Não consigo alugar filmes por
mero entretenimento. Tenho por hábito ficar muito tempo na locadora procurando “aquele”
filme que tenha o que me acrescentar. Até por isso, é raro que eu alugue filmes
com bombas, explosões, armas... muito embora haja aqueles dias em que é isso que você quer.
Pensar pouco e se sentir preso na ação que tira o fôlego. Mas esses dias são
raros. Prefiro mesmo filmes que me provoquem e me façam pensar; filmes que me
insiram na realidade dos personagens ou que me façam colocá-los na minha.
Foi exatamente isso que vi nesse
filme tão forte: “A Arte da Conquista”, filme independente, indicado ao Grande Júri do Festival de Sundance. Com um ótimo elenco e com uma direção de fotografia que mesclava o ágil, o discreto e sútil que, muitas vezes, lembrava a de um
documentário acompanhando a vida de um jovem rapaz (George), artisticamente inquieto e provocativo que, no último ano da “high
school” acredita que, pelo do fato de que inevitavelmente todos vamos morrer, tudo o
mais na vida se torna irrelevante. Por essa razão não tem amigos, não faz tarefas, não interage socialmente.
Ele mesmo se auto define “misantropo”.
Até que ele conhece a menina –
interpreta pela linda Emma Roberts, sobrinha da “linda mulher” Julia – que
balança seu universo. Ela o faz querer ser diferente. Faz com que ele saia da
sua armadura e socialize com seus amigos, colegas de sala que sempre o viam e não
o entendiam e que passam a gostar dele. O mundo dele ganha um novo significado,
mas ele não consegue se sentir habituado aquilo. O mundo dela – que ele tanto
quer que seja dele – é estranho pra ele. É como se ele não pertencesse àquele
lugar. E ele se cala. Todos vêm o seu interesse, mas ele nega. Todos sabem o
que ele quer, mas ele evita.
A história corre, ele perde a
moça, sofre, chora, para. Literalmente para. Uma única música no “repete” do
som por dias. Não há aulas, não há rua, mas apenas o espaço limitado de um
quarto representando um mundo que se faz pequeno e opressor agora que perdeu
seu sentido e sua graça. Até que acontecimentos e desafios exigem que ele siga
a diante. Só depende dele. E tudo volta a andar.
O que chama a atenção no filme é
o diálogo carregado de significados. É daqueles filmes que me lembram muito a
sensação que tinha durante as duas primeiras temporadas de “Dawson’s Creek”.
Diálogos elaboradíssimos que eu adoraria ter tido com as pessoas que tinham
17/18 anos quando eu também tinha, mas que, no mundo real, a gente mal consegue
ter aos 28, o que dirá aos 18. Mas havia provocação em tudo. A provocação que,
na verdade, é a cada um de nós espectadores.
Entendo que não é um filme fácil
de se gostar, mas tenho certeza de que é impossível ser indiferente à sua
proposta. Se de um lado é fato que, como dito na primeira cena, “vivemos e
morremos sozinhos, o resto é ilusão”, por outro lado, também é fato que vivemos
de modo que nesse percurso, sejamos mais do que a solidão de nós mesmos e é por
isso que sentimos dor, é por isso que ficamos triste, que choramos e que
procuramos desesperadamente o que justifique o sorriso.
Por mais que a vida pareça parar,
essa é só a realidade de agora e, se o filme ensina algo – e eu digo, assistam!
– é que a vida não acaba enquanto se está vivo e, se ela não vai acabar agora,
vale a pena sair do quarto, da casa, da prisão de si mesmo, e ir viver.
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