segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Quando o tempo conta errado

A nossa noção de tempo está diretamente ligada à separação que fazemos dele em anos, meses, dias, horas, minutos e segundos. E a partir disso, muitos de nós temos por hábito medirmos o valor das nossas histórias pelo tempo de sua duração, bem como, consideramos a intensidade de sentimentos dentro do que parece ser “temporalmente” razoável para parecer verdade, para “poder ser” verdade.
E daí, entendemos que o que é de verdade é o que dura, é aquilo que enfrenta a resistência desse tempo tão cruel, desse tempo que parece querer por à prova a vontade, a resistência mesmo, a intenção e a intensidade dos que estão juntos enquanto se querem.
Não por acaso, é comum as pessoas falarem que não deu certo o relacionamento que durou muitos anos e alcançou seu fim, ou mesmo, desmerecerem envolvimentos porque são recentes: “mas vocês mal se conhecem, não podem estar se gostando tanto”, “ficaram juntos sete anos, que pena que não deu certo”. Essa são frases comuns de se ouvir em certas situações.
Mas muitas vezes o tempo conta errado. O tempo conta errado na medida em que tudo se faz e se sente no instante em que acontece, e daí não importa se em três horas, três dias, três semanas, três anos que sejam, tudo parece uma coisa só, três horas são como três anos que a gente nem sentiu passar.
Chega-se a um ponto em que impressão que se tem é que tudo existe desde antes, desde sempre. Todo o envolvimento faz sentido desde quando sempre é. E parece que não foi quando começou, ao ponto de você mal conseguir dizer qual foi o começo. O que você sente é que simplesmente tem sido e que bom que tem sido.
Nesse ponto, o leitor ou a leitora mais cética (ou racional) poderia dizer: “é porque no começo tudo são flores, tudo fica mais fácil”. E se você pensa assim, eu te pergunto: quantas relações você começou e você terminou? Em quantas você até se sentia bem durante o momento de estar junto, mas não enxergava razão nem no antes e no depois. Em algumas? E quantas foram aquelas que simplesmente faziam sentido mesmo quando não era pra fazer?
Há um ponto na vida da gente que separa o que já tivemos daquilo que nós temos certeza que queremos ter. Experimentamos uma novidade, uma sensação, um êxtase que é diferente de todos os outros: parece mais puro, mais compromissado, mais tudo o que nenhum outro – por melhor que fosse – jamais foi. E quando é assim, é porque é diferente.
E não importa que seja só o começo se a nossa vontade é que não tenha fim. Se o nosso desejo é que todo dia seja o primeiro dia, todo ele acumulado de um sentimento que não se conta com o tempo, mas apesar do tempo. Porque o tempo conta errado, quando ele diz que é pouco pra um sentimento que é tanto.
E a gente sente. E a gente gosta. E a gente é feliz por todo tempo, seja o tempo que for (mas que seja como está sendo. E será...)

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