segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ser um vencedor

Esse Blog sonha com o dia em que aprenderá a fazer textos menos longos e que enfadonhem menos seus leitores - a quem desde já agradece as visitas - mas esse foi o contrário. É um texto longo cheio de reflexões sobre a vida e que pede vênia para que, uma vez publicado, seja lido por todos vocês. Grato.




SER UM VENCEDOR



Quero crer que já houve quem, assim como eu, usou (e ainda usa!) considerar o anseio por vencer na vida como uma vileza tirânica que pode se não cuidada, nos tornar como escravos de nós mesmos.
Sempre há aqueles que querem fazer crer que a vida é uma recorrente luta pela sobrevivência e que nós estamos condenados a viver uma realidade darwiniana onde ao menor sinal de desatenção, alguém mais forte, maior ou mais esperto – isso pra não dizer quando surge alguém que some as três qualidades – passa por cima de nossas cabeças sem que tenhamos sequer entendido o que nos atingiu.
Prova disso são as seções das livrarias com suas prateleiras cada vez mais recheadas dos livros chamados de “auto-ajuda”, cada qual com a sua própria receita de como alcançar o sucesso profissional, ou como conquistar o verdadeiro amor ou conviver com aquele chefe chato em apenas 10 passos.
A canção que falava da pureza da resposta das crianças sobre o que era a vida (bonita, bonita, bonita), também canta que somos nós que fazemos essa vida como der, ou puder e quiser.
Entretanto, nasce o novo dia e a cada dia novo o que se vê são pessoas buscando receitas nas quais pautarão suas vidas como se fossemos todos um só; como se individualidade tivesse sido simples teoria estudada e rechaçada por uma realidade muito mais concreta de que somos todos frutos de uma mesma árvore, água de uma mesma fonte e como tal, em nossos dias não há que se falar em diferenças.
E o mais assustador é que as idéias que insistem em persistir são aquelas que parecem transformar as relações interpessoais num fole de sanfona que a cada batida da música se fecha e se abre: ao mesmo tempo em que une o indivíduo numa única modalidade social, passa a incentivar um comportamento pró-ativo de sua parte onde – utilizando de meios que se se justificarão tão-somente concluída sua jornada na Terra – não se preocupa com o próximo (e a maioria se diz cristão), não enxergando no semelhante um irmão a abraçar, mas a todos olhos, um obstáculo a ser vencido.
E mais uma vez surge a idéia de vencer.
Quem estabeleceu que a vida tem que ser vivida como uma eterna competição? Como se estivéssemos todos numa arena onde gladiadores se digladiam e os vencedores, longe de colherem seus louros, ainda enfrentarão leões famintos e outros gladiadores descansados, que a cada nova luta surgem para lhes digladiar?
E se já é incrível acreditar que alguém definiu esse conceito de vida, mais incrível ainda, é pensar que outro alguém aceitou viver nesse “life-style” (é que dizem que o estilo de lá é melhor que o de cá).
A meu ver esse individualismo que acaba por definir nossos últimos dias é causa e conseqüência de tudo o que se fez e daquilo que ainda se fará. É custoso admitir que caminhamos em direção de um destino que se estampa negro; onde esse negro esconde a estampa que poderia ter coberto esse mesmo destino com toda uma sorte de cores mais alegres, vívidas, loquazes e felizes.
Proporia em outros tempos que fizéssemos um exercício de imaginarmos um mundo sem esse individualismo, sem essa cobrança por vitórias, essa cobrança onde um homem tem que ser sempre melhor que o outro, um mundo como sonharam vários sonhadores, um mundo onde os homens criados como iguais sejam tratados como iguais e vivam como iguais; onde se sentam à mesa uns com os outros, vivendo todos como um só. Convivendo não como quem busca a vantagem que poderá ser aferida desse contato, mas com a convicção que maior vantagem não há que vivermos todos uns pelos outros e nunca querendo sobrepujar nosso ideal ante o diferente.
