Quanto temos real dimensão da
sorte que já demos?
Você tem alguém que se preocupa
com você? Amigos com quem você sabe que pode contar? Aquela pessoa para quem
você liga na hora da tristeza ou para quem você liga na hora da dor (se bem
que, infelizmente, hoje me dia ninguém liga pra ninguém. O mais próximo que a
gente chega de ouvir uma voz é um áudio no whatsapp). Mas você consegue ter a
consciência de que mesmo que viva só, não está sozinho?
Se sim, então você tem sorte.
Empoderem-se quanto quiserem,
preguem que não precisam de ninguém, façam-se reclusos e defendam que a vida é
vir e ir só, mas o fato é que uma boa companhia faz toda diferença. E não se
trata de não estar bem quando só consigo mesmo. É mais aquela coisa de ter quem
nos concerne, quem nos interessa, quem cuja alegria e a conquista também nos
alegre e cuja tristeza nos afeta e nos indigna e, quando não, nos comove no sentido
de tirar satisfação em quem teve coração de não cuidar de quem cuidamos. E
saber que essa pessoa faria o mesmo por nós.
Saber, sim. Não só imaginar. Em alguns
casos acabamos esperando de outros mais do que eles estão dispostos a oferecer.
Mas arrisco dizer que há – e nós sabemos quem são – aqueles que estenderiam a
mão, ofereceriam sua força, se ocupariam das nossas questões e tudo isso desde
antes de nós já termos feito algo por eles. E que recíproca gostosa quando isso
há.
Acho importante aprendermos a
gostar de gostar. Parar com essa bobeira de que gostar é coisa de gente fraca
ou o primeiro passo para se lascar. Parar com essa covardia de achar que
primeiro tem que “ser gostado” e só depois se permitir gostar.
E por isso é que acho que já é hora
de darmos mais chances para os beijos, para os abraços, para os apertos de mãos
estendidas à amizade que, pode sim, ser de verdade. É hora de nos abrirmos
mais, nos contermos menos e aceitar que a vida é isso que acontece a gente fazendo
ou não, se permitindo ou não, ousando ou não. E ela vai passar. E que passando
junto com quem nos faça rir, tente nos entender, se ocupe de saber o que nos
falta e até tenta dar o que talvez complete (e não tem problema termos vazios que
não são preenchíveis por nós mesmos), a vida será melhor.
Assim como não tem problema procurar
“do nada” aquela pessoa que te foi amiga numa hora específica, mas que a vida –
vivendo – por algum motivo afastou. Talvez ela estranhe que você surja. Talvez até
ache que você vai querer um favor. Até porque o jeito que se tem vivido leva a
que duvidamos do afeto e da gratidão gratuitos. As pessoas ficam sempre achando
que há alguma outra intenção. Mas por que não confrontarmos essa forma de visão?
Por que não sermos os primeiros de uma corrente que cresce e multiplica a
possibilidade de ter afeto por outras gentes?
Vamos parar com isso de “sem
tempo”, de “preguiça de gente” ou de “antes só”. Sejamos os bons amigos. Reconheçamos
nossos bons amigos. Peguemos o telefone, mandemos a mensagem de “OI”, de “OBRIGADO”,
de “QUALQUER COISA ESTOU AQUI” ou de “SINTO SUA FALTA”. Alimentemos o ego de
alguém. Ajudemos a que quem foi relevante não ache que não fez diferença a
ninguém.
Tem muita gente sozinha porque têm
medo de não quererem sua companhia. E isso é cruel...
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