Ela era – não, ela é – das moças
mais bonitas que eu já vi. Se eu a descrevesse, aqui, como a vejo, você provavelmente
pensaria estar diante de um anjo ou da arte definitiva do artista mais valioso.
E provavelmente você estaria certo.
Não bastasse, ela é sagaz. Pensa
rápido de um jeito que te desmonta. Parece que sempre sabe o que dizer. Tem o
comentário que vai te fazer rir, mas por vezes vai te fazer pensar. E depois
que ela parte, uma parte dela ainda fica com você. É mais forte. Não que você
queira pensar nela. Você vai pensar por bastante tempo até perceber.
Ela é nova e namora alguém da sua
idade. Só que isso, por si só, já a faz maior que ele. Apesar de o conhecê-lo só
pelos olhos dela, não é difícil entender que o homem jovem é muito mais jovem
que a mulher jovem da sua idade. E imagino quão difícil deve(ria) ser, para
ele, compensar o fato de não à altura dela. Ainda que talvez ele não tenha consciência
de que ela é a sorte dele.
Ao olhar os dois e saber um pouco
deles (mas também por saber de mim), pus-me a pensar que a maioria dos homens
não entende que a sorte deles está em serem das mulheres de quem são. E não me
venham com o argumento de que “ninguém é de ninguém”. Pra mim, isso é coisa de
gente covarde, receosa de chorar a expectativa frustrada por ter querido bem
quem não sabia direito o que fazer com isso. Gente que tem medo da dor, como se
a vida fosse só para ser feliz.
Também não me censurem por falar
de homem e mulher. Sintam-se livres para conformarem o texto àquilo que é
conforme o que gostam, o que vivem, o que conhecem. Permitam-me que escreva o
que me concerne e sobre o que sei. Leiam do modo que lhes concerne e como
sabem.
Pois bem. Via de regra o homem
não entende a sorte que tem. Eu mesmo, durante meus poucos relacionamentos e
minhas muitas relações, peguei-me distraído da sorte que tive em ter mulheres
que, de início, quiseram-me bem. Nem sempre soube lidar com isso. Não raro,
apresentei-lhes um reconhecimento tardio seguido de um pedido de desculpa pela
minha própria idiotice.
Porque a autoestima é ao mesmo
tempo problema e solução. Quando alguém gosta da gente e ajuda a gente, a gente
tende a viver um acréscimo de autoestima e começa a se achar mais interessante
do que éramos antes daquela relação. E “sem noção” – o que quase sempre somosr
(especialmente ou particularmente os homens) – achamos que ser interessante tem
a ver com a gente, que somos naturalmente assim. “Errooou!” É a mulher que está
com a gente que faz a gente ser melhor.
Por nossa vez, tantas e tantas
vezes nos mostramos incapazes de reconhecer que fomos parte pequena da equação
(da vida) em que elas nos foram a nossa “prova real”.
Mas continuemos a falar desses
homens “sem noção” do porquê serem quem estão. Ninguém duvida que a mulher amadurece
mais rápido. Talvez seja um erro que nos primeiros anos da vida adulta os namorados
tenham a mesma idade (mas respeito e reconheço as exceções). A mulher parte logo e se desenvolve e cresce enquanto o
homem fica. O problema é ela gostar muito dele. Gostar muito e ser altruísta e
voltar os olhos para o homem que ainda não entende o que é ser adulto, o que é
ter liberdade, o que é ter a oportunidade de conquistar. E como ela gosta muito
– e como ela o quer junto –, ela procurará fazer por onde o ajudar a crescer.
Mas, crescendo, o homem quererá viver
o que falta, enganado pela sensação de que, em algum momento, haverá a satisfação
de que nada mais falta. E daí ele se perde, se distrai, a chateia e perde o que
de melhor tinha para desfrutar. A sua companhia. A companhia dela.
E cada vez que o homem se torna
patético, libertino porque cresce só em dias, a mulher perder a sua admiração. E
não há paixão, não há amor, não há relação (saudável) sem admiração.
É claro que tudo depende do valor
que nos damos. Oxalá todos nos conhecêssemos ao ponto de não demandar mais do
que oferecemos e nem de aceitar menos do que merecemos. Mas não aceitar também
não significa impor que nos deem o valor que acreditamos. Em relacionamento não
se impõe valor. A gente até decide qual é o nosso e observa se a pessoa está
conforme a gente vale. Se a gente tem certeza de que oferecemos o nosso melhor (e
sejamos justos), mas ela não se der conta disso, algo será natural: pouco a pouco
gostaremos menos e, enfim, partiremos.
O outro ou a outra, distraídos no
seu egoísmo de namorarem mais a si e aos seus sonhos, talvez, então, se surpreenderão.
É aquela hora que alguém diz: “mas estava tudo bem e ‘do nada’ ele(a) resolveu
terminar”. Nunca é do nada que a admiração deixa de existir.
Agora é claro que não é porque a outra
pessoa não reconhece o nosso valor que a gente vai desistir de gostar de alguém
(talvez até dela). Até porque o coração não é nenhum gênio. Daí que acho que o
primeiro motivo para gostar de alguém é porque “gostar é bom”. Eu mesmo gosto
muito mais de mim quando estou gostando de alguém. Mas também é importante que
a pessoa faça por onde a gente continuar gostando e não faça por onde a gente
desgostar.
Além disso, talvez seja bom que a
pessoa tenha algum receio de perder a gente. Não porque a gente fique fazendo jogo,
fazendo cena, ameaçando partir. Isso é ridículo. Mas porque a nossa presença na
vida dela será tão importante que ela vai olhar pra gente e pensar: “ela não
está comigo porque sou bom; eu é que sou bom porque estou com ela”, e daí não
vai querer perder essa sensação por nada e ninguém no mundo.
Mas se ela não entende... tchau! Tem
muito mais gente disposta a ser e fazer feliz e que só precisa de uma
oportunidade.
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