... e ninguém poderá dizer que
desistiu cedo demais.
Eu juro que consigo entender quem
se permite segundas chances. Até admiro. Penso que o otimismo joga. Ele faz
parte.
Por que não acreditar que as
pessoas podem mudar? Acreditar na mudança do outro é manter o otimismo em
relação a nós mesmos. Se ele muda, porque nós não mudaríamos?
Tentar outra vez é não se conformar
com o fim. O motivo pelo qual temos dificuldade de nos conformarmos com o fim é
a sensação de que o fim sugere fracasso. Logo, perseverar é buscar o sucesso
que a primeira tentativa nos negou. É rir-se do “destino”. Desafiá-lo.
E o interessante é que todo
recomeço parece auspicioso. Parece mesmo que tudo será melhor. Como nós somos
tomados pela tendência de nos atribuirmos até mesmo as culpas que não foram nossas,
acabamos nos propondo um pacto de que não cometeremos os mesmos erros, de que agiremos
com a tolerância que não tivemos e de que optaremos pelos momentos que outrora
recusamos. E, no início, cumprimos esse pacto. No início...
É quando, então, o recomeço, essa
nova tentativa, tudo parece ter sido a ideia mais acertada. Deixamos a esperança superar o orgulho e optarmos por
uma nova chance que, agora, se mostra tão acertada. O novo não poderia ser melhor do que a novidade de quem
já se conhecia. Antes era ruim e agora é melhor. Era tudo uma questão de maturidade
e paciência. Simples assim!
Só que a verdade é que a gente
nunca experimenta conforto maior do que o daquele instante em que podemos ser
nós mesmos enquanto ninguém nos vê. O momento em que nós somos só “a gente” e
que já nos basta. E esse conforto grita. Grita o grito sufocado pela máscara
que muitas vezes vestimos para cumprirmos o pacto de sermos quem não poderíamos
ser e, por isso, nunca fomos e nem seremos.
E daí, quem se irritava fácil, continuará
se irritando, e ainda que, no (re)começo tente explodir menos, uma hora explodirá.
O impaciente, o egoísta e o intolerante, também (re)começam fazendo concessões
que no outro momento não fariam, mas logo arrumam desculpas para que os programas
que não são seus preferidos não sejam os escolhidos para o sábado à noite. O ciumento
e o possessivo até prometerão mais calma e mais confiança, mas
logo recriminarão teus amigos, teus programas e teu serviço... porque é a
essência de quem são.
Nós só mudamos para nós e
nunca para o outro. É a mudança
que vem de dentro pra fora. A mudança que se faz de fora pra dentro é a mudança
pro outro e a mudança pro outro e essa mudança é sempre fugaz e se deve àquele preciso
instante da promessa em que vale tudo. Na hora em que se quer tentar o recomeço e lutar contra o fracasso que incomoda,
todas as promessas são verdadeiras. Mas promessas não passam de palavras. E palavras voam com o vento e vão pra longe
com o tempo.
Mas a gente insiste. A gente
precisa insistir já que “o fim” não é só da convivência, mas também é dos
sonhos, dos planos, dos projetos de um futuro bom que, de repente, já não era
mais aquilo que deixou de ser. E é então que insistimos e pagamos pra ver. Arriscamos
o nosso presente em nome do passado pensando que estamos (re)projetando o
futuro no momento de agora. E até pode ser que a segunda vez seja a que vai ser
melhor, mas se não for, pelo menos você tentou...
Um comentário:
Perfeito, infelizmente.
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