mais a pena: gozar o agora ou planejar o amanhã?

Há anos que a formiga de La Fontaine vem ensinando a importância da previdência e o risco de esquecer que o inverno sempre sucede o verão (ainda que depois do outono).

Mas qual é o grande erro da cigarra? (porque a sua menção nunca é elogiosa). A cigarra se torna o sinônimo da inconsequência, do descaso, de tudo que não se deve ser, só porque resolveu se inspirar no sol para cantar pra lua.

Sim, sim. No fim da história a cigarra vai buscar ajuda da formiga e esta lhe recusa a boa mão amiga, dizendo-lhe que se antes cantara, que agora dançasse.

Mas e quando o amanhã não chega?

Qual o destino do previdente que de tanto que se preveniu, deixou de prever que se é destino de todos morrer, há pouco mais que nos reste além de viver? Aquele mesmo que tanto poupou, pouco arriscou e quando mal esperou... nada! De quem era, agora já não mais é e nunca mais será. Do que tinha, nada lhe valerá. Do que poupou, deixa aos outros – cigarras tantas talvez – levando consigo apenas a irresignação da luta que ninguém vence. Da derrota que a todos aproxima.

Não. Não faço uma elegia à imprevidência e ao descompromisso com um amanhã que sempre tem chance de chegar.

Pelo contrário. A cada novo dia temo mais o amanhã que se me apresenta.

Busco a mesma segurança que sei que tantos outros, como eu, jamais alcançarão.

Tudo o que espero é que a minha escolha seja sempre viver. E viver não é ser vivido pela vida. Não é temer errar ou recear estar errado. Viver é cair, mas achar razão em levantar. É errar, mas ser o primeiro a se perdoar e o último a repetir aquele erro.

Quero um futuro bom e é por ele que trabalho. É em nome dele que estudo. E mesmo em razão dele que poupo o quase nada que ainda não ganho.

Mas ainda não consigo acreditar que haja sacrifício hoje, que se compense no amanhã. E isso, porque ninguém sabe se o amanhã virá.

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