terça-feira, 16 de julho de 2019

Autoconfrontação: precisamos gostar da gente antes de querermos que gostem de nós


Somos vítimas do nosso tempo ou agentes da nossa dor? Estamos sabendo onde procurar nossa paz e nossa autoestima? Cuidamos do outro como cuidamos de nós? De onde vem a nossa paz e a nossa autoestima? E a do outro? O que faz com que estejamos bem? O que faz com que queiramos fazer o bem?
Tenho me sentido preocupado e com a impressão de que vivemos cada vez mais a tendência de querermos encontrar “pertencimentos à distância”. Por alguma razão parece que nos sentimos como se dissociados do mundo imediatamente à nossa volta e passamos a usar da internet como se o telescópio que, nos dando a visão das gentes mais distantes, nos ajuda na busca de quem se pareça conosco e mostre, então, que não estamos sozinhos na nossa forma de ser.
Mas por que precisarmos disso?
A vida em uma sociedade pasteurizada sob matizes estabelecidas pelo gênio de não se sabe quem parece nos constranger contra a ideia de sermos únicos ao nosso modo. E não importa que talvez ninguém seja único e que mesmo as nossas idiossincrasias se reconheçam vivas na personalidade de outrem: temos o direito de sermos únicos e de não precisarmos da confirmação de ninguém.
É necessário que fortaleçamos nosso caráter e nos permitamos o privilégio de sermos o que quisermos, pautados pelos valores que tivermos e opostos a tudo quanto não se comunique com quem somos. Não precisamos nos adaptar a cartilhas ou nos ajustarmos a formas de ser quem não somos nós. O tempo precisa ser o do grito da liberdade da escolha de ser um.
Será ótimo que não precisemos nos preocupar se nos aprovarão. Quem “não é eu” não precisa gostar do que gosto, assim como, “eu sendo eu”, só preciso me bastar naquilo que me agrada e que não é ilegal e nem é imoral. Que belo seria o mundo em que as pessoas se completassem nas suas diferenças ao invés de se incharem nas suas semelhanças. Haveria menos pessoas dependendo de “likes” e “biscoitos” para se sentirem felizes e relevantes porque aprovadas desde fora de si.
É perigoso nos confortarmos com o aplauso alheio e pautarmos nossa ideia de importância no número de vozes que louvam nossa forma de ser. Porque se eu espero a satisfação da acolhida e valorizo demais a aprovação que venha da reação positiva de quem gosta de mim, correrei o risco de supervalorizar eventuais desaprovações e maldades e reações negativas de pessoas vis e vazias que não estão nem aí para mim, mas que se sentem estranhamente confortáveis em destratarem quem quer que, diferente delas, não tenha problema em gostar de ser quem é.
Que bom seria se todo o mundo entendesse que a melhor aprovação é a que vem de dentro, a que vem da gente. A sensação de se conhecer, saber quais são as fraquezas e trabalhá-las; quais são as virtudes e desenvolvê-las; quais são os sonhos e as metas e ir buscá-los. Que importe pouco ou nada se são mais os que discordam e desanimam do que os que concordam e incentivam. A gente simplesmente vai e faz porque sabe que ninguém melhor que a gente conhece melhor a gente. E daí se atrapalharem, a gente ignora; se segurarem, a gente se solta; se destratarem, a gente segue e anda e realiza e na volta ainda volta sorrindo a certeza de quem se sabe forte porque se sabe gente que sente e não tem medo algum de sentir (e se conhecer).
Quanto ao aplauso, o mais importante é o nosso. Agradeçamos aos dos outros, mas desconfiemos. Não nos bastemos neles. Nem choremos a falta deles. Será muito melhor a certeza de que fizemos o que queríamos e de que vivemos o que desejamos.

Nenhum comentário: