quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O que é o beijo?

Namorados que se querem, beijam. Ficantes que se têm, beijam. Carentes que se encontram, beijam e amantes que se desejam, beijam-se.
O instante do beijo (do novo, do velho, do que não se sabe e do que se conhece) é o particular-universal de todos nós.  A hora em que o encontro dos lábios se mostra o caminho mais natural dos dois que se põe diante um do outro, é o instante da justificação da existência e de tudo para o que fomos feitos.
O beijo não precisa ser de amor para carregar todo o amor que guardamos, mas que foi feito para ser vivido e não calado.
Pus-me a procurar como outros antes de mim se referiram ao beijo. Gostei do que disse Drummond quando escreve que “o amor é grande e cabe no breve espaço de beijar” e gostai também, ainda sem conseguir definir a autoria, quando alguém disse que “O Beijo é um delicioso truque que a natureza criou para interromper a fala quando as palavras tornam-se supérfluas”. E é bem isso. O beijo é o silêncio das palavras quando chega a hora de todo o corpo falar.
Se ninguém é feliz sozinho, tenho que o beijo é o corpo falando, o corpo pedindo, o corpo revelando a ausência da outra metade que se lhe completa ou que por ele se completará. Não por um acaso, Jean Rostand, “um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido”. Mas diz o que? O desejo e o apelo pelo toque que faça o desejo, do desejo que seja paixão e pela paixão que, eventualmente, se faça amor.
O beijo é o início, o começo, é o durante que traz, a toda uma vida, o sentido exato ainda que achado nos lábios de outro.
No beijo não se pede o outro, mas dá-se a esse outro. A energia que nos sobra não é nossa, mas para o outro e é a desse outro que é a nossa. Cheios do que somos apenas de nós mesmos, ficamos doentes como que num tipo de excesso que cobra um colapso de quem não se divide. No excesso que se guarda, se morre. Mas quando descobrimos o poder de se dividir, de ser do outro, de encontrar esse outro e se encontrar NESSE outro, aí fazemos vida, vivemos vida e não corremos risco nenhum se exagerarmos na dose.

Mais amor (e mais beijo), por favor. 

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