terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Nem bonito nem divino, mas profano: não há reza no que é feito pra gozar

Nós vivemos o mundo através do nosso corpo, experimentamos a vida através dos nossos cinco sentidos, no gosto, no toque, no cheiro, no que vê, no que se fala e no que se ouve. Nosso corpo é o meio da nossa vida e o instrumento das nossas experimentações. Nosso corpo é nosso, como é nosso tudo o que sentimos e experimentamos através do nosso corpo. Talvez por isso não consiga ser contra ao aborto, a que duas pessoas do mesmo sexo se gostem, etc., mas isso é assunto pra outro dia.
Estou aqui me referindo ao sexo. Há séculos a igreja tenta tratar o sexo como algo santo. Eu até entendo que na necessidade de controlar o ímpeto dos seus seguidores, ela precise fazer proibições. Proibindo tudo talvez seja mais provável que façam menos do que fariam se tudo fosse permitido. Acontece que o sexo não é santo, sexo não é divino e o bom sexo, muitas vezes, nem bonito é (muito embora uma cena em coreografia bem feita é gostosa de assistir).
Sexo é carne, é sangue, é fogo, instinto, é cheiro e objetivo. Sexo é prazer é gozo, é escândalo, é tempestade, é vendaval. Sexo é mais agora que depois, mais desejo que razão (ainda que nele, o desejo seja toda razão).
Não sei se o sexo foi um presente de Deus para os homens. Se foi, muito obrigado. Agora, se foi mesmo, ninguém – normal – ganha o presente pra deixar guardado na caixa. Sexo foi feito pra gozar (sim, sim, trocadilho). É aquela coisa que, bem-feita, a gente pensa: “como fiquei tanto tempo sem isso?”. E, porque é bom, é que tentam proibir. Mas esquecem que o que é proibido pode ser melhor ainda.
Acho que Freud diria que grande parte dos problemas das pessoas está associada a sua vida sexual insatisfatória. E faz sentido. A grande maioria de nós somos sujeitados, desde sempre, a uma vida de castração. A alguns é proibido, inclusive, a fantasia que leva a curiosidade de querer aprender o que é isso que todo mundo faz, todo mundo deseja, todo mundo almeja, mas a maioria manda calar. A pessoa que se permite uma vida sexual mais liberal, logo recebe adjetivos pouco ou nada elogiosos, só porque faz o que muitos têm vontade, mas não conseguem ter a menor coragem e só não se ressentem por isso, porque fazem de conta que não se importam (mas se ressentem e nem percebem que aquele mau-humor que não passa seria bem resolvido com... a vocês sabem o que).
Eu vi um vídeo de uma psicóloga-sexóloga-cristã que dizia que sempre que tinha um orgasmo, orava agradecendo a Deus. Ah vá! Tudo bem, cada um com a sua fé. Mas se é que Deus criou mesmo um Adão e uma Eva para que crescessem e multiplicassem e, nesse ato, pôs-lhes a propensão ao prazer e encheu-lhes o corpo de zonas erógenas, tudo bem agradecê-lo. Só que não é pra tanto, né? É misturar demais as coisas. Deixa que o que é do corpo, é do corpo, é da carne. Sexo não é divino. É a profanação do corpo alheio em busca – se tudo der certo – do prazer que será dos dois. E quando esse prazer é de verdade, dá inveja até em quem vê a gente chegar rindo numa segunda-feira de manhã. Ou é por um acaso que esse alguém logo pergunta: a noite foi boa, hein?
E sexo é isso. É feito pra ser bom. E só. Não é feito pra ser mais ou menos, nem pra ser de noite, nem pra ser dia. É pra ser. Com vontade, de preferência. E, muitas vezes, essa vontade, é só questão de começar...
Freud explica? Ô se explica...

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