quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Encontros, desencontros, despedidas e reencontros...


“Algumas situações me levam a questionar sobre quem passou pela minha vida: ‘essas pessoas são descartáveis pra você ou você que era descartável para essas pessoas’”


Experimente lembrar-se de qualquer ocasião em que você esteve cercado por uma multidão, seja enquanto caminhava a pé pelas margens de uma avenida muito movimentada, seja quando dentro de um transporte público na hora de seu maior movimento.
Você já parou para pensar quantas pessoas passaram por você? Quantos rostos que não te diziam e nem disseram nada? Quantas não foram as mais diferentes histórias que essas pessoas traziam consigo e que você não soube? Quantas dores elas escondiam? Quantas alegrias queriam compartilhar, mas calavam? Quantos medos poderiam confessar, mas simplesmente, passaram. Passaram como quem sai por um caminho para nunca mais voltar.
Há muitas e muitas pessoas no mundo e você não saberá nada da maioria delas. Sua existência não afetará a tua e a tua qualquer importância terá para a delas.
Ao mesmo tempo, os acasos da vida ligaram a tua vida a vida daqueles que fazem parte dos teus dias. Seja porque se empregaram na mesma empresa ou porque estudaram na mesma sala ou na mesma instituição, cresceram na mesma rua, moravam no mesmo condomínio ou frequentaram o mesmo clube, o fato é que essas pessoas não passaram como rostos que se acumulam, mas somem. São pessoas que fazem parte de você. São pessoas que não se limitaram a passarem pelos teus dias, mas, sim, ocuparam parte considerável deles.
Mas onde estão elas?
Por qualquer dinâmica da vida, quem era alguém pra você ontem, hoje, de repente, já não é mais. E os que hoje são, talvez até pouco tempo sequer tivessem chegado a ser. E por vezes você nem nota que foi substituindo as pessoas que ocupavam diferentes papéis na tua vida.
É como se a roda da vida girasse a velocidade tal que fosse lançando pra longe os que não ficariam mais na órbita da vida tua, abrindo espaço para novas tentativas. Mas não. Várias e várias vezes a escolha foi tua. Consciente ou inconscientemente, é você quem as afasta de ti. E, no mais das vezes, tem ainda mais dificuldade de entender que assim como você tira as pessoas da tua vida, as pessoas tiram você da vida delas. E aí, sim, dói.
O ser humano tende a se creditar uma importância para além da que ele realmente tem. Sente um acréscimo de estima por si que muitas vezes se faz tão grande a ponto de começar a achar que a bem aventurança está para aqueles que lhe tem nos dias, não concebendo que assim como não lembra, pode muito bem não ser lembrado.
Mas a dificuldade está em entender como isso se dá. Como alguém que antes era tanto, de repente já não é, ao mesmo tempo em que você, que era tanto para alguém, hoje já representa menos que a fração mínima do nada para esse mesmo alguém?
Até que ponto somos realmente importantes para alguém? Faríamos falta se não existíssemos? Provavelmente, não. Somos a metade de a existência de alguém? Dificilmente.
De repente me pego imaginando que na vida não somos nada para o outro. E, se não somos, nós apenas estamos. Estamos fazendo parte de seus dias até que um dos dois desista ou enquanto for bom, conveniente, interessante...
Mas qual o verdadeiro significado desse estar? Somos, de fato, para o que houver de útil e, portanto, prontos a ser parte de uma história daquelas que, talvez, ninguém conte ou mesmo se recorde?
Se antes éramos a razão dos sonhos, dos suspiros, das ligações noturnas ou mesmo quem ouvia os lamentos e compartilhava as primeiras alegrias nas novas conquistas, de repente (ou nem tão de repente assim) passamos a ser só mais um daqueles tantos “rostos numa multidão”. Talvez o que nos diferencie dos vários “rostos dessa multidão” seja a lembrança do outro (esporádica) de que em determinado dia você também esteve presente naquela ocasião narrada anos depois onde, se antes você era personagem principal, agora, na lembrança narrada, não passa de mero coadjuvante.
No final das contas, somos apenas “mais um na multidão”. Descartáveis, sim. Ainda que o presente diga que não, o futuro pode vir e dizer que sim. E a prova disso é a nossa própria vida. Quantos amigos não recebem um telefona teu há anos? E isso não significa que não havia sinceridade nas relações de vocês. Mas vocês estavam, muito mais do que eram.
Quantos são aqueles de quem você sente falta, mas que não se ocupam de pelo menos lembrar de você? E daí você se pergunta: só ele (a) era importante pra mim? Eu não era importante pra ele? Sim. Você foi. E talvez um reencontro dos dois traga carinho, traga saudade, mas não traz o tempo que passou e nem diminui a distância que esse tempo percorreu, com o detalhe de que nem sempre é confortável confrontar e reviver o passado.
Mas uma certeza eu tenho: não há o que compense a mesquinhez. Longe de mim querer que alguém pense que o novo não vale a pena ou que, havendo o novo, deverá haver também a indiferença de quem sabe que não vingará para muito além.
Alguns encontros são, sim, para sempre. Depende só da sinceridade do sentimento e da verdade do que se quer para si; depende dos cuidados de um para com o outro; de não se pensarem como parte mais importante da amizade, da relação; nem se acharem mais fortes e o outro mais fraco. Não depende nunca de um, mas sempre dos dois, dos vários. Um abraço só é abraço quando os braços não se sentem vazios. E também a vida: trazemos os outros e vamos a eles porque os dias não se vivem se estiverem vazios de companhia, de carinho, de afeto e de amor.
Mas antes de trazer o novo (e é bom que se traga), não deixe de cuidar de quem já está, porque é bom, também, que vocês estejam.

2 comentários:

Lilian Crivelli disse...

Como sempre, mais um presente nos foi dado com este texto. Que Deus te iluamine cada dia mais.

Fabiola disse...

Dolorido, mas inevitável é entender que na dialética do afeto o que restam são as impressões que deixamos. Essas sim se eternizam !
Um abraço, Fabiola.