Há mudanças que parecem lentas.
Elas fazem a vida parecer mais lenta, talvez culpa do mundo em que tudo parece
correr cada vez mais rápido. Há certa insanidade na vida vivida num ritmo
qualquer. Não há ritmo exato. Há momento, há escolhas, atitudes, respostas e
silêncios que são respostas. Em que nos pautamos? Em quem nos pautamos? Pelo
que nos pautamos? Por que nos pautamos? Ao longo das nossas escolhas, esperamos
a coincidência de propósitos.
Sim. Alguém que provavelmente era
mais esperto do que eu e você, nos vocacionou para uma vida que parece não
poder ser sozinha. Somos para quem sejamos. Não eu para mim, mas eu para outra
em quem, tenho que crer, se lhe despertará o mesmo sentimento que houver em
mim.
E daí tenho me feito espectador. De
mim e de outros. Não que isso seja bom. Talvez seja a atitude mais errada.
Quando você assiste, você pouco faz. Quando você pouco faz, você pouco vive. Mas vejo que tem muitas vidas que parecem andar juntas por aí. Cada uma é carregada de uma
história que fez com que dois que tinham tudo para serem estranhos num mundo
tão cheio de gente, descobrissem-se em meio a essa multidão e se fizessem
diferentes de todos os semelhantes.
É. Confesso que fico mesmo imaginando a
história que une dois em sua história...
Nessas horas me sinto quase um
derrotado. O fim de quase todas as minhas histórias me esvazia e as faz parecer terem sido vazias de tudo. Talvez por isso
tenha começado a escrever. Quando escrevo, coloco o fim que quero, invento o
motivo que me interessa e cada palavra dita é a verdade de cada um que disse e
ouviu. Porque, enquanto cada história que foi minha, depois de passada, parecia
nunca ter sido mais do que nada, cada história que é minha, porque eu criei,
fiz e terminei, continuava ecoando pelo tempo do meu tempo. Daí a fantasia e a ideia de fantasiar (muitas vezes o pouco ou nada provável)...
Mas voltemos aos encontros.
Há quem saia à noite para ser e
ser visto; tentar, ser tentado e conseguir. Conhecem-se numa noite de festa,
riem-se um ao outro, olham-se, sentem uma afinidade que cresce (talvez
incentivada pela bebida que corre), até que o instante os aproxima, o momento
convida e o beijo acontece.
Dali trocam telefones, mensagens,
se gostam, fazem bem e mantém o bem querer que, dia após dia, todo dia e cada
dia faz com que os anos se somem enquanto são seus e de mais ninguém.
Outros se conhecem na escola, na
faculdade, no cursinho, no trabalho. Conversam, marcam de se ver. Ainda não se
conhecem, mas já se imaginam. Não sabem muito de si, mas pelo menos se dispõe a aprender. Ousam.
Tentam. Vivem a vida que não para de viver. E se deixam surpreender. Não
esperam mais do que devem esperar, ainda que esperem o que pareça preciso.
E há aqueles que simplesmente
esperam. Esperam porque cansaram de escolher ou cansaram de ser escolhidos por
quem não escolheram. Esperam porque olham à sua volta e ninguém que veem lhes
completa. Esperam porque cansaram. Simplesmente cansaram. Cansaram do percurso
tão conhecido e já não sentem nem o direito de esperar que lhes surpreenda. E
quase desistem.
São esses que esperam que a vida
faça por eles o que eles não souberam fazer.
São esses que esperam que,
distraídos e cuidando de si – depois de tanta angústia, tanta dor, tanta falta
de risada por sonhos desfeitos, qual quimeras mal ajambradas cujo alicerce foi
feito em nuvens – de repente sintam a paixão, o amor ou como quiserem chamar,
lhes atingindo a cabeça como o raio que traz o novo (ou uma pedrada que vem sabe-se lá de onde). Para esses, quem já está não interessa, e talvez isso seja mesquinho, soberbo, por vezes pretensioso, mas eles não gostam do mundo que têm e querem
o direito de gozar novo mundo.
Talvez seja seu momento de irem embora.
Talvez o outro mundo não esteja na mudança que vem de dentro pra fora, mas sim –
como sempre pareceu inevitável – de fora pra dentro. Mas isso não é fugir? Não
sabem... antes sabiam tudo, agora não sabem nada. Mas pedem. Não se conformam com
quem inventou que um só não basta para si consigo. E querem. Mas já não conseguem
tentar. Então esperam...
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