quinta-feira, 18 de julho de 2019

A equação do afeto (ou a consciência do amor desequilibrado)


Ela era – não, ela é – das moças mais bonitas que eu já vi. Se eu a descrevesse, aqui, como a vejo, você provavelmente pensaria estar diante de um anjo ou da arte definitiva do artista mais valioso. E provavelmente você estaria certo.
Não bastasse, ela é sagaz. Pensa rápido de um jeito que te desmonta. Parece que sempre sabe o que dizer. Tem o comentário que vai te fazer rir, mas por vezes vai te fazer pensar. E depois que ela parte, uma parte dela ainda fica com você. É mais forte. Não que você queira pensar nela. Você vai pensar por bastante tempo até perceber.
Ela é nova e namora alguém da sua idade. Só que isso, por si só, já a faz maior que ele. Apesar de o conhecê-lo só pelos olhos dela, não é difícil entender que o homem jovem é muito mais jovem que a mulher jovem da sua idade. E imagino quão difícil deve(ria) ser, para ele, compensar o fato de não à altura dela. Ainda que talvez ele não tenha consciência de que ela é a sorte dele.
Ao olhar os dois e saber um pouco deles (mas também por saber de mim), pus-me a pensar que a maioria dos homens não entende que a sorte deles está em serem das mulheres de quem são. E não me venham com o argumento de que “ninguém é de ninguém”. Pra mim, isso é coisa de gente covarde, receosa de chorar a expectativa frustrada por ter querido bem quem não sabia direito o que fazer com isso. Gente que tem medo da dor, como se a vida fosse só para ser feliz.
Também não me censurem por falar de homem e mulher. Sintam-se livres para conformarem o texto àquilo que é conforme o que gostam, o que vivem, o que conhecem. Permitam-me que escreva o que me concerne e sobre o que sei. Leiam do modo que lhes concerne e como sabem.
Pois bem. Via de regra o homem não entende a sorte que tem. Eu mesmo, durante meus poucos relacionamentos e minhas muitas relações, peguei-me distraído da sorte que tive em ter mulheres que, de início, quiseram-me bem. Nem sempre soube lidar com isso. Não raro, apresentei-lhes um reconhecimento tardio seguido de um pedido de desculpa pela minha própria idiotice.
Porque a autoestima é ao mesmo tempo problema e solução. Quando alguém gosta da gente e ajuda a gente, a gente tende a viver um acréscimo de autoestima e começa a se achar mais interessante do que éramos antes daquela relação. E “sem noção” – o que quase sempre somosr (especialmente ou particularmente os homens) – achamos que ser interessante tem a ver com a gente, que somos naturalmente assim. “Errooou!” É a mulher que está com a gente que faz a gente ser melhor.
Por nossa vez, tantas e tantas vezes nos mostramos incapazes de reconhecer que fomos parte pequena da equação (da vida) em que elas nos foram a nossa “prova real”.
Mas continuemos a falar desses homens “sem noção” do porquê serem quem estão. Ninguém duvida que a mulher amadurece mais rápido. Talvez seja um erro que nos primeiros anos da vida adulta os namorados tenham a mesma idade (mas respeito e reconheço as exceções). A mulher parte logo e se desenvolve e cresce enquanto o homem fica. O problema é ela gostar muito dele. Gostar muito e ser altruísta e voltar os olhos para o homem que ainda não entende o que é ser adulto, o que é ter liberdade, o que é ter a oportunidade de conquistar. E como ela gosta muito – e como ela o quer junto –, ela procurará fazer por onde o ajudar a crescer.
Mas, crescendo, o homem quererá viver o que falta, enganado pela sensação de que, em algum momento, haverá a satisfação de que nada mais falta. E daí ele se perde, se distrai, a chateia e perde o que de melhor tinha para desfrutar. A sua companhia. A companhia dela.
E cada vez que o homem se torna patético, libertino porque cresce só em dias, a mulher perder a sua admiração. E não há paixão, não há amor, não há relação (saudável) sem admiração.
É claro que tudo depende do valor que nos damos. Oxalá todos nos conhecêssemos ao ponto de não demandar mais do que oferecemos e nem de aceitar menos do que merecemos. Mas não aceitar também não significa impor que nos deem o valor que acreditamos. Em relacionamento não se impõe valor. A gente até decide qual é o nosso e observa se a pessoa está conforme a gente vale. Se a gente tem certeza de que oferecemos o nosso melhor (e sejamos justos), mas ela não se der conta disso, algo será natural: pouco a pouco gostaremos menos e, enfim, partiremos.
O outro ou a outra, distraídos no seu egoísmo de namorarem mais a si e aos seus sonhos, talvez, então, se surpreenderão. É aquela hora que alguém diz: “mas estava tudo bem e ‘do nada’ ele(a) resolveu terminar”. Nunca é do nada que a admiração deixa de existir.
Agora é claro que não é porque a outra pessoa não reconhece o nosso valor que a gente vai desistir de gostar de alguém (talvez até dela). Até porque o coração não é nenhum gênio. Daí que acho que o primeiro motivo para gostar de alguém é porque “gostar é bom”. Eu mesmo gosto muito mais de mim quando estou gostando de alguém. Mas também é importante que a pessoa faça por onde a gente continuar gostando e não faça por onde a gente desgostar.
Além disso, talvez seja bom que a pessoa tenha algum receio de perder a gente. Não porque a gente fique fazendo jogo, fazendo cena, ameaçando partir. Isso é ridículo. Mas porque a nossa presença na vida dela será tão importante que ela vai olhar pra gente e pensar: “ela não está comigo porque sou bom; eu é que sou bom porque estou com ela”, e daí não vai querer perder essa sensação por nada e ninguém no mundo.
Mas se ela não entende... tchau! Tem muito mais gente disposta a ser e fazer feliz e que só precisa de uma oportunidade.

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