sábado, 5 de junho de 2010

Contrapondo contrapontos


O que mais vem me preocupando é essa aparente postura de parcela do povo brasileiro que vem enxergando no presidente uma pessoa quase infalível. Essa parcela da população que tem se mostrado sempre pronta a defender todos os arroubos absolutistas de um presidente que na sua política populista cada vez mais “joga pra galera”.
Prova disso é o fato das políticas de Estado estarem se confundindo com a ideologia defendida pelos membros do governo.
É inadmissível que se queira pautar a política externa do país com base nessa ideologia ultrapassada de enfrentamento ao "imperialismo americano" onde – e desculpem-me os que não enxergam a falibilidade da "estratégia" do Chefe do Governo quando nas suas atribuições de Chefe de Estado – desde os primeiros momentos o governante brasileiro demonstra seu desprezo especial aos EUA. Ou não é um claro sinal de demarcação de posição os seus elogios e suas relações a Fidel, Chavez, Morales e agora essa lamentável aproximação com o presidente Mahmoud Ahmadinejad.
O Brasil tenta marcar sua posição atuando em flagrante oposição aos interesses da maior parte do G-8 mostrando-se e colocando-se como alternativa a um resto de mundo que não se sustenta e que, em nome da sua própria sobrevivência, não escolherá o Brasil em detrimento dos demais Estados realmente importantes.
A importância do Brasil está no tamanho de seu mercado consumidor e nas suas reservas naturais. Os confetes que se lançam sobre o presidente e sua política por terem aparecido na CNN um pouco mais de vezes do que o normal é a maior prova de que o brasileiro se contenta com pouco. Basta que se fale bem do Brasil e estaremos todos sorrindo satisfeitos. Ora, o mundo sabe disso. Sabe que bastará sempre dar ao Brasil alguma função e o Brasil manterá sua “significância” nos debates sérios. E daí vem a posição de país que discursa na abertura da Assembléia geral da ONU (mero prêmio de consolação por terem deixado o Brasil de fora do Conselho de Segurança, mesmo tendo sido um dos primeiros países a se aliarem aos aliados na Segunda Guerra Mundial).
É claro que os ânimos se exaltarão e daqui às eleições só tendem a piorar. O país divide-se entre os que apóiam esse governo cada vez mais absurdamente corrupto e populista e aqueles que desejam ver a corja do mensalão, dos sanguessugas e tantos outros devidamente desalojados do poder.
Aparentemente são vários os que querem que esse governo continue. Isso preocupa. Eles começam a mostrar suas unhas. Preparam-se para tomar de assalto o Brasil. Do populismo para o autoritarismo é um caminho que eles estão dispostos a traçar.
Espero que não sejam legitimados por nós mesmos.

2 comentários:

Elias Nunes disse...

Caro amigo William,
Sinto-me honrado com seu comentário e, registre-se, você está de parabéns por escrever de forma tão elegante. Logicamente eu discordo, em boa parte, do seu ponto de vista. Em que pese o texto retratar seu estilo, a fundamentação, aparentemente, tem um toque de Editora Abril, o que a meu ver é um tanto perigoso. Concordo que não me preocupei em disfarçar a defesa do presidente, porém os pontos que abordados ali mostram o que de fato tem ocorrido no nosso país. São mudanças substanciais, cujos resultados estão aí e são reconhecidos aqui e lá fora. Ao longo da história foram diversas análises, estratégias e busca de resultados que, em termos práticos, determinaram nossa “vida bela e digna”. Nem a reforma agrária ao estilo capitalista, que todos os países capitalistas avançados fizeram, os queridinhos da América deixaram a gente fazer. Este governo tem muitos erros (poderia citá-los e caberia uma outra discussão), mas tem tentado fazer diferente e os resultados, como disse, estão aí. De populista, este governo tem pouco. Tenta-se associar esse caráter a partir de programas ditos “assistencialistas” como Bolsa Família. Porém, diferentemente do que mostram os principais meios de comunicação, os resultados socioeconômicos de tal programa são bons e está em sintonia com teorias modernas de desenvolvimento econômico e social. A propósito, essa idéia que tentam passar de ”ideologia ultrapassada” da nossa esquerda, é algo que não corresponde aos fatos. Todas as teorias recentes de desenvolvimento buscam discutir exatamente essa questão, ou seja, o papel do mercado, do Estado e, ainda, de que maneira a idéia de capital social se posiciona nessa relação Estado versus Mercado. Some-se ainda a relação de todas essas discussões no campo sócioeconômico com o Direito, especialmente no que se refere aos direitos fundamentais. E aí, meu caro, desculpe, mas fica muito difícil definir os limites de atuação de um presidente nessa possível confusão entre política de Estado e política de Governo. Observe-se que praticamente todos os países que hoje gozam de melhor posição nos principais indicadores de desenvolvimento, chegaram a essas posições principalmente por ultrapassar tais delimitações, interna e externamente. Com relação à aproximação com Chaves, Fidel, Raul, Morales e Ahmadinejad, e o risco de o Brasil ser preterido, veja, não é exatamente como isso que o Brasil está preocupado; nem de longe o interesse do mundo pelo Brasil passa pelo simples potencial de mercado consumidor e detentor de recursos naturais; é bem mais que isso e a questão é mais complexa do que parece, e mereceria uma outra discussão. Concordo contigo que o Brasil, durante muito tempo, contentou-se com pouco. A diferença é que agora nosso posicionamento é outro e não nos contentamos com qualquer agrado. Mais uma vez, os resultados estão aí (poderia citar vários exemplos). Ainda bem, porque o FHC, com seu estilo bastante definido em termos de política de Estado e política de Governo, contentou-se com alguns prêmios de consolação e, por pouco, não entregou o país. Eu tenho um pouco de pena do Serra, pois é bem intencionado, e acho até que ganha a eleição. Mas, infelizmente, me parece um “estranho no ninho” tucano. Por fim, meu amigo William, parafraseando vossa ilustre pessoa, diria que em relação ao FHC poderíamos, sim, expressar: MAIS TANTAS DO FHC... AFF...rs.

William R Grilli Gama disse...

Elias, eu nem me atreveria a discutir aspectos macro-econômicos com você, tampouco me sinto apto a qualquer discussão que implique na análise desse reposicionamento do mercado. Aliás, prefiro ter em você um consultor sobre esses novos paradigmas.
Que fique bem claro que não tenho no FHC um ídolo. Mas entendo que se sua política neo-liberal se fez exagerada, em algum momento a redução dos gastos públicos se fez necessária para que os governos seguintes tivessem maior capacidade de negociação (financeiramente falando).
Enxergo no Serra justamente essa pessoa austera e bem intencionada. A mesma boa intenção que enxergava no presidente Lula, mas que, infelizmente, associou-se a pessoas menos bem intencionadas.

Em minha defesa, gostaria dizer que da Editora Abril não leio nem a Placar, quiçá a Veja da qua tenho grande antipatia.

E quando chamo o presidente de populista vou além da sua prática assistencialista. Basta notar a sua forma de trato com o povo. A simplicidade que faz questão de usar e se fazer entender... claro que associado ao pão e circo (mais pão do que circo) que se mostra nesses programas...

Mas é sempre um prazer ler teus textos e tuas ponderações...

Acho que me sinto um cruzado avido por ver o PT cair... rs