Onde as diferenças naturais sejam encaradas não como defeitos ou falta de qualidades capazes de separar os homens, mas como a beleza de um mundo onde cada qual carrega sua própria beleza e que essa beleza é que faz de cada um de nós a mais bela obra de arte desse museu que se chama vida.
A vida foi feita para ser vivida de uma maneira leve. A vida não foi feita para que um seja melhor do que o outro, criando assim um vício onde sempre haverá alguém melhor do que alguém; onde o alvo será o próximo degrau após o último degrau.
Por que não se dar mais espaço pro amor? A que espaço fica relegado o amor na vida de nós seres humanos?
Quantas famílias sem familiares ou quantos lares sem seus pares, porque saíram todos para vencer?
Quantas crianças sem pai ou quantas esposas sem um marido, porque o mundo lhe exigiu um sacrifício de não assistir ao filho crescendo ou não amar a esposa a hora que amanhece ou já no anoitecer, tudo porque na vida se tem que vencer.
Onde é que está essa vitória? Quem já a conquistou nesse mundo? Ou seria a vitória o “conquistar o mundo”? Qual o preço a se pagar e quem é que paga esse preço?
Quantas e mais quantas são as pessoas que somente diante do inevitável é que, de uma hora pra outra, passam a realmente prestar atenção na sua vida, para só então perceberem que estão correndo em busca de sabe-se lá o que.
Quantos não são os que saem para vencer, mas não sabem o que é essa vitória. E então é que saindo pelos corredores de suas casas numa dessas noites em que a necessidade de conquistar vitórias leva embora pra bem longe o sono tão desejado, pegam-se passando pela porta entreaberta do quarto do filho e lá o vêem dormindo seu sono tranqüilo e dessa visão eis que surge a sensação imediata de que esse filho tem que ser protegido desse mundo injusto e que parece tão mal.
Esse mesmo que filho que nesse momento dorme descoberto e para o qual, primeiramente, o pai esticando seus braços lhe estende a coberta que o protegerá do frio e que com um afagar nos cabelos e um beijo na testa, incapazes de despertar aquele sono profundo, o pai volta a entender que se há algo na vida a se atribuir valor, não haverá nada maior do que a vitória que vence todo dia que se vive com amor.
O verdadeiro vitorioso não é o sobrevivente dessa ilha de pedra toda ela repleta de mistérios, onde uns em cima dos outros traçam estratégias para o alcançarem o primeiro lugar nos seus escritórios ou um mero reconhecimento do chefe do seu setor, para depois disso ir atrás de mais uma vitória ao custo do que custar. O verdadeiro vitorioso é aquele que consegue entender qual o valor – para si – de cada vitória sua.
Que o beijo da pessoa amada a espera do seu retorno num dia cansativo ou pela manhã, feliz pelo simples fato de ter acordado ao seu lado, é uma vitória; que o abraço e o sorriso do filho quando te vê chegar ao fim do dia, é uma vitória; que viver de bem com o mundo, de bem com a vida e de bem com todo mundo, é uma grande vitória.
Que não é preciso ser rico, poderoso e famoso para ser feliz; que não precisa provar de todos os homens para as que preferem os homens e nem de todas as mulheres para os que delas fazem gosto, para se sentir realizado e para gozar a vida; que não é preciso primeiro conquistar o mundo para depois ser aceito pelos seus, que então estarão te aceitando pelo que você se tornou após vender a si mesmo e não por aquilo que você sempre poderia ter sido.
O importante é você se permitir rir, é você dançar, brincar, cantar e ser, acima de tudo, muito feliz. Mesmo porque no fim das contas o que vai realmente importar não é o que vão pensar de você, mas o que você mesmo vai pensar sobre si.
A maior vitória e a maior conquista que se pode ter é ser e fazer feliz.

Um comentário:

Diana disse...

Inspiradíssimo hein!!!!